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- USTM promove reflexão sobre a poluição por plástico no Dia Mundial do Ambiente
Moçambique produz anualmente cerca de 240 mil toneladas de resíduos plásticos por ano, quantidade suficiente para encher três estádios do Zimpeto, o que mostra um nível de poluição enorme. Durante um debate na Universidade São Tomás de Moçambique (USTM) no quadro das celebrações do Dia Mundial do Ambiente, especialistas alertaram que o país precisa de uma “mudança radical de atitude” para enfrentar esta crise ambiental.
Edmilson Mate
Preocupada com a crescente poluição que coloca a nossa casa comum (planeta) em risco, a USTM decidiu levar este debate para centro das atenções durante as celebrações do Dia Mundial do Ambiente, através de uma palestra e exposição ecológica que reuniu académicos, estudantes e especialistas sob o lema “O mundo unido no combate à poluição por plástico”.
A iniciativa reuniu estudantes, docentes e especialistas nas áreas do ambiente, turismo e comunicação social, com o objectivo de promover uma reflexão crítica e incentivar práticas sustentáveis no uso do plástico em Moçambique.
Para mostrar a dimensão catastrófica da poluição, foi exposta como exemplo a famosa “Ilha de Plástico” no Pacífico, uma acumulação de resíduos com área equivalente a três vezes a França, que simboliza o impacto devastador da acção humana sobre os oceanos.
Durante a palestra, o docente universitário e gestor ambiental Luca Enzo alertou para os níveis alarmantes de produção e descarte de plástico no país. Segundo dados apresentados, Moçambique produz anualmente cerca de 240 mil toneladas de resíduos plásticos, um volume que representa um desafio significativo para a gestão de resíduos sólidos urbanos.
Embora reconheça os avanços legais, como a proibição de sacos plásticos e a promoção do uso de sacolas de papel ou plástico biodegradável, Enzo considera essas medidas insuficientes sem uma mudança estrutural no comportamento da população.
“A mudança começa nas escolas, nas universidades, com as crianças e os jovens. Precisamos formar as crianças desde tenra idade para que cresçam sabendo quais são os impactos do plástico no meio ambiente, que não são poucos. No final do dia, este plástico vai parar ao mar, degrada-se e forma partículas muito pequenas conhecidas como microplásticos, que são consumidos pelos peixes e acabam por ser ingeridos por nós próprios”, explicou.
Para o académico, é urgente formar o que designa de “sujeito ecológico” – um cidadão informado, consciente e comprometido com decisões sustentáveis no seu dia-a-dia. Enzo defende a inclusão da educação ambiental desde os níveis mais básicos do ensino e apela à participação ativa de todos os sectores.
Para o docente e especialista em gestão de empresas turísticas, Eugénio de Jesus, a reutilização de materiais como o plástico e a substituição de embalagens por alternativas menos poluentes, como o vidro, são passos importantes para promover um turismo mais responsável.
“Temos de incutir nos turistas e nas unidades hoteleiras uma nova consciência ambiental. A sustentabilidade não é apenas uma obrigação ética, mas uma mais-valia competitiva. O turismo depende do ambiente. Sem ele, não existe. E os turistas de hoje procuram cada vez mais destinos que valorizem a conservação”, afirmou.
Eugénio considera que o setor do turismo em Moçambique deve alinhar-se com as tendências globais, como o ecoturismo, que privilegia experiências autênticas e respeitadoras do meio ambiente.
O jornalista e analista político Alexandre Chiúre abordou a crise do plástico numa perspetiva política e continental. Para ele, é fundamental que os líderes africanos integrem este problema nas suas agendas.
“Tem de haver mudança de atitude por parte dos governos. É preciso que este assunto seja visto aqui em África, a nível da União Africana. É preciso que os chefes de Estado e do Governo escutem isso e tomem decisões que se reflitam nos seus cidadãos, como forma de todos nós, cidadãos, sermos orientados a prevenir a poluição dos nossos rios e praias por objetos de plástico”, defendeu.
Chiúre alertou ainda para o carácter mercantilista de algumas iniciativas ambientais, que visam apenas o lucro.
“É verdade que há iniciativas boas que têm sido feitas aqui em Moçambique, mas muitas vezes são motivadas por necessidades económicas, não por consciência ambiental. O ideal seria conciliar as duas motivações: proteger o ambiente e garantir rendimento às comunidades”, sublinhou.



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