Um outro erro de cálculo

EDITORIAL

A propósito da reunião, semana passada, do Presidente da Renamo, Ossufo Momade, com os 16 partidos extraparlamentares, há algumas notas de relevo para ilustrar que apesar da nobreza da intenção, a estratégia foi mal concebida, o que reduz para zero as chances do sucesso, contribuindo, mais uma vez, para percepção de uma oposição ao serviço da Frelimo, num momento em que o eleitorado busca alternativas para equilíbrio de poder e retorno (se é que um dia já fomos democráticos) à democracia.

Há sensivelmente quatro anos, quando o país estava à porta das eleições autárquicas e depois gerais, no meio de forte crítica à Frelimo por força das dívidas ocultas e outros desastres de gestão, havia narrativas que colocavam como certa a meia derrota da Frelimo ou pela menos uma vitória apertada. Mas o resultado foi inversamente proporcional à previsão, não só pela fraude protagonizada, mas pela falta de seriedade e estratégia da própria oposição, que se mostrou desorganizada, auto-traidora e incapaz de se apresentar como alternativa. As evidências da fraude vieram apenas servir de álibi para a oposição se encolher e, acovardada, se consolar no pensamento de que não teve culpa pela derrota.

Ciente da sua impopularidade, a Frelimo esteve implacável em tudo fazer para sobreviver. E neste percurso conseguiu infiltrar-se na oposição, principalmente a parlamentar, tornando esta pior do que ela, mas mesmo assim os moçambicanos foram às urnas para depositar à oposição um voto de contraposição, que infelizmente não foi capitalizado nem pela Renamo e nem MDM, que viram seus assentos reduzir na Assembleia da República e não conseguiram governar qualquer província. Configurando-se, assim, na pior derrota da Renamo.

Confirmou-se a vitória, mas, nesse intervalo, a Frelimo não compensou a confiança e nem a fraude, e muito menos buscou simpatia dos mentores da sua vitória. Esses mentores são, maioritariamente, os professores, que são os inimigos declarados do actual consulado. Eles não estão só, estão juntos com outros milhares de funcionários que são o activo indispensável da Frelimo para garantir a sua vitória, seja ela justa ou não. E, enquanto reivindicam os seus direitos, as lideranças dos seus sindicatos são cooptadas para não dar eco ao descontentamento, acabando por dividir as suas sindicâncias, como bem se viu nos professores.

A oposição parlamentar não tirou nenhum proveito dessa impopularidade da Frelimo. E semana passada, sem qualquer estratégia que mostrasse a seriedade de intenção de coligação, a Renamo indicou a dedos alguns partidos, sem qualquer expressão, para discutir a unidade da oposição. Foi o primeiro encontro, que não envolveu qualquer lobby à porta fechada, muito menos o envolvimento de partidos expressivos, e a imprensa já foi chamada e a intenção precipitadamente anunciada.

Sem contar que alguns convidados foram chamados por via de outros convidados, o que veio deixar transparecer a falta de seriedade da ideia, que mostrar-se-ia inovadora e interessante se concebida de forma séria e madura. Mas, como trata-se de oposição, com permissão da posição, não se pode criar expectativas.

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