Crise de divisas e novo programa do FMI podem causar desvalorização do metical em 2026

DESTAQUE ECONOMIA SOCIEDADE
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  • Depois de meses de meses do entretenimento de Zandamela, vem a dura factura
  • Oxford Economics diz que BdM será obrigado a subir a taxa de juro de referência
  • Objectivo desta medida seria tentar conter a subida dos preços

O panorama económico do País aponta para uma fase de acentuada fragilidade cambial, com a moeda nacional, o metical, a enfrentar uma trajectória de desvalorização gradual ao longo de 2026. Essa previsão da consultora Oxford Economics fundamenta-se na insuficiência das reservas internacionais líquidas do País e nas condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no âmbito do novo programa de ajustamento financeiro. A escassez de moeda estrangeira, que o Banco de Moçambique através do seu governador sempre procurou minimizar, é identificada como a principal causa da pressão sobre o metical, limitando a capacidade do Banco de Moçambique (BdM) de intervir de forma sustentada no mercado cambial.

Luísa Muhambe

Essa conjuntura torna a moeda particularmente vulnerável a choques externos, ao mesmo tempo que as exigências do FMI tendem a promover uma maior flexibilidade cambial, um ajustamento frequentemente necessário para reequilibrar a balança de pagamentos.

A desvalorização projectada acarreta consigo o sério risco de efeitos inflacionários em cascata. Dado que a economia moçambicana depende fortemente da importação de bens essenciais, desde combustíveis e alimentos até insumos para a saúde e aviação, a queda no valor do metical encarece drasticamente estas aquisições externas, o que se repercutirá directamente nos preços ao consumidor e no custo de vida geral.

Em antecipação a esta ameaça, a política monetária deverá endurecer: a Oxford Economics estima que o BdM será obrigado a subir a taxa de juro de referência, a taxa MIMO, de 9,5% para 10% até ao final de 2026. O objectivo desta medida restritiva é tentar conter a subida dos preços e ancorar as expectativas de inflação, mitigando o impacto da fragilidade cambial.

Novo programa do FMI veio agravar o fundo do poço

O novo Programa de Ajustamento Financeiro do FMI, embora crucial para restaurar a credibilidade externa e desbloquear fluxos de financiamento, impõe a Moçambique um conjunto de custos económicos e sacrifícios significativos, sobretudo a curto e médio prazo.

O custo mais imediato e sentido do programa do FMI é a exigência de flexibilidade cambial, que se traduz na prática numa desvalorização controlada do metical. A Oxford Economics projecta uma continuação desta tendência ao longo de 2026, com o metical a ser pressionado pela fraca capacidade do Banco de Moçambique (BdM) de intervir e pelas próprias condicionalidades do Fundo. O FMI insiste que o BdM deve reduzir as suas intervenções para defender o valor da moeda, permitindo que a taxa de câmbio reflicta a real escassez de divisas no País.

Essa desvalorização é um fardo para a população, pois a economia, altamente dependente de importações, sofre um encarecimento automático de todos os bens essenciais. A cotação do metical já reflecte essa pressão, com a taxa MZN/USD a negociar perto dos 65 MZN por dólar em Novembro de 2025. A medida do BdM de obrigar a conversão de 50% das receitas de exportação para meticais, embora visando aumentar a liquidez, não tem sido suficiente para inverter a tendência, e a escassez de divisas persiste, gerando tensões no sector produtivo, conforme alertado pela CTA.

Outro pilar do programa do FMI é o controlo rigoroso da despesa e o fim do recurso fácil ao endividamento interno para cobrir défices. O Fundo exige que o Governo reduza a emissão de dívida para proteger a liquidez do mercado e evitar que o Estado compita com o sector privado por fundos.

A dívida interna do País ascendeu a preocupantes 465,8 mil milhões de meticais (equivalentes a 7,2 mil milhões de dólares), o que representa uma ameaça directa à estabilidade económica geral, num contexto já marcado pela baixa liquidez cambial e pelo endurecimento global das condições monetárias.

Paralelamente, a situação das Reservas Internacionais Líquidas (RIL) reflecte a persistente pressão cambial. Após um período de seis meses consecutivos de alta, as RIL registaram uma queda de 1% em Setembro, fixando-se em 3,9 mil milhões de dólares. Esse ligeiro recuo, após a tendência positiva, demonstra a contínua dificuldade em acumular divisas suficientes para garantir uma cobertura confortável das importações e para intervir de forma robusta na defesa da moeda. A sustentação dessas reservas é crucial para a credibilidade externa do País e para a estabilidade interna do mercado cambial.

Apesar dos desequilíbrios cambiais, o Estado conseguiu amortecer o risco de crise imediata através de duas vias financeiras robustas: a arrecadação de impostos e os donativos externos. As empresas moçambicanas pagaram 77 mil milhões de meticais (1,2 mil milhões de dólares) em Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC) até Setembro, um aumento de 2,4% face ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento, atribuído sobretudo ao desempenho de 13 grandes contribuintes (incluindo o BdM, EDM, Movitel e CFM), permitiu que o IRPC representasse 28,5% das receitas correntes do Estado, atingindo 76,7% da meta anual. Contudo, as receitas totais com impostos registaram um ligeiro recuo de 1%, para 233,6 mil milhões de meticais, sinalizando que os desafios na arrecadação fiscal persistem e que o desempenho do IRPC não foi suficiente para compensar totalmente as quedas noutras categorias.

Simultaneamente, Moçambique recebeu quase 500 milhões de dólares em donativos externos entre Janeiro e Setembro, um volume substancial impulsionado por acordos estratégicos com o Banco Mundial (438,2 milhões de dólares) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) (61,4 milhões de dólares). Esses fundos são vitais para o financiamento de projectos em áreas-chave como transporte, energia e empoderamento socioeconómico.

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