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- Moçambique entra no mapa das Artes Marciais Mistas
Moçambique é um país com muitos talentos no que ao desporto diz respeito. Contudo, a falta de investimento tem condicionado sobremaneira o desenvolvimento de muitas modalidades desportivas. Com o intuito de dar mais visibilidade aos atletas moçambicanos, acaba de nascer no país o Txaya MMA Moz, que vai organizar no próximo dia 26 de Fevereiro, em Maputo, o primeiro campeonato de Artes Marciais Mistas (MMA na sigla em inglês) no país, denominado Txaya Fighting Championship, uma prova que vai contar com a participação de 48 atletas provenientes de várias disciplinas de artes marciais. Em entrevista exclusiva ao Evidências, o presidente do Txaya Moçambique, Nuno Rodrigues, avançou que um dos principais objectivos desta iniciativa é colocar lutadores moçambicanos na rota do UFC, a maior competição internacional de MMA.
Duarte Sitoe
O MMA é a sigla para Mixed Martial Arts, ou em português, “Artes Marciais Mistas”. As MMA são artes marciais que incluem golpes de luta em pé e técnicas de luta no chão. O MMA é uma modalidade de luta em que os praticantes não precisam seguir necessariamente um estilo específico de luta e possibilita ao praticante utilizar qualquer golpe, de qualquer arte marcial, como boxe, jiu-jítsu, karatê, judô, muay thai, entre outras, por isso o nome de Artes Marciais Mistas.
A Estação dos Caminhos de Ferro