Felisberto Botão
Na semana ante passada falei um pouco sobre a Paulina Chiziane, a incompreensão da sociedade sobre e genuinidade dela, e a necessidade urgente que temos em entender a essência da nossa vida espiritual, que aliás, governa a nossa vida no mundo físico. A ignorância ou negligência sobre a realidade espiritual das nossas vidas tem acumulado problemas estruturais na nossa sociedade, o que perpectua a pobreza, reduz a expectativa de vida e aumenta a mortalidade juvenil.
Esta é uma das vergonhas do nosso povo, que zomba de si mesmo, e enaltece o modelo social daquele que humilhou e massacrou seu avô, e o mantém na condição de escravo até os dias de hoje. Esta condição abre espaço para muito oportunismo e aproveitamento, mesmo entre nós irmãos.
Este é o caso da dimensão muito importante a perceber, e geralmente contornado, que é o ataque espiritual, cada vez mais generalizado na nossa sociedade, e frequentemente executado por nós, e direcionado a nossos semelhantes. A nossa sociedade está a gastar muita energia e recursos para conseguir que o “outro” não tenha sucesso, mesmo que isso signifique atrasar a sua própria vida. E hoje quero explorar um pouco deste fenómeno no mundo empresarial.
Eu quero insistir com isso, para que você não se esqueça. O dano causado na sua vida, resultado de séculos de escravidão e colonialismo ainda é muito forte, e permanece na memória da sua carne e do seu espirito, e é transmissível para os seus descendentes. Essa memória afecta a sua condição cognitiva e emocional, a ponto de formular os problemas de forma desestruturada e lutar lutas que não deviam ser, em que o vencedor nunca é você, e nem o seu semelhante.
O feitiço é um poder real, e muito presente no mundo empresarial, a ponto de estar no centro do desempenho da nossa economia, tal é a importância deste factor, que, entretanto, não aparece como uma variável na equação do desempenho económico empresarial. A condição cognitiva e emocional a que me referi acima impede que você reaja a esta realidade com frontalidade, pelo contrario, você entra em negação. Enquanto isso, é o seu colaborador que investe seu próprio salário de meses para pagar feitiço para si; o seu irmão que não concorda com a sua sorte e paga feitiço para si; o que pode acontecer também com o seu vizinho, com o seu amigo de infância, que tinha melhores condições que suas na infância, com o seu concorrente. Enfim, invoca-se negativamente um poder ancestral africano, o feitiço, que devia ser usado para o bem, mas devido a crescente inveja, ódio e egoísmo, porque processamos mal os problemas, e alimentamos sentimentos de raiva infundada, acaba sendo usado para bloquear o negócio da empresa e ao empresário, comprometendo o crescimento de toda uma sociedade.
A forma como lidamos com a prosperidade, com a propriedade e o controlo, determinam este comportamento do nosso profissional, e sociedade no geral. Quando o profissional está sob efeito de complexos, de desmerecimento e de inferioridade, ele não acredita nas possibilidades e no ganho por merecimento, pois se sente estranho na sua própria terra, onde quem tem prosperidade, propriedade e controlo é sempre alguém que não é da sua terra, e nem da sua cor. Desta forma, ele busca usar artimanhas e aproveitamento para tudo, e quando lhes dá a posição de autonomia, geralmente se vê impelido a envolver-se em esquemas de fraudes e roubos, em prejuízo da empresa.
Já trouxe aqui a discussão do conceito do mecanismo de defesa de “deslocamento”, de acções de um alvo desejado para um alvo substituto, quando o primeiro alvo não é acessível. Nesta perspectiva, o pressuposto é que a maioria dos africanos carrega a dor da escravatura e da colonização no fundo do seu ser, e isso acumula energias negativas dentro de si, que precisam ser libertadas.
Toda tentativa que o africano tem feito para tirar o branco do seu caminho, de forma sistematizada ou isolada, redundam no fracasso, porque todo sistema internacional, incluindo os governos africanos, foi desenhado pelo branco para defender seus interesses. O que acontece? O africano, não podendo alcançar o branco, que no seu subconsciente sabe que é a causa dos seus problemas, ele vai descarregar a energia no alvo acessível que ele tem, que é o seu irmão preto, e para isso, vários motivos são invocados, que não passam de uma justificativa.
Assim, assistimos a genocídios, a xenofobia, massacres e decapitações, insurgências, violência pós-eleitoral, perseguições institucionais e singulares, extorsão ao semelhante, dentro e fora do continente, intrigas e disputas familiares, até mortes, enfim, são vários exemplos de descarga de energia que assistimos ao longo dos anos um pouco pela África e na diáspora, que quando buscamos razões plausíveis para os mesmos, na lógica comum, não achamos.
É aí que se desenvolve na sociedade aquilo que vamos chamar de “profissional marranza”, ditractores das PMEs, que nos últimos tempos está a tornar-se uma comunidade, que vai desenvolvendo técnicas e práticas, incluindo as espirituais, e um conhecimento profundo da lei do trabalho, e usam as fragilidades desta a seu favor contra as empresas PMEs, nomeadamente na caça de indemnizações. O profissional marranza assume a PME como parte do sistema do grande capital, e ataca-a ferozmente, e não percebe que está a matar um companheiro de luta, a quem deve dar as mãos para imporem mudanças juntos.
Para isso, usam do poder do feitiço para tirar energia dos colegas, para tirar interesse do patrão com relação ao negócio, para roubar e fazer o patrão não pedir contas, para destruir bens da empresa e até interferir negativamente nas relações da empresa com clientes, parceiros, fornecedores e seus próprios colaboradores.
Regra geral, preste atenção a trabalhadores que argumentam por tudo e por nada, que gostam de trazer notícias negativas, que quando vão a um departamento, começam a surgir problemas estranhos e inexplicáveis naquela área, que são muito proactivos, mas suas sugestões nunca dão em nada, ou resultam num problema, que ele rapidamente responsabiliza a uma outra pessoa.
Estes, quando alcançam o seu objectivo, criam problemas para serem despedidos, ou se despedem por justa causa, e lhe tiram o dinheiro da indemnização.
O condicionamento das mentes do nosso profissional está a empobrecer a sociedade, e a maioria se quer tem consciência do impacto da sua postura, num âmbito mais global, pois são muito centrados na sua pessoa e naquela que pretendem atacar. Este comportamento está a tornar-se cultura, e uma imagem do profissional moçambicano, o que é uma vergonha para a raça, pois perante outros grupos raciais, você aparece com esta imagem de retardador da produção, até que você prove o contrário.
Portanto, colectivamente interessa a nós todos mudar esta situação, pois isso não é bom para ninguém, mas isso só será possível com o crescimento da consciência da existência deste problema.
O seu comentário e contribuição serão bem-vindos. Obrigado pelo seu suporte ao movimento SER ESPIRITUAL https://web.facebook.com/serespiritual.mz/
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