Ex-guerrilheiros da RENAMO reabrem sedes provinciais e dão 20 dias para realização do Conselho Nacional

Um grupo de ex-guerrilheiros da RENAMO anunciou esta segunda-feira, 23de Junho, em Maputo, a reabertura das delegações provinciais do partido, encerradas na sequência de tensões internas, e deu um ultimato de 20 dias à direcção do partido para convocar um Conselho Nacional abrangente.

A informação foi avançada em conferência de imprensa por Edgar Silva, porta-voz do grupo dissidente, numa altura que o partido acaba de realizar a IV conferência Nacional da Associação dos Combatentes da Luta pela Democracia da RENAMO (ACOLDE), onde discutiu-se a crise gritante e reinante na perdiz bem pressionar a realização do tão esperado Conselho Nacional.

“Mais uma vez estamos aqui, depois de algum tempo de ausência forçada pelos últimos acontecimentos na sede nacional da RENAMO”, declarou Edgar Silva.

Segundo explicou, a reabertura das sedes tem como objectivo permitir a preparação de um Conselho Nacional “alargado aos combatentes e aos outros membros do partido”, garantindo maior representatividade na definição do futuro da organização.

“Queremos um conselho abrangente. Os combatentes da RENAMO tradicionalmente não fazem parte do Conselho Nacional, mas como parte reivindicativa deste processo, achamos necessário termos espaço”, sublinhou.

Apesar da reabertura das sedes provinciais, Edgar Silva esclareceu que as delegações distritais permanecerão encerradas como forma de pressão. O grupo exige que, no prazo de 20 dias, a direcção do partido defina as condições e datas para a realização do Conselho Nacional. Caso isso não aconteça, os ex-guerrilheiros ameaçam retomar acções de contestação.

“Vamos dar o prazo de 20 dias para a direcção do Partido se posicionar, criar condições para que este evento possa ocorrer, portanto com datas previstas. Se até daqui a 20 dias o processo não tiver pernas para andar, nós vamos voltar atrás. Vamos liberar as sedes. A partir de hoje podem ser abertas as sedes todas as delegações provinciais. Nós vamos pedir àquela base que nos apoia, os combatentes da RENAMO, para que deixem o Partido trabalhar por estes 20 dias, como forma de organizar o Conselho Nacional da RENAMO”, afirmou o porta-voz.

Quanto às recentes confrontações internas, Silva revelou que seis membros do grupo ficaram feridos, dois deles com gravidade: “Um perdeu a visão e outro sofreu lesões graves devido ao uso de gás.”

Segundo o líder do grupo a ideia de afastar o actual presidente da RENAMO, Ossufo Momade, permanece firme entre os ex-guerrilheiros: “Prevalece porque sempre foi o nosso objectivo. Ele é inoperante e deve dar lugar a alguém que possa liderar verdadeiramente o partido”, frisou o porta-voz.

Edgar Silva informou ainda que foi enviado um documento à direcção do partido formalizando a trégua e os termos da reabertura das sedes, com apelos aos apoiantes para manterem a calma e permitirem que o partido funcione no período estipulado.

A crise interna na RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique, intensifica-se com este novo capítulo, revelando profundas divisões entre a liderança formal e o braço militar desmobilizado, que continua a exigir maior protagonismo e reformas internas.

Refira-se que num passado recente, os guerrilheiros da RENAMO, encerraram por completo todas sedes provinciais e distritais da RENAMO inclusivamente a Sede Nacional do partido bem como o gabinete do Presidente Ossufo Momade, em protesto da sua liderança. Para estes, a “devolução” da estabilidade partidária e o fim das divisões internas seria pura e simplesmente o anúncio do fim da condução da máquina partidária pelo Ossufo Momade.