O Julgamento da História: O Poder é Transitório, mas a Responsabilidade é Permanente

OPINIÃO
Share this

Nilza Dacal

O poder é como um relâmpago: ilumina o céu por um instante, chama a atenção de todos, mas logo se dissipa na escuridão. Ele surge envolto em promessas de mudança, sustentado por símbolos de autoridade e celebrado com entusiasmo, como se fosse eterno. No entanto, é uma ilusão passageira, um mandato temporário concedido pela vontade popular ou pelas circunstâncias políticas. A responsabilidade, por outro lado, não conhece prazo de validade, é um fardo perene, que acompanha o líder muito depois de o seu mandato terminar. As decisões, os discursos, as acções ou omissões de um líder político deixam marcas indeléveis na trajectória de uma nação e na vida de seus cidadãos. É sob o julgamento implacável da história, que contrasta a efemeridade do poder com a permanência da responsabilidade, que se mede o verdadeiro valor de quem governa e se revela quem foi estadista e quem foi apenas governante.

Muitos líderes políticos sucumbem à sedução do poder. A cadeira que ocupam, adornada com os símbolos da autoridade, cria a ilusão de invencibilidade. Cercados por aliados que inflam os seus egos, eles podem acreditar que o poder é um direito perpétuo, não um privilégio transitório. Mas a história é impiedosa: presidentes, ministros, parlamentares, reis e imperadores, todos, sem excepção, descobriram que os aplausos têm fim, que os holofotes se apagam e que os palácios ficam vazios, quando vêem os seus mandatos chegarem ao fim. O que permanece, quando a cortina desce, é o veredicto da memória colectiva, as promessas cumpridas ou traídas, as políticas que impulsionaram o progresso ou aprofundaram desigualdades, as crises enfrentadas com coragem ou ignoradas por conveniência. A história não se deixa enganar por discursos bem ensaiados, e o povo guarda na memória, não as cerimónias grandiosas, mas as decisões que moldaram o seu futuro. O povo não esquece os efeitos concretos das políticas, se a mesa deles estava vazia ou farta, se os seus filhos tinham acesso à educação e à saúde. É essa a medida real de uma liderança.

Liderar na política não é um exercício de vaidade, mas um compromisso com a justiça e o bem comum. O verdadeiro líder político entende que o poder é apenas um instrumento para servir à sociedade, não um troféu a ser exibido. Ele carrega o dever de antecipar os desafios que ameaçam a estabilidade de uma nação, de combater as desigualdades que corroem a coesão social e de agir com determinação para evitar crises que comprometam as gerações futuras. Liderar exige visão estratégica, não basta administrar o presente com medidas populistas, é preciso construir políticas públicas sólidas que garantam um futuro próspero. A liderança autêntica não se sustenta em cargos, títulos ou símbolos de autoridade, mas na integridade moral e na coragem de tomar decisões difíceis, mesmo quando impopulares. Como um soldado que permanece firme sem o seu uniforme, o líder político genuíno é definido pela sua dedicação aos princípios democráticos e ao povo, resistindo às tentações da corrupção, do clientelismo ou da busca por glória efémera.

A política contemporânea exige lideranças que compreendam essa distinção com clareza. As nações enfrentam desafios globais e locais, desigualdades económicas, corrupção sistémica, polarização social e crises de confiança nas instituições democráticas, que não podem ser resolvidos com retórica vazia ou um conjunto de promessas. Esses problemas demandam acções concretas, reformas estruturais e uma visão de longo prazo que coloque o interesse colectivo acima de ambições pessoais. Os líderes políticos de hoje devem reconhecer que o poder que detêm é um mandato temporário, mas as consequências das suas escolhas ecoarão por décadas, moldando o destino de milhões. Governar com negligência ou priorizar interesses privados sobre o bem público é trair a confiança depositada pelo povo e comprometer o futuro de uma nação.

A responsabilidade de liderar é eterna, pois as suas marcas são indizíveis. Um líder político que governa com visão, coragem e integridade pode fortalecer a democracia, promover a justiça social e construir um legado de progresso que resiste ao tempo. Por outro lado, aquele que se deixa guiar pela vaidade, pela corrupção ou pela busca de poder pelo poder arrisca deixar um rastro de desconfiança, divisão e estagnação. A história é um tribunal severo, não deixa espaço para justificativas tardias, nem para a manipulação de narrativas. Ela julga com frieza, mas também com justiça. O povo, com a sua memória indestrutível, carrega as lembranças das dores e das conquistas. E é nesse tribunal silencioso, mas eterno, que se determina o legado de cada liderança.

O julgamento da história é inevitável e esta verdade deve guiar as decisões, os discursos e as acções dos que hoje ocupam posições de liderança política. Que não se deixem cegar pela ilusão da eternidade do poder e jamais esqueçam que o futuro de uma nação se constrói com compromisso, coragem e responsabilidade. Quando os mandatos terminarem, os títulos se apagarem e as honrarias perderem brilho, restará apenas o impacto das escolhas, gravado para sempre na memória colectiva. Que governem com a consciência de que não servem apenas ao presente, mas escrevem as páginas que o futuro irá ler. A história está a observar e dela ninguém escapa.

Promo������o
Share this

Facebook Comments