Gala Mulher homenageia 30 mulheres pioneiras e celebra a força feminina durante os últimos 50 anos

DESTAQUE SOCIEDADE
Share this
  • Fundação Chance e Gueta Chapo passam a reconhecer anualmente mulheres
  • Galardoadas vão desde Maria da Luz Guebuza, passando por Lurdes Mutola até desaguar em jovens como Quitéria Guirengane

Um total de 30 mulheres de diferentes origens e estratos sociais, as quais marcaram várias gerações, de  entre figuras políticas, activistas sociais, artistas e outras que se destacaram em diversos ofícios, contribuindo de forma decisiva para o progresso social, económico e cultural do país, foram homenageadas, esta sexta-feira, em Maputo, na primeira edição da Gala Mulher, uma iniciativa da sociedade civil, liderada pela Fundação Chance, com o apadrinhamento da Primeira-Dama, Gueta Chapo. Trata-se de um evento que pretende tornar-se tradição anual daqui em diante, visando reconhecer o papel crucial da mulher no desenvolvimento de Moçambique.

Luísa Muhambe

Num ambiente caracterizado por emoção, orgulho e esperança, realizou-se, esta sexta-feira, em Maputo, a primeira Gala Mulher, organizada pela Fundação Chance, em parceria com a Esposa do Presidente da República.

O evento prestou homenagem a mulheres com trajectórias de destaque ao longo do tempo dos 50 anos da independência nacional em diversas esferas de actividade, marcando gerações de mulheres comprometidas com o progresso do País em diferentes momentos da história e desafios concretos.

A partir da segunda edição, ou seja, no próximo ano, segundo a Fundação Chance e os seus parceiros, o objectivo será distinguir mulheres que se evidenciaram durante o ano anterior, numa dinâmica que visa valorizar realizações recentes e incentivar novas lideranças.

As categorias contempladas incluem áreas como Saúde, Ciência e Tecnologia, Economia e Negócios, Trabalho Social, Artes e Letras, Cidadania, Jurídica e Mérito.

As galardoadas vão desde Maria da Luz Guebuza e Glória Muianga, passando por Lurdes Mutola, Bordina Muala e Mingas até desaguar nas gerações mais jovens como Quitéria Guirengane e Alcinda Panguana.

A escolha das homenageadas, segundo a organização, foi feita após um processo rigoroso de apuramento dos perfis, garantindo que cada galardoada representasse um verdadeiro exemplo de competência e dedicação.

Em representação do Gabinete da Primeira-Dama, Elvira Viegas, patrona do evento e renomada artista, explicou que a curadoria das distinguidas foi resultado de um trabalho “minucioso”, justificando o reconhecimento atribuído.

“Que esta gala seja um lembrete constante de que juntas somos muito fortes. Às mulheres distinguidas aqui hoje, queremos enaltecer que vocês são um exemplo vivo do que significa coragem, liderança e sensibilidade”, destacou Elvira Viegas.

A Primeira-Dama, Gueta Chapo, embora impossibilitada de estar presente fisicamente devido a compromissos de Estado, fez-se sentir através de uma mensagem que reforçou o espírito de união e valorização que norteou a gala, demonstrando que o evento vai muito além de simples condecorações, é uma plataforma para reforçar o papel transformador da mulher na sociedade.

“Minhas queridas irmãs moçambicanas, é com profundo respeito e emoção que me dirijo a vós nesta ocasião tão especial. A Gala Mulher é a celebração da força, da trajectória e das conquistas das mulheres moçambicanas. Asseguro-vos de que o meu apoio incondicional está convosco nesta celebração”, declarou Gueta Chapo, numa nota lida no evento.

Reconhecido envolvimento de Maria da Luz Guebuza em causas sociais

Uma das homenageadas mais emblemáticas da noite foi a ex-primeira-dama Maria da Luz Guebuza, distinguida na categoria Mérito. Maria da Luz Guebuza, conhecida pelo seu forte envolvimento em causas sociais e humanitárias, destacou-se enquanto primeira-dama (2005–2015) pela promoção de projectos de apoio a crianças e mulheres vulneráveis.

Visivelmente emocionada, Maria da Luz dedicou a distinção a todas as mulheres moçambicanas que, segundo ela, lutam diariamente por um futuro melhor.

“A nossa vénia e satisfação pelo momento que hoje partilhamos, mas sobretudo pela valorização da mulher e dos seus feitos. Esta gala celebra não apenas as conquistas, mas também a capacidade infinita da mulher moçambicana de enfrentar desafios todos os dias e, ainda assim, seguir em frente”, afirmou.

O desporto celebra as suas heroínas

No campo do desporto, três nomes brilharam na Gala Mulher, nomeadamente: Lurdes Mutola no atletismo, Alcinda Panguana no boxe e Anabela Cossa no basquetebol, três renomadas atletas que ao longo dos últimos 50 anos se destacaram de forma notável no desporto nacional, contribuindo para que o nome e a bandeira de Moçambique sejam hasteados em eventos internacionais, incluindo os jogos olímpicos, a maior prova desportiva mundial.

Lurdes Mutola, campeã olímpica dos 800 metros nos Jogos de Sydney 2000 e uma das maiores atletas africanas de todos os tempos, representa a perseverança e a excelência desportiva de Moçambique. Alcinda Panguana, pugilista de alta performance, destacou-se em competições continentais e nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Já Anabela Cossa, referência do basquetebol feminino, fez história com a selecção nacional e clubes , sendo também  um símbolo da nova geração de mulheres no desporto. Panguana, uma das estrelas da noite, enfatizou o significado profundo do reconhecimento.

