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- General Hama Thai dá uma machadada final à propalada vez do Centro
- Hama Thai resgata Estatutos da Frelimo para colocar travão no regionalismo
- “São percepções que algumas pessoas têm”
Gorada a possibilidade do terceiro mandato para Filipe Jacinto Nyusi, uma vez que a ideia encontrou opositores dentro da própria Frelimo e algumas forças vivas da sociedade civil, cresce de tom o debate sobre a possibilidade do sucessor do jovem do planalto dos macondes ser do Centro do País, naquela que é chamada de “vez do Centro”. No entanto, o veterano da luta de libertação nacional e respeitado general, António Hama Thai, defende que em nenhum momento os estatutos da Frelimo preveem uma sucessão com base regional e diz não haver candidatos do Centro, Sul ou Norte.
Duarte Sitoe
Numa altura em que já rolam alguns nomes de prováveis sucessores de Filipe Nyusi, alguns dos quais já tem montados, inclusive, gabinetes de campanha, uma das principais dúvidas continua a ser se será desta que o poder se deslocará para o Centro do País ou não, depois de ter estado longamente no Sul e agora no Norte, concretamente nas mãos da ala maconde.
No entanto, o veterano da Luta de Libertação Nacional, académico e destemido general, António Hama Thai, uma voz com autoridade no partido Frelimo, acaba de dissipar qualquer equívoco sobre a propalada vez do Centro.
Segundo Hama Thai, que respondia a uma pergunta do Evidências, na praça dos heróis, à margem das celebrações do dia dos heróis moçambicanos, a vez do Centro não existe, pois não há uma linha sequer nos Estatutos do partido Frelimo que preconiza a eleição de um candidato com base na sua região.
“O que posso dizer é que essas são as percepções que as pessoas têm”, começou por dizer Hama Thai, para depois acrescentar que “em nenhum momento, nos Estatutos está estabelecido que há candidato de Sul ou Centro. O critério para ser membro da Frelimo é aderir aos Estatutos. São as pessoas que têm essas percepções. Eu não tenho essa percepção, continuo a ter ideia de que é eleito presidente de Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico, não porque nasceu no lugar A ou B. Esta é a minha convicção”.
O general e académico bastante respeitado nas hostes do partido no poder vai mais longe ao enumerar aqueles que são os requisitos pré-estabelecidos nos Estatutos do partido.
“Quando um cidadão se candidata a membro da Frelimo sabe quais são os requisitos, ser cidadão moçambicano, aceitar o programa e os Estatutos da Frelimo. Estas são as condições para ser membro do partido, porque a ideia é que os Estatutos estabelecem a unidade nacional. Portanto, não existe vez do Centro. Nos Estatutos da Frelimo não há sucessão por regiões”, defende.
Defensor ferrenho dos ideais de Eduardo Mondlane e Samora Machel, sobre quem inclusive já exteriorizou a admiração em livros, Hama Thai entende que, apesar da prevalência do terrorismo em Cabo Delgado e a aparente tensão que se vive no seio do partido no poder, o legado de Eduardo Mondlane ainda está presente e que o terrorismo não é resultado da ausência da unidade nacional.
“O que posso dizer é que este legado está presente. Este legado chama a responsabilidade de todos nós e que a unidade nacional sempre foi e continua a pedra angular. O conflito em Cabo Delgado não tem como causa o elemento unidade nacional, tem outros elementos que ainda não estão completamente claros. Os distintos focos de insatisfação concorrem e podem ter dado azo ao desenvolvimento do terrorismo. Portanto, não é uma ligação causa-efeito daquilo que se passa nos dias de hoje, porque acredito que todos nós estamos a lutar em prol da unidade nacional e da paz”, destacou.
Chissano evita abrir ferridas e prefere falar de unidade nacional
Longe de querer imiscuir-se no debate sobre a transição regional do poder, o antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano disse apenas que o partido tem lutado no sentido de preservar a unidade nacional, uma vez que durante a luta que culminou com a proclamação da independência nacional construiu-se a identidade dos moçambicanos de Rovuma ao Maputo, tendo igualmente referido que Moçambique tem a paz com progenitora da unidade nacional.
“Foi um sucesso combate a luta contra o tribalismo, contra o etnicismo e regionalismo, isso não foi uma pequena vitória porque posso dizer que Moçambique teve um processoalguns países não conseguiram em tão pouco tempo, que é criar uma nação. Quando a gente fala da unidade nacional significa que todo moçambicano tem uma identidade. Temos a paz como o pai e a mãe desta unidade, desta determinação de lutar para que a nossa nação permaneça uma nação”, declarou em parcas palavras, evitando entrar num debate fracturante numa semana em que viu uma contribuição sua a ser rotulada de ridícula.
Uma machadada à vez do Centro?
Fundada na base da união entre três antigos movimentos (MANU, UDENAMU e UNAMI), as questões étnicas, tribais e regionais sempre acompanharam a Frelimo ao longo dos anos e gerações. Depois dentre 1975 e 2014, o partido ter sido liderado por homens da zona Sul, ou seja, Samora Machel (11 anos), Joaquim Chissano (18 anos) e Armando Guebuza (10), de forma tímida, o Norte e Centro reivindicavam oportunidades para dirigir os destinos do partido e consequentemente do País.
A longa espera terminou em 2014 quando, contra todas expectativas, Filipe Nyusi, sobrinho de Alberto Chipande e ex-ministro da Defesa no último mandato de Armando Guebuza, foi confirmado candidato do partido, tendo sido mais tarde eleito o quarto Presidente da República de Moçambique.
Por Nyusi, o Norte teve finalmente a oportunidade de dirigir os destinos do País e do partido. Entretanto, tudo aponta que a vez Norte já está com os dias contados, uma vez que a ideia do terceiro mandato, que vem sendo ensaiada, não reúne consenso no seio dos militantes do partido, sobretudo, os da ala Sul que, nos últimos 8 anos, viram-se relegados para o segundo plano.
Antes mesmo do término do mandato do Presidente Nyusi, há já alguns membros conhecidos do Centro do País que desfilam entre os potenciais candidatos à sucessão. Alguns já tem até montados gabinetes de candidatos.
Contudo, as declarações do general Hama Thai podem colocar tudo por água abaixo, ou seja, reabrem um debate por muito tempo retardado sobre a base que sustenta a referida vez do Centro, mas mais do que isso, cria uma expectativa sobre a reação dos militantes desta região do País que já estavam preparados para assumir o poder.

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