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No entanto, a sessão foi marcada por fortes críticas de Venâncio Mondlane, membro do Conselho de Estado e líder do recém-criado partido ANAMOLA, que questionou a “verdadeira” inclusão e utilidade do processo em curso. Curiosamente, há dias submeteu um pedido formal para a inclusão do seu partido naquela plataforma de diálogo.
“Não podemos falar de diálogo enquanto o País está a sangrar”, afirmou Mondlane, apontando que, apesar de ter submetido um requerimento formal para integrar a Comissão Técnica do Diálogo, ainda não recebeu qualquer resposta.
Para o conselheiro de Estado, o diálogo só terá sentido se responder a problemas concretos da sociedade moçambicana: “De palavras boas, até o inferno está cheio. O que queremos são actos concretos, que conduzam à reconciliação”.
No seu entender, enquanto persistirem execuções extrajudiciais, perseguições políticas e a corrupção generalizada, “não é possível falar de paz e reconciliação”.
Segundo o político, a exclusão de forças políticas emergentes e a falta de garantias de participação plural comprometem a credibilidade do processo.
“Queremos fazer parte da Comissão Técnica em concreto, porque temos propostas concretas”, reforçou Mondlane, denunciando ainda a perseguição a partidos da oposição e as dificuldades enfrentadas pelos seus dirigentes.
“Não podemos dizer que estamos reconciliados quando temos partidos cujos presidentes, sempre que regressam ao País, são recebidos com gás lacrimogénio e balas verdadeiras”, acusou, acrescentando que “há mais de cinco mil moçambicanos detidos de forma ilegal” e que várias famílias continuam sem respostas ou compensação pelas mortes e ferimentos resultantes de confrontos políticos.
Mondlane também criticou a falta de transparência na investigação de assassinatos de figuras políticas e académicas, como os casos de Elvino Dias, Paulo Guambe e do professor Gilles Cistac que permanecem sem esclarecimentos.
O político concluiu lembrando que, como membro do Conselho de Estado, já apresentou um projecto de revisão da lei que regula aquele órgão, defendendo que a instituição seja mais próxima do povo e actue como verdadeiro porta-voz das suas preocupações.
“No Conselho de Estado não estou para tomar café nem à procura de privilégios. Estou para continuar a defender o meu povo, exigir a libertação dos cidadãos presos ilegalmente e a assistência às vítimas de violência política”, garantiu.
O processo de auscultação pública sobre o Diálogo Nacional Inclusivo prossegue nos próximos dias, abrangendo diferentes províncias e comunidades moçambicanas no estrangeiro, com a promessa de recolher contribuições para um novo pacto de estabilidade e inclusão política no País.

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