Ministério da Defesa Nacional compra aviões com mais de 37 anos de vida e descontinuados no mercado

DESTAQUE POLÍTICA
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  • Grupo Paramount é o fornecedor, apesar de ter chumbado no due dilligence
  • Aviões foram fabricados em 1987 e já cumpriram mais de 3 décadas recomendadas
  • Compra de aviões no fim da vida útil já se mostrou ineficaz devido as constantes avarias
  • Curiosamente, Moçambique já se desfez de dois Embreares por estarem “descontinuados”
  • O Grupo Paramount já foi chumbando antes por apregoar capacidade que não tinha

As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) adquiriram, recentemente, dois aviões de transporte remodelados ao grupo sul-africano Paramount, o mesmo que num passado recente, com o memorando de entendimento já assinado com a ProIndicus, teria sido chumbado por apregoar capacidade que não tinha, para além de não ter mostrado capacidade financeira para aquisição do equipamento. Das novas aquisições às FADM consta um Let-410 e um CN235M-10,  para o transporte de carga e tropas, bem como para o destacamento de forças especiais/pára-quedistas. As duas aeronaves apresentadas com pomba e circunstância, semana finda, foram compradas à luz de um acordo comercial que envolve outros equipamentos, estão descontinuadas no mercado há mais de uma década, num momento em que o Estado vinha mostrar compromissos de comprar equipamentos aéreos dentro de vida útil, a ponto de ter desmantelado e colocado para vender, a nível comercial, dois Embraers 190 da LAM que tinham pouco mais de 10 anos de vida, alegando, curiosamente, estarem “descontinuados”. Para o infortúnio do país, até hoje ninguém comprou.

Nelson Mucandze

As novas aeronaves adquiridas e apresentadas semana passada têm a nobre missão de garantir o reforço no campo militar, num momento em que estão a ser empreendidos esforços na luta contra os terroristas no Teatro Operacional Norte, contudo a qualidade do equipamento deixa muito a desejar, pelo facto de tratar-se de aviões recondicionados.

Não obstante por si só constituir um escândalo, agrava a situação o facto de o mesmo Estado que retirou de circulação, há três anos, dois aviões Embraer 190, fabricados em 2009, alegadamente porque estão descontinuados, hoje aparecer a comprar aviões com quase 40 anos de vida.

De acordo com um site sul africano especializado em assuntos de defesa, Evidências apurou que o CN235M-10 foi operado pela Força de Defesa do Botswana até 2011 (como OG1), depois de ser fabricado em 1987. Foi então vendido para a Rampart Aviation (N820CA), mas nunca entregue para a Força Aérea Togolesa (como 5V-MBM).

Em 2013, a propriedade mudou para Avcorp US Registations LLC/Fayard Enterprises (N124CL) antes de ser registado como ZS-SOO na África do Sul, em 2014. Entre 2019 e 2021 foi visto nas marcações da Força Aérea de Madagáscar. “Parece que as vendas togolesas e malgaxes caíram e a aeronave está agora em serviço das FADM”, lê-se na publicação denominada Defence Web.

A Paramount forneceu uma variedade de equipamentos para as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, incluindo veículos blindados Marauder e helicópteros Mi-8/17, Mi-24 e Gazelle.

Seis Marotos equipados com torres de metralhadora pesada foram vistos participando num desfile em Setembro de 2021 em Pemba, juntamente com um único helicóptero de ataque MI-24 (FA-117) e um helicóptero leve Gazelle. Os Marauders foram vistos pela primeira vez em Moçambique no fim de 2020, enquanto os helicópteros parecem ter sido entregues em 2021.

Vida útil de aeronaves é de 35 anos, segundo especialistas

Um entendido em matérias de aviação explicou ao Evidências que companheiras aéreas serias usam um avião por apenas 15 a 20 anos. “Mas a vida útil de aeronaves é de 35 cinco anos e depois deste período, dependente da frequência de viagens, sua manutenção torna-se insuportável”, disse a nossa fonte.

Um dos exemplos da ineficácia de uso de meios aéreos recondicionados e perto de fim da vida útil pode ser vista na aeronave executiva Bombardier, modelo Challenger 850, comprada em nome da LAM, para mercado doméstico, porém alocada ao Presidente da República, Filipe Nyusi, para viagens oficiais e não só, dentro e fora do país, que de vez em quando encontra-se “arrumada” devido a problemas mecânicos.

O uso de aeronaves fora da vida útil torna-se crítico num momento em que o Estado teria manifestado publicamente a vontade de se desfazer de meios aéreos, a nível comercial, que estavam “descontinuados”. Trata-se dos dois ambreares que vieram a tornar-se um fardo ao Estado, no caso a LAM.

Um fornecedor que já chumbou no due dilligence

O responsável por equipar a Forca Aérea Moçambicana é a sul-africana Paramount, que já vem treinando militares nacionais nas suas instalações de Treino Técnico em Polokwane, na África do Sul, desde 2021, altura em que terá fornecido para o país dois helicópteros Gazelle, retirados do armazém do exército britânico, onde estavam no lote de artigos obsoletos desde 2012.

Apesar de actuar no sector da defesa há sensivelmente duas décadas, sua actuação em Moçambique mostrava-se limitada, tendo conseguido penetrar nos últimos dois anos.

Antes disso, a empresa tinha celebrado um memorando de entendimento com a ProIndicus, mas não chegou a fornecer equipamentos porque não passou no due dilligence. Uma fonte explicou ao Evidências que a Paramount não tinha capacidade que apregoava e nem tinha alavancagem financeira para o efeito. “Queria que a ProIndicus pagasse para ele ir buscar os equipamentos que se pretendiam”, revelou, ilustrando a incapacidade da empresa.

Um modelo de parceria que pode ter vincado no fornecimento deste novo equipamento, que inclui duas aeronaves, Let L – 410 e CN235M -10, com capacidade para 19 e 30 pessoas, respectivamente.

De acordo com o Comandante da Força Aérea, major-general Cândido Tirano, que anunciou a boa nova, para além de fornecimento de meios aéreos, Paramount deverá garantir a manutenção dos meios vistos como “obsoletos” nos meios críticos dentro da defesa.

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