Depois de falhar terceiro mandato quer manter-se no poder através da presidência do partido

DESTAQUE POLÍTICA
  • Nyusi tem um plano maquiavélico para proteger acordo com Kagame e outros interesses
  • O plano é “capturar” e controlar o candidato para manter-se Presidente do partido
  • Não aprendeu com queda de Guebuza e também quer testar profundidade do rio com os dois pés
  • Camaradas decididos a contrariar e confrontar Nyusi a partir deste Comité Central

Definitivamente o Presidente da República, Filipe Nyusi, ainda não está preparado para deixar o poder e nem suficientemente convencido que “acabou”. Depois de todas tentativas fracassadas de encontrar uma brecha para alterar o texto da Constituição da República para conseguir um terceiro mandato, Nyusi tem, agora, em manga um audacioso plano para manter-se no poder. Para tal, pretende testar a profundidade de rio com os dois pés, tal como tentou Guebuza, ou seja, tentar forçar a sua continuidade como Presidente do partido, um debate que, de resto, tem estado a ser introduzido por alguns sectores que defendem que o Presidente da República não deve exercer funções privadas. No entanto, a ideia está a ter uma forte oposição dentro da Frelimo, havendo já grupos preparados para rechaçar a ideia, tendo em vista permitir que Filipe Nyusi continue no poder como “chefe” de Daniel Chapo (caso seja eleito PR), tão somente para proteger seus interesses, sobretudo os seus acordos ocultos com o Ruanda.

Parecia pura bajulação quando, insistentemente, o secretário-geral da OJM, Silva Livone, insistia que o braço juvenil da Frelimo endossava mais cinco anos a Filipe Nyusi como Presidente do partido. No entanto, não passava dos primeiros ensaios para se introduzir um debate que agora vem ganhando algum espaço nos corredores da Frelimo.

Trata-se de um plano da ala actualmente no poder, que após falhar a tentativa de um terceiro mandato busca por uma estratégia de sobrevivência que passaria por forçar a continuidade de Filipe Nyusi como Presidente do partido, mesmo se porventura Daniel Chapo for eleito Presidente da Frelimo.

A efectivar-se o plano, seria um rompimento com a história do partido Frelimo, pois os Presidentes da República eleitos pela Frelimo exercem simultaneamente a função de presidente do partido. E, Filipe Nyusi, seria o primeiro a conseguir um feito que outros presidentes tentaram, mas acabaram não sobrevivendo à uma forte oposição interna.

O último a tentar manter-se presidente do partido depois de deixar o poder foi Armando Guebuza, que acabou renunciando ao cargo dois meses após Nyusi assumir o poder, numa altura em que vinha sofrendo pressão da sociedade, alegadamente porque havia se criado uma bicefalia no poder. Alias, foi o próprio Nyusi a dar este golpe ao seu antecessor, ao anunciar, em sessão do Comité Central, estar pronto para presidir o partido, numa alusão de quem estava a enfrentar dificuldades para exercer aquele cargo.

Segundo alguns corredores, com lições apreendidas da “queda” de Guebuza, Filipe Nyusi e seu grupo pretendem a ditadura da Comissão Política, que actualmente controla o partido, para que no primeiro Comité Central, após as eleições, possam forçar para que se aprove uma bicefalia do poder, permitindo, assim, que Nyusi continue presidente do partido, enquanto Chapo ficaria Presidente da República, directamente comandado pelo Presidente do partido e uma comissão política feita à sua imagem.

A ideia é, na verdade, aproveitar um vazio que existe nos próprios estatutos da Frelimo e propositadamente mantido no último Congresso. É que os estatutos não impõem que o Presidente da República seja simultaneamente presidente do partido e ambas figuras são tratadas de forma distinta.

Aliás, pelos estatutos, Filipe Nyusi está a cumprir um mandato (terceiro) válido até à realização do próximo Congresso, que em princípio deve realizar-se em 2026. No entanto, teme-se que a sua continuidade possa fazer sombra a Daniel Chapo, caso seja eleito Presidente da República, a 09 de Outubro.

O que realmente está em jogo?

Embora ainda faltem cerca de oito meses para a tomada de posse do novo governo, a questão da probabilidade de uma bipolarização do poder mexe com a cabeça da maioria dos camaradas que já estão a afiar as lâminas para frustrar qualquer tentativa de Filipe Nyusi de se manter no poder.

Uma fonte sénior do partido confirma a existência de um debate ainda que em surdina sobre uma provável manutenção de Nyusi no poder por via do partido, mas lembra que o Comité Central de Maio passado e as notícias internas recentes mostraram que Filipe Nyusi já não tem poder ilimitado à frente do partido.

A fonte lembra que inicialmente o plano de Nyusi era colocar Roque Silva, a quem desesperadamente tentou impor ao Comité Central durante longos quatro dias, mas a estratégia acabou fracassando, naquela que foi a primeira afronta à sua liderança. A segunda afronta viria a se registar quando camaradas na Zambézia e Gaza se recusaram a aceitar a imposição de candidatos únicos.

Por essa razão, os camaradas acreditam que qualquer pretensão de Filipe Nyusi de continuar no poder depois de Janeiro de 2015 está condenada ao fracasso e seria um enorme erro de cálculo tentar insistir nesse plano.

Refira-se que a pretensão de Filipe Nyusi de manter-se no poder ou ter alguém que lhe seja leal após deixar o poder justifica-se com o desespero para proteger os seus interesses no período depois de deixar o poder.

A cooperação com o Ruanda tem sido polémica por ser baseada em acordos muitos deles ocultos. Um dos maiores receios de Nyusi é ver escrutinados os acordos que tem com Paul Kagame, que viabilizaram a vinda das tropas ruandesas, num processo pouco transparente e com contornos ocultos.

Mas também tenta proteger-se dos seus camaradas, pois durante o seu ciclo de governação criou um exército de descontentes internos por causa da forma como conduziu alguns dossiers.

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