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Alexandre Chiure
Passam-se oito anos depois que se iniciou o terrorismo em Cabo Delgado. De lá a esta parte, infelizmente não há sinais de que algum dia vá terminar. É verdade que a situação melhorou. Aquele à vontade com que os terroristas actuavam acabou.
Alguns líderes do movimento tombaram em combate. Líderes religiosos e espirituais. Mas também temos que reconhecer que apesar dos avanços registados no campo das operações, não é tempo de içar a bandeira e dizer que a luta está prestes a terminar.
Às vezes, com a falta de informação sobre o que está a acontecer no terreno, fica-se com a impressão de que estão enfraquecidos, mas as últimas indicações de ataques e assassinato de civis provam a vitalidade dos terroristas. Um movimento regenerou-se. Consolidou-se e já embosca colunas de viaturas escoltadas por militares.
Há notícias de terroristas que têm estado a atacar posições das forças Armadas de Defesa de Moçambique, algo que antes evitavam. Isso significa alguma robustez militar e algum tipo de organização. Antes, os alvos eram edifícios públicos e privados e aldeias.
Hoje, além de colunas militares, os insurgentes atacam igualmente posições das FADM. É, sim, atrevimento da sua parte, mas temos que admitir que traduz, também, alguma capacidade militar. Há notícias de uma escala de cinco ataques contra posições avançadas das FADM.
No recente ataque à comunidade de Mitope, na localidade de Oasse, distrito de Mocímboa da Praia, foi atingida uma unidade das Forças Armadas que perdeu parte do seu material bélico. A população e os militares fugiram da aldeia. O que é que issso significa?
Se os insurgentes mantêm-se no terreno é porque têm logística em dia. Se, apesar de golpes sofridos no terreno, eles continuam a fazer as suas operações, quer dizer que alguém lhes apoia. Fornece-lhes armas, algumas das quais sofiscadas e mais avançadas do as que das FADM.
Mas, afinal, quem são essas organizações ou indivíduos que garantem o abastecimento dos terroristas em bens de equipamento e onde é que pretendem chegar com o fomento ao terrorismo em Cabo Delgado? Porquê a escolha daquela província e não de outras? Qual é o segredo que existe no meio disso?
Alguns investigadores dizem que o terrorismo em Cabo Delgado tem a ver com a pobreza. Inhambane, Gaza e não só, são pobres, mas não há terroristas. Outros escreveram dizendo que é maldição dos recursos minerais. Outros ainda defendem que tem como origem problemas tribais. Há quem acredita que está relacionado com o tráfico de drogas. A necessidade de enfraquecer as estruturas administrativas nas localidades ou distritos para facilitar a sua circulação.
Nenhum destes estudos é um produto acabado. É preciso aprofundar as pesquisas para se chegar a conclusões próximas da realidade. Enquanto as perguntas aqui colocadas continuarem sem respostas conclusivas, dificilmente combateremos o terrorismo com alguma consistência. Para vencermos o inimigo ou o enfraquecer em demasia, temos que o conhecer muito bem e sermos capazes de saber quem são eles. Quais são as suas motivações políticas ou militares.
As Forças Armadas de Desefa de Moçambique têm que ser capazes de investigar, através da sua contra-inteligência militar, e trazer à superfície informações sobre como é que está montado o sistema logístico dos terroristas. De onde vêm as armas e munições? De que fronteira entram, com a colaboração de quem e quais são os meios que se usam para fazer chegar os apoios aos terroristas no território nacional?
Ao que parece, estes dados não existem e é por isso que as coisas estão do jeito que estão. É que se esta informação estivesse disponível, estou convencido de que a abordagem sobre o terrorismo seria diferente. Uma das primeiras medidas seria bloquear todos os caminhos que permitem o reabastecimento aos terroristas. Isso é básico numa guerra.
Considerando que os mantimentos podem resultar de assaltos e saques às lojas nas aldeias ou sedes de localidades ou distritais, o mesmo não se pode dizer em relação às armas e munições. Há uma logística bem organizada e eficaz.
Em última análise, se alguém detém estes dados e não os coloca ao serviço ou ao conhecimento das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, do Estado Maior General das FADM ou do Ministério da Defesa Nacional, alguma coisa está errada.
Das duas, uma: Ou essas pessoas não estão interessadas que a guerra acabe em Cabo Delgado ou temos que admitir a possibilidade de o exército estar infiltrado de gente com objectivos obscuros, ou melhor, indivíduos que colaboram com os terroristas; que estão feitos com o terrorismo e tiram dele melhor proveito.
Se é assim, então estamos mal. A guerra nunca mais vai acabar. Os ruandeses, que estão entre nós por tempo indeterminado, segundo Paul Kagamé, nunca mais sairão daqui. Vão casar-se com as nossas irm e estabelecerem as suas vidas no país. Cabo Delgado irá tornar-se um colonato ruandês. As bases para tal estão à vista de todos nós: As forças ruandesas são as mais queridas em Cabo Delgado.
Gozam de fortes simpatias no seio do público e as FADM, não. Empresas daquele país estão a estabelecer-se na província, quer na área de segurança privada, com um contrato milionário com a TotalEnergies no valor de 20 mil milhões de dólares americanos.
Intervêm na construção civil e noutras áreas. Um dia iremos acordar enquanto Cabo Delgado, com todos os recursos que tem, nomeadamente petróleo e gás, rubis e outros recursos, é parte de Ruanda. Estou a exagerar? Até pode ser que sim, mas a verdade é uma: Consciente ou inconscientemente, estamos a entregar a província aos ruandeses, com sete mil homens fortemente armados no terreno e com disponibilidade de tecnologia militar.

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