- Mais de 600 técnicos e 50 chefes em risco de despedimento em Moçambique
- Inventor do “Please Call Me” ameaça derrubar gigante das telecomunicações
- Disputa acontece na África do Sul, mas tem repercussões em Moçambique e todo mundo
- O que a Vodacom produz anualmente em todo mundo não é suficiente para pagar a dívida
Era, até alguns meses atrás, uma das empresas que melhores serviços prestava no país e mais investia, contudo a sua hegemonia no mercado está ameaçada devido a uma crise profunda que abala as contas da empresa a nível global, com grande repercussão em Moçambique. Tudo devido a uma indemnização astronómica que a Vodacom é obrigada a pagar ao inventor do sistema “please call me”, que ganhou uma longa batalha judicial, devendo receber perto de 30 biliões de randes devido a incumprimentos contratuais e negligência da operadora. Em Moçambique, cerca de 200 trabalhadores da maior operadora de telefonia móvel do país já foram comunicados que deverão ir à rua, mas o Evidências apurou que os cortes poderão atingir mais de 600 trabalhadores, incluindo cerca de 50 “chefes”. Igualmente, vai diminuir o número de lojas e número de atendentes no call center para um mínimo histórico.
Chama-se Kenneth Nkosana Makate, inventor do famigerado “Please Call Me”. Encontra-se a esfregar as mãos para receber uma choruda indemnização após ganhar a disputa judicial contra a gigante Vodacom.
O Tribunal Constitucional, última instância da África, decidiu que a Vodacom deve pagar cerca de 20 biliões de randes ao seu antigo colaborador, por ter se comprovado uma conduta negligente em relação ao cumprimento do contrato pela utilização dos serviços “please call me”.
O valor astronómico arrasou com a capacidade financeira da Vodacom, que já anunciou cortes de empregos a nível global e possível aumento de preços de serviços na operadora móvel, ao mesmo tempo que verá a sua capacidade de investimento reduzida pelo menos nos próximos dois anos.
Há dias, o Supremo Tribunal de Recurso (SCA) rejeitou um recurso da Vodacom e decidiu a favor de Makate, ex-gerente financeiro da Vodacom, responsável por apresentar a ideia básica que acabou sendo desenvolvida em “Please Call Me”.
O CEO do Grupo Vodacom, Shameel Joosub, começou com uma oferta de R47 milhões, que Makate rejeitou, fazendo com que o assunto se arrastasse por muito tempo no tribunal.
A Vodacom chegou a recorrer ao Tribunal Constitucional depois que o Supremo Tribunal ordenou que a empresa pagasse à Makate entre 5% e 7,5% da receita total de voz que seu produto Please Call Me gerou ao longo de 18 anos, mais juros.
O Supremo Tribunal de Recurso da África do Sul ordenou que a Vodacom pagasse a Kenneth Nkosana Makate uma quantia entre R28,99 mil milhões e R55,37 mil milhões pelo seu conceito Please Call Me.
Estima-se que a Vodacom tenha tido uma receita total de chamadas de R194,8 bilhões gerada pelo Please Call Me ao longo de 18 anos. Os cálculos levaram em consideração o volume de mensagens Please Call Me enviadas durante esse período, sua taxa de sucesso e a duração média das chamadas e receita.
O Modelo 9A, que assumiu uma participação nas receitas de 15%, também incluiu receitas adicionais da publicidade Please Call Me, “Recharge Me”, e um valor estimado de receitas geradas fora da África do Sul, elevando a receita total Please Call Me para R273,39 mil milhões.
Em Moçambique já há planos de cortes de empregos e muitas lojas vão fechar
O pagamento milionário deixou a tesouraria da Vodacom pressionada, pelo que pode precisar aumentar os preços para recuperar o dinheiro necessário para continuar investindo em sua rede – embora não muito, por medo de perder clientes para MTN, Telkom e Cell C. No caso de Moçambique, já está a perder lugar para a Movitel nos principais serviços de voz, dados e até carteira móvel, com o Mpesa aos poucos a ser engolido pelo e-Mola, numa altura em que a Tmcel tem estado a investir seriamente na sua infra-estrutura.
A Vodacom também poderá ter de reduzir a sua massa salarial para reduzir custos, resultando na perda de postos de trabalho. Esta medida, já entrou em vigor pelo menos em Moçambique, onde a empresa já anunciou que vai despedir pelo menos 200 trabalhadores, mas Evidências apurou que o número de despedimentos massivos poderá chegar a 600 trabalhadores, incluindo pelo menos 50 chefes.
Como se tal não bastasse, a empresa já iniciou com o desmantelamento de alguns serviços, com destaque para o encerramento de lojas e redução drástica do pessoal do “call center”, que é um serviço tercearizado.
Só para se ter ideia das dificuldades enfrentadas pela Vodacom para sair desse imbróglio, imagina uma empresa que é obrigada a pagar quase o dobro do que produz anualmente.
É que o lucro anual de todo o Grupo Vodacom em 2023 foi de R18,1 bilhões. A Vodacom South Africa investe cerca de R10 mil milhões por ano na sua rede.
A outra alternativa da Vodacom neste momento é negociar para pagar a dívida ao longo do tempo, ou outra opção seria contrair dívidas para pagar a indemnização.
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