Mortes, acordos, diálogo, tudo rumo à legitimidade de exercício

EDITORIAL

Já não é sobre fraude. Isso já esquecemos e aceitámos o facto de que o poder está e continua nas mãos da Frelimo. E desde que o Conselho Constitucional proclamou Chapo e Frelimo como vencedores, o poder destes passou a ser legítimo, e tudo o que daí advier, fracasso ou sucesso governativo, passa a ser da exclusiva responsabilidade do Governo de Daniel Chapo. Outras interpretações sobres os culpados, aquelas que isentam o Governo de responsabilidades, a teremos como mais uma opinião, todos têm direito a ela, e, se tiver cunho político, vamos a ter como uma outra tentativa de manipulação da opinião pública.

Longe das feridas do passado; o exercício político é uma actividade competitiva com o objetivo de governar. Geralmente, o poder é legítimo quando é obtido por uma forma legítima de aquisição, mas a história mostra que pode ainda ser legitimado no seu exercício, como se pode ver na Burquina Faso, que apesar de ser efeito de um golpe do Estado, tem a necessária aceitação das massas por ter no seu Presidente um figura que se mostra tolerante, consensual e com políticas benéficas para todos no país. Entende-se, aqui, que apesar de a política ter na divisão de candidatos ou grupos uma das suas caraterísticas para conquistar o poder, é na união, após a competição, onde encontramos a sua efectiva legitimidade. É no exercício do seu governo, onde nos curamos das feridas, vemos renovado o compromisso de reconstrução ou nos rebelamos. Sabemos o que nos custou a crise pós-eleitoral e o quanto é profunda a ferida que clama pela cura, do desemprego aos filhos que ficaram órfãos até às esposas que ficaram viúvas.

Mas Moçambique é maior que as diferenças de grupos. E enquadramos nesse quadro de acções o recente encontro entre o Presidente da República, Daniel Francisco, e o segundo candidato mais votado, Venâncio Mondlane, que abre uma nova página na história da nossa jovem democracia e renova as esperanças do fim do caos que, fora de prejuízos mensuráveis, como aquelas de natureza económica, colocou-nos à beira de uma anarquia, tentou somalizar-nos. Foi muita destruição, muitas mortes e famílias que ficaram desastrosamente destruídas. Não poderemos esquecer.

O sucesso de um diálogo genuíno, com propósitos claros e longe de motivações políticas como aquelas de fugir dos processos judiciais e no outro, formas de legitimar-se no poder, pode constituir-se num alento, um acolhimento e reconhecimento de que apesar de recursos a meios violentos para reivindicação de mudança social, as motivações eram justas. É esse reconhecimento que pode conduzir o Governo de Chapo, manchado logo no parto, à legitimidade de exercício, que não fará questionar sobre a ilegitimidade dos meios de aquisição do poder.

Que esses esforços de diálogo se harmonizem com medidas que deixam claras as intenções de ter um País realmente unificado, como, por exemplo, políticas inclusivas, porque a primeira medida que orientou a construção do Governo ignorou esse detalhe, atendeu mais a agenda de grupos e não conseguiu fazer com que todos os moçambicanos se identificassem no Governo, aumentando o abismo entre os representantes do poder e os governados. É preciso corrigir, não há legitimidade do exercício enquanto há abismo, e não há acordos que resistem sem o suporte das massas.

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