Não há rosto que confirma a apreensão dos 70 milhões de meticais na Casa das Loiças

POLÍTICA
  • Nem SERNIC, nem AT, nem MP querem falar do assunto
  • Todos apontam que a apreensão foi encabeçada pela Autoridade Tributária

 

Contrariando a habitual busca pelo protagonismo sempre que há apreensão de bens adquiridos ilegalmente, desta vez nenhuma instituição assume ter encabeçado a apreensão de mais de 70 milhões de meticais na Casa da Loiça, por causa de uma suposta prática de câmbio ilegal. O que existe é uma troca de acusações entre as instituições que dizem ter acompanhado o processo, mas a Autoridade Tributária, a quem todos apontam o dedo como quem terá encabeçado o processo, fechou-se em copas. Aliás, quadros do Gabinete de Comunicação e Imagem daquela instituição que sempre foram solícitos, quando confrontados sobre o paradeiro do dinheiro, dizem estar a averiguar e depois a montanha pariu rato.

 

Evidências / Carta

 

A mensagem que dava conta da apreensão dos 70 milhões de meticais, com uma foto que ilustrava somas de dinheiro em cima de uma secretaria, com a legenda de que “a Autoridade Tributária apreendeu 70 milhões por prática de cambio ilegal”, começou a circular na terça-feira.

 

Habitualmente, até a imprensa é chamada para testemunhar a actuação “activa” das instituições que buscam impor ordem e legalidade nas instituições, mas desta vez não aconteceu e, para surpresa de todos, ninguém quer assumir a autoria da operação, e com alguma estranheza não é conhecido, neste momento, o paradeiro daquele valor avaliado em mais de um milhão de dólares norte-americanos.

 

Segundo relatos de fontes que vivenciaram o momento, um grupo de homens armados terá se deslocado no início da tarde, por volta das 12:00 horas desta terça-feira.

 

O diário Carta especifica que eram cerca “de 20 homens armados” que não “apresentaram nenhum documento de busca e apreensão. Comunicaram oralmente que eram da Polícia, da Inspecção Geral das Actividades Económicas e da Autoridade Tributária. Vasculharam o recinto a pente fino”.

 

O Evidências fez uma triangulação entre as instituições envolvidas e estas enveredaram por um ping pong sem precedentes. Nenhuma delas assume ter encabeçado esta operação e se remete ao silêncio, preferem apontar os dedos uns aos outros.

 

As actividades das equipas multi-sectorial, composta pela Autoridade Tributária de Moçambique, Inspecção Nacional de Actividades Económicas e Serviço Nacional de Investigação Criminal, tem sido regular e acompanhada pela imprensa ou briefing à jornalistas. Em outras palavras, são as instituições que têm corrido atrás do protagonismo, partilhando informações sobre as operações, sem que haja qualquer pressão, como bem se assistiu nas recentes apreensões de seis milhões de meticais numa loja de telefone.

 

No entanto, contrariando o habitual, não há quem queira falar sobre o assunto. Quando contactado pelo Evidências, apesar da disponibilidade manifestada num primeiro momento, o seu porta-voz das Alfândegas não mais retornou com os elementos solicitados.

 

Contactado pelo nosso jornal para apurar em que circunstâncias o SERNIC participou daquela operação, o porta-voz da instituição, Leonardo Simbine, disse que a entidade indicada para falar do assunto é a Autoridade Tributária, pois os agentes só estiveram no local a acompanhar uma brigada das alfândegas.

 

Estas declarações sugerem que o SERNIC esteve no local e está a par da operação, mas remete tudo para a Autoridade Tributária, que estranhamente diz não ter nenhuma informação do assunto, abrindo uma incógnita sobre o paradeiro de tão avultadas somas em dinheiro.

 

Há indicações de que até o Ministério Público esteve a par desta operação, que é normal em casos de diligências processuais, no entanto, questionada sobre a informação uma fonte da PGR disse que ia averiguar e retornar com mais elementos, o que não foi possível até ao fecho desta edição.

 

Uma fonte citada pelo jornal a Carta indica que a Casa das Loiças “não desenvolve outro tipo de negócios para além do que é conhecido”, assegurando, mais adiante, que a circulação de imagens do alegado confisco nas redes sociais visou denegrir o estabelecimento. Na referida operação, os advogados da loja também não foram tidos nem achados.

 

Uma das narrativas que está sendo plantada é a de um alegado envolvimento da família da “Casa das Loiças” nos raptos. Uma fonte da comunidade Mahometana disse que essa suposição era bizarra, pois a família tem sido uma das vítimas do fenómeno.

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