“Este reconhecimento para mim significa muito. Trabalhamos muito, muitas vezes à espera de sermos vistos, reconhecidos. Isto prova que não devemos desistir dos nossos sonhos. Continuemos na fé, foco e determinação que chegaremos lá”, declarou, emocionada.

Vozes e talentos que marcam a nação

As Artes e Letras também tiveram o seu lugar de honra, celebrando nomes que marcaram gerações nesta categoria. Por exemplo, a cantora Mingas e a poetisa e empresária Tânia Tomé foram reconhecidas pelo seu contributo ímpar para a promoção da identidade moçambicana.

Mingas, com uma carreira que ultrapassa fronteiras, é uma das maiores vozes da música tradicional e popular moçambicana, enquanto Tânia Tomé é autora de obras de impacto social e económico, além de activista do empoderamento juvenil.

Já na área da comunicação social, foram homenageadas profissionais que abriram caminho para novas gerações de jornalistas e comunicadores. Glória Muinga, histórica locutora da Rádio Moçambique; Bordina Muala, uma das primeiras mulheres a liderar redacções no país; e Anabela Adrianopoulos, apresentadora de carreira sólida, foram reconhecidas pelos seus percursos inspiradores.

Glória Muinga, veterana da rádio e ícone da comunicação, emocionou-se ao recordar os tempos difíceis e os avanços conquistados.

“Depois destes 50 anos da nossa independência, estar aqui representa muito. Fizemos muitos sacrifícios. Hoje vemos a mulher ocupar lugares de destaque não só na comunicação, mas em toda a sociedade”, sublinhou.

A categoria Jurídica homenageou três mulheres de destaque, nomeadamente, Latifa Ibrahimo, jurista e defensora dos direitos humanos; Milagrosa Macuácua, advogada com uma carreira voltada à defesa da justiça social; e Dalmésia Costa, advogada comprometida com o fortalecimento do Estado de Direito em Moçambique.

Milagrosa Macuácua expressou o seu agradecimento pelo reconhecimento, destacando a relevência do evento: “Eu não esperava e estou muito emocionada, estou aqui em representação de todas as mulheres, porque todas elas ajudaram a receber esse reconhecimento, porque para estarmos aqui é porque alguém sempre esteve por detrás de nós. Estou muito feliz, é uma responsabilidade no sentido de continuar a lutar para o empoderamento da mulher, pela união entre nós e na minha área cumprindo o meu dever, cumprindo com os estatutos da Ordem dos Advogados, mas sempre em prol da mulher”,  enfatizou.

Em paralelo, Ana Sheila Marrengula foi reconhecida na categoria Mulher de Fibra, conhecida pelo seu papel firme na condução do megaprocesso das dívidas ocultas, um dos casos mais emblemáticos da justiça moçambicana nos últimos anos. Marrengula é um símbolo da ascensão das mulheres no sistema judicial nacional.

“As mulheres precisam de ser homenageadas e respeitadas pelo trabalho extraordinário que realizam para o desenvolvimento da nação. A educação é a chave. Sem ela, não poderemos desenvolver o nosso país”, frisou.

Mulheres que transformam realidades

No campo da Ciência e Tecnologia, foram distinguidas Sarifa Fajir, primeira moçambicana a obter um doutoramento em Matemática Pura; Gracinda Tivane, investigadora na área da Biomedicina; e Zélia Minete, perita em Tecnologias de Informação e Comunicação. Os seus contributos reflectem a ascensão das mulheres em espaços tradicionalmente dominados por homens.

O activismo social e a cidadania foram também celebrados através de Quitéria Guirengane, secretária executiva do Observatório das Mulheres; Josina Machel, activista contra a violência baseada no género e fundadora da Fundação Kuhluka; e Benilde Nhalivilo, defensora de causas sociais ligadas à juventude e às mulheres rurais.

Na área da Economia e Negócios, Ensalina Macombe, Salma Abdula e Angelina Dita receberam homenagem. Macombe é uma empresária de referência no sector agroindustrial, Salma Abdulla destaca-se no comércio e inovação empresarial, e Angelina Dita, com o seu trabalho em microfinanças, impulsiona projectos de apoio a empreendedores locais.

Finalmente, na Saúde, Nazira Abdula, médica e ex-ministra da Saúde; Isabel Chissaque, anestesista de carreira exemplar; e Beatriz Ferreira, médica cardiologista e fundadora do ICOR, foram distinguidas pelo seu contributo para uma sociedade mais saudável e justa. Isabel Chissaque lembrou o espírito de colaboração que rege a profissão médica.

“Em saúde só se trabalha em equipa. Este prémio é para todos os que trabalham comigo. Trabalhar com dedicação para uma medicina mais humana e acessível é o que nos gratifica. Ser humano é saber colocar-se no lugar do outro”, emocionou-se.

A primeira Gala Mulher deixa uma marca indelével: a celebração da mulher moçambicana não é apenas um acto de reconhecimento, mas uma convocatória para fortalecer a presença feminina em todos os sectores e inspirar as gerações futuras. Um verdadeiro tributo à coragem, à competência e à esperança de um Moçambique mais justo, desenvolvido e inclusivo.

Promo������o
Share this

Facebook Comments