- Super – ministro do Governo de Nyusi jura de pés juntos que não lançou programa “Fome Zero”
- “Estamos a projectar um país de miséria para mobilizar recursos e…”
À margem de encontro que manteve com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Qu Dongyu, com pompa e circunstância, o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, garantiu que 90% dos moçambicanos consegue ter três refeições por dia. Entretanto, o Fundo para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) referiu que as declarações de Correia, para além controversas e desconcertantes, contrastam com a realidade vivida por milhões de moçambicanos, tendo por isso exigido um esclarecimento aos moçambicanos sobre os dados apresentados pelo titular do pelouro da Agricultura e Desenvolvimento Rural. No contra – ataque, Correia disse que a FDC pretende projectar um país de miséria para mobilizar recursos, tendo por outro lado mostrado a sua indisponibilidade “para perpetuar a indústria da fome e da pobreza”.
Texto: Duarte Sitoe
Recentemente, o titular do pelouro Agricultura e Desenvolvimento Rural colocou o país em ebulição quando referiu que 90% dos moçambicanos consegue ter três refeições por dia. Várias organizações da sociedade, com destaque para o Fundo para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), tendo o actual cenário social e econômico do país com escudo, criticaram os dados tornados públicos por Celso Correia.
Para rebater a informação partilhada pelo ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, a organização dirigida por Graça Machel apoia-se nos dados do Programa Mundial de Alimentação que estimam que 80% dos moçambicanos não consegue ter uma dieta alimentar adequada e 42,3% das crianças menores de cinco anos estão desnutridas, tendo também citado um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicado em 2021 que concluiu que mais de 70% da população moçambicana vive em situação de vulnerabilidade.
O ministro da Agricultura e Desenvolvimento viu a cerimônia da Divulgação dos Resultados da Avaliação da Segurança Alimentar Pós Colheita 2022 como uma soberana oportunidade para rebater as críticas da FDC.
Falando à margem daquele evento, Celso Correia, para além de observar que aquela organização da Sociedade Civil fez uma crítica técnica e juízo do valor, tendo avançado que a mesma equivocou-se quando falou dos dados da desnutrição crônica, uma vez que falou de 42,3 ao invés dos 38%, tornados públicos pela IOF, refere que a FDC comparou dados da pobreza e dados alimentares.
“É muito difícil comparar. Não aconselhamos a comprar dados da pobreza e dados alimentares. Não quero dizer que não tenha ligação, mas, por exemplo, no estudo de 2013 em Moçambique tínhamos indicação de 23% da população que estava em segurança alimentar crônica, mas os dados da pobreza indicavam 53 ou 54% da pobreza e depois não descreve que tipo de pobreza que está a falar porque existe pobreza alimentar que é esta que estamos a falar, existe pobreza de rendimento e existe pobreza multidimensional e cada pobreza tem a sua definição”, explicou.
O Fundo para o Desenvolvimento da Comunidade apoiou-se nos dados avançados pela IOF 2019/20, que apontam que o grosso dos moçambicanos gasta cerca de 56,5 meticais por dia, e na situação do terrorismo na província de Cabo Delgado para concluir que é impossível 90% dos moçambicanos conseguir três refeições por dia. O super – ministro do Governo de Filipe Nyusi justificou que o grosso dos moçambicanos consome o que produz e jurou de pês juntos que nunca lançou um programa denominado “Fome Zero.
“A maior parte da população não usa rendimento para se alimentar, usa o que produz. Em Moçambique pelo menos o meu ministro de tutela não lançou nenhum programa Fome Zero. A Fome Zero é um indicador da ODS. Portanto, os programas que nós lançamos, lançamos um plano estratégico e temos um programa de integração da agricultura familiar e cadeias de valor, não tem nenhum programa denominado Fome Zero”.
“Estamos a projectar um país de miséria para mobilizar recursos e …”
Ainda no contra – ataque, o governante acusou a FDC de vender “uma narrativa de que provavelmente que o ministro não tem sensibilidade dos problemas reais do país e que está indiferente ao sofrimento que das pessoas”, tendo igualmente considerado que a mesma induziu um debate que criou alguns problemas.
Numa outra abordagem, o ministro da Agricultura de Desenvolvimento referiu que as organizações da sociedade estão a par dos programas que estão a ser implementados no sector da agriculta, advertindo que Moçambique não pode continuar a ser laboratório de experiências.
“O acontece é Quando acabamos recursos as famílias voltam para a situação da pobreza, viramos um país de laboratório de experiências. Nós estamos a trabalhar com FAO e com os parceiros para mudar isso. Um produtor pelo menos em Moçambique terá uma seca, uma cheia, vai ter uma praga, vai ter uma quebra de preços e nós precisamos de ciclos de sete anos para dar assistência e capacitar os produtores. Está é a primeira mudança, não podemos continuar a ser um laboratório de experiências em que cada organização que chega a Moçambique vai directo ao produtor e quando chega lá oferece semente e depois é capaz de produtor ter duas fontes de semente e estamos a viciar a sociedade para soluções que depois de quatro anos vão se embora, isto tem ade cabar”.
“Morre-se de fome no nosso país”, assim escreveu o Fundo para o Desenvolvimento da Comunicado. Correia entende que a FDC pretende projectar um país de miséria e aproveitou a ocasião para criticar o modus operandi das organizações da sociedade civil, tendo adianto que não está disponível para promover a indústria da pobreza e da miséria.
“Estamos a projectar um país de miséria para mobilizar recursos e depois o custo da administração 30% no gabinete e depois não chega as tais pessoas. Em Moçambique morre-se de fome, somos um povo miserável é assim que está a funcionar. Bilhões de dólares para ciclos de apoio e depois não tem sequência, é dar alimento e depois não sabemos com a família fica. Não contem comigo para perpetuar a indústria da pobreza e da miséria”.
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