Dirigentes proibidos de lamentar

OPINIÃO
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Alexandre Chiure

Há figuras na arena política do país que, pelos cargos que exercem, estão proibidas de usar o pódio, em qualquer que seja o lugar ou circunstância, para fazer lamentações. Elas são chamadas a comportar-se como dirigentes de quem se espera decisões. Deixem que seja o povo a lamentar.

Uma dessas figuras é o Presidente da República. Ele pode condenar algo negativo. Não há problema. Fez bem em elaborar um comunicado a condenar a tentativa de assassinato do DJ Trufafa em Quelimane, homem de confiança de Venâncio Mondlane.

Condenar, sim; lamentar, não. Esse é o papel do cidadão que não tem poder para mandar fazer nada. O PR toma decisões; ele manda investigar o crime para posterior responsabilização criminal dos envolvidos na intentona. O presidente demonstra preocupação para que o caso seja esclarecido o mais urgente possível.

O cidadão, esse sim, está no direito de lamentar que bandidos a monte tenham tentado acabar com a vida do jovem. Pode lamentar pela falta de tolerância política e que o frustrado assassinato é uma afronta ao direito à liberdade de expressão, mas à espera que quem é de direito (dever) tome decisões para acabar com este tipo de situações.

O povo pode lamentar que tenha que sofrer com o seu dinheiro, enfrentando longas filas para pagar o imposto da sua empresa e o Estado, num total comodismo, não parece preocupado em buscar soluções tecnológicas para tornar o processo não sofrido.

Lamenta que professores a quem a sociedade confia a educação dos seus filhos nas escolas sejam, nas horas vagas, chefes de quadrilhas ou assaltantes como aconteceu há dias em Ribaue, província de Nampula.

O cidadão comum, aquele que se debate com o que será dele amanhã, lamenta que agentes da polícia em quem deposita a sua confiança em termos de garantia de segurança se envolvam em roubos, assaltos e assassinatos.

Lamenta que tenha que se levantar todos os dias às 4:00 horas da manhã para ganhar 7:30 horas no serviço e chegar à casa às 22:00 ou 23:00 horas devido ao crónico problema da falta de transporte.

Alguns transportadores embarcam no velho problema de encurtamento de rotas que não acaba porque alguns agentes da polícia camarária, em vez de combaterem o mal, fomentam-no ao aceitarem o “refresco” para deixarem passar irregularidades.

O cidadão comum, aquele que é enganado no período eleitoral com promessas de melhores condições de vida cada vez distantes de si, seduzido e abandonado à sua sorte, lamenta que tenha que contratar um professor para dar explicação ao seu educando.

No passado, esta figura de explicador não existia. Ninguém tinha a necessidade de procurá-lo porque as aulas eram bem dadas nas escolas e havia uma oportunidade para os alunos tirarem dúvidas. Tudo começava e terminava na escola. Hoje, os encarregados de educação são obrigados a ter que contratar os serviços de um professor como explicador, o que é incrível.

Ao cidadão não faltam motivos para lamentações, mas não é o que se espera de um dirigente como o Presidente da República, Ministros, Comandante Geral da Polícia e outros a quem cabe a responsabilidade de tomar decisões para corrigir certas práticas e comportamentos, combater a criminalidade e outros males quer apoquentam a sociedade.

Um Procurador-Geral da República é uma das figuras que é proibida de lamentar. Tem que deixar de usar o pódio, em qualquer que seja o lugar, incluindo no parlamento, para falar como se de um simples cidadão se tratasse.

Num passado recente, ouvimos queixas ou lamentações da PGR na Assembleia da República dizendo-se que há jovens que se enriquecem sem um histórico. Quem são esses jovens? Porque é que até agora não foram presos ou investigados? Estas perguntas não foram respondidas pela PGR. Lamentou, no lugar de tomar decisões.

É habitual a PGR queixar-se, em pleno parlamento e também por ocasião de abertura do ano judicial, do envolvimento de agentes da PRM, sobretudo do SERNIC, magistrados e outros no negócio dos raptos, e mais: que os políticos estão implicados no tráfico de drogas. Tudo termina nas lamentações. Não cai bem para uma figura como aquela.

No caso concreto, o que se esperava de um Procurador-Geral da República era o anúncio da investigação para desmantelar redes de criminosos dentro da polícia que protagonizam raptos.

Dar a conhecer ao público algumas detenções de polícias, magistrados ou políticos envolvidos na criminalidade. Estaríamos a falar de processos em curso, alguns dos quais a caminho dos tribunais para o julgamento e responsabilização dos autores criminais.

Infelizmente assuntos sérios como o branqueamento de capitais, enriquecimentos ilícitos, drogas, raptos, corrupção em simples discursos da praxe porque quem devia usar o poder que tem, os instrumentos ao seu dispor não faz o seu papel como deve ser. Fica a lamentar como se de cidadão comum se tratasse. Com este andar das coisas, não chegaremos a lado nenhum.

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