Parem de pensar que são donos de tudo

OPINIÃO
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Por: Duclésio Chico

Há momentos na vida em que alguns indivíduos, ao alcançarem determinada posição ou parcela de poder, passam a acreditar que são donos de tudo. É um comportamento tão comum quanto prejudicial. A sensação ilusória de superioridade faz esquecer que existem pessoas à volta — pessoas que precisam ser ouvidas, que têm valor e que desempenham papéis essenciais no processo de crescimento coletivo.

A natureza ensina isso de forma simples. Tudo nasce, cresce, desenvolve-se, recria e termina. Uma semente que se julga árvore antes do tempo, morre. Um animal que se presume absoluto no seu habitat, perde o rumo e perece. Nada existe isolado. A vida desenrola-se em relação, numa rede de interdependência que sustenta a existência.

O problema de “achar-se dono de tudo” é que esse comportamento corrói relações, bloqueia ambientes de trabalho e destrói projetos. Na maioria das vezes, essa postura nasce da insegurança pessoal. E é justamente essa insegurança que torna muitos líderes incapazes de liderar.

Curiosamente, o dilema da partilha de poder não deveria existir. O próprio Jesus Cristo afirmou aos seus discípulos que eles fariam obras ainda maiores do que Ele fez (João 14:12). Não lhes conferiu superioridade, mas capacidade. Ensinou que a liderança não diminui quando é compartilhada — ao contrário, fortalece-se.

Ao centralizar tudo, deixamos de ouvir, de delegar, de reconhecer potências alheias. Criamos um ambiente de achismos, monopolizamos decisões e destruímos qualquer possibilidade de crescimento sustentável. Nada cresce sozinho; nada progride no isolamento. Quando alguém tenta controlar tudo, prejudica todos.

O verdadeiro líder é aquele que compreende as diferenças dos seus liderados e, através delas, constrói um alicerce forte, capaz de enfrentar desafios e evitar o naufrágio organizacional. Muitos, porém, matam instituições, organizações e até movimentos partidários porque acreditam ser donos de tudo — e, por vezes, de todos.

A liderança não é mero talento improvisado. É dom ou ciência. Quando acreditamos que basta “jeito” para liderar, estamos a caminho do fracasso.

E é por isso que, tantas décadas depois, ainda permanecemos atrasados, manipulados por discursos embalados pela tecnologia, inclusive pela Inteligência Artificial, que muitas vezes é usada para nos distrair da realidade e alimentar a fantasia do desenvolvimento. Os que governam, porém, não se distraem. Estão sempre alguns passos à frente — e fazem-nos acreditar que estamos todos no mesmo nível. Afinal, sentem-se donos de tudo.

Mas o que realmente precisamos é de repartir. Precisamos de aprender que o crescimento só acontece quando partilhamos o caminho, a responsabilidade e a liderança. Nem Deus, o Criador do Céu e da Terra, que é efetivamente o único DONO DE TUDO, retém o poder absoluto sobre as nossas escolhas. Ele oferece liberdade — que tantas vezes usamos de forma irresponsável.

Enquanto continuarmos cegos diante desta realidade, dificilmente cresceremos. Ninguém na terra é dono de nada. Viemos e iremos da mesma forma. O destino final ninguém conhece — e isso deveria bastar para nos lembrar de que, por maior que seja o poder que julgamos ter, não somos donos de coisa alguma.

No fim, por mais títulos ou autoridade que carreguemos, não somos nada além de passageiros nesta vida. E reconhecer isso talvez seja o primeiro passo para um futuro mais justo, mais saudável e verdadeiramente coletivo.

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