Fundação demite reitor por alegada “gestão danosa”, mas ele recusa-se a sair e arrasta guerra aos tribunais

DESTAQUE SOCIEDADE
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  • Conflito de Poder na Universidade São Tomás de Moçambique
  • Wanala dirigia a instituição há 21 anos. Neste momento, a instituição tem dois reitores
  • Reitor deposto é acusado de nepotismo, falta de transparência e fraca prestação de contas
  • Fundação ameaça exclui-lo da ordem por “indignidade” se não se conformar

A Universidade São Tomás de Moçambique (USTM) é palco de um grave conflito institucional que opõe a sua Fundação mantenedora ao reitor Joseph Matovu Wamala, que se recusa a deixar o cargo após ter sido exonerado e para o seu lugar indicado outro reitor, no caso Dr. António Cipriano Parafino, que, inclusivamente, já tomou posse. A Fundação Cardeal Dom Alexandre dos Santos acusa Wamala de “gestão danosa” e de uma série de irregularidades que vão desde a “falta de transparência na gestão financeira”, “ausência de relatório e contas por muitos exercícios” e a “terceirização de serviços, enquanto o reitor deposto alega que o processo da sua remoção e a nomeação do seu sucessor estão eivados de ilegalidades. Aliás, submeteu o caso ao tribunal.

Evidências

O impasse, que se arrasta desde Setembro de 2025, escalou para os tribunais e expõe uma luta pelo controlo de uma das instituições de ensino superior mais antigas e emblemáticas do País, envolvendo alegações de autoritarismo, desvios estatutários e violação do direito canónico.

António Cipriano Parafino

Tudo começa quando, no passado dia 24 de Setembro, a Presidente da Fundação Dom Alexandre dos Santos enviou um ofício ao ministério da Educação e Cultura; Instituições Parceiras, entre outras, comunicando a cessação de funções do seu antigo reitor a quem endereçou públicos louvores.

Para seu lugar, comunicou que tomara posse no dia anterior (23) António Cipriano Parafino para um mandato de cinco anos, na sequência de uma decisão de 15 de Setembro do Conselho Geral daquela fundação.

Inconformado com a decisão, o reitor deposto, mas que se recusa a deixar o cargo, Joseph Wamala, decidiu escrever uma extensa carta à fundação e a todas instituições que tinham sido informadas da sua destituição, negando tudo.

Joseph Wamala

Wamala, que em 2024 anunciara que desejava deixar o cargo, parece ter mudado de ideias. Agora, o reitor deposto (mas não conformado) contra-ataca, descrevendo a reunião que o destituiu como um “golpe de estado” conventual, liderado pela Irmã Juliveva Sitoe, que, num acto que considera pouco transparente, teria tomado o controlo da sessão e imposto a sua vontade.

O reitor deposto centra as suas críticas em duas reuniões do Conselho Geral da Fundação, realizadas em Setembro de 2025, e descreve o processo que levou à sua remoção como um acto ilegítimo e cheio de vícios formais.

Wamala acusa um grupo de religiosas da Congregação das Franciscanas de Nossa Senhora Mãe de África – à qual pertencem a Ir. Angelina Langa e a Ir. Juliveva Sitoe – de terem sequestrado o processo.

Alega que, na reunião de 15 de Setembro, a Ir. Juliveva Sitoe, “com total desrespeito pelas regras mínimas”, tomou o poder “ilicitamente” e conduziu uma votação-relâmpago e sem debate para eleger a si própria como Presidente do Conselho de Administração e a Ir. Angelina Langa como Presidente da Fundação.

A nomeação do novo reitor, Dr. António Cipriano, é descrita como um acto unilateral, sem candidaturas concorrentes ou discussão sobre a idoneidade do indicado. Wamala salienta a ausência de uma acta da reunião e que a tomada de posse do novo reitor foi realizada em segredo, sem o conhecimento da comunidade universitária, desrespeitando uma ordem judicial que supostamente suspendia os efeitos da deliberação.

Além disso, o reitor questiona a legitimidade das novas líderes à luz do Direito Canónico, argumentando que os cargos civis que ocupam na Fundação conflituam com as suas funções espirituais como mestre de noviças e superiora da congregação, respectivamente.

Afinal Reitor caiu por causa de gestão danosa

Contrariada, a Fundação viu-se na obrigação de endereçar um ofício a Wamala. Datado de 26 de Setembro de 2026, o documento assinado pela Presidente da Fundação, Irmã (Ir.) Angelina Langa, apresenta uma lista detalhada de acusações contra o Prof. Doutor Joseph Wamala.

A Fundação alega que, após 21 anos à frente da USTM, a gestão de Wamala mergulhou a universidade e a própria fundação em “graves problemas”.

Entre as irregularidades apontadas estão a “falta de transparência na gestão financeira”, “ausência de relatório e contas por muitos exercícios” e a “terceirização de serviços para empresas maioritariamente detidas por sua esposa, familiares e amigos”, um claro conflito de interesses.

O documento menciona ainda a “contratação de empréstimos para investimentos alheios à Universidade” e a improbidade na concorrência entre actividades da sua família e as da USTM.

Um conflito com futuro incerto

Perante este quadro, a Fundação afirma ter instruído o novo reitor nomeado, Prof. Doutor António Cipriano Parafino Gonçalves, a negociar uma “aposentação condigna” com Wamala, evitando a via judicial que podia destapar uma série de crimes financeiros cometidos durante os 21 anos.

O comunicado é peremptório: as deliberações do Conselho Geral que destituíram Wamala são “estatuariamente válidas, por terem a expressiva maioria de 98%”, ameaçando mesmo exclui-lo da Fundação por “indignidade” se não se conformar.

Enquanto a Fundação apela a Wamala que aceite a sua demissão e evite “manchar a boa imagem” da instituição, o reitor mantém-se firme, afirmando que continuará a “assegurar a gestão da Universidade até que a justiça do país se pronuncie”.

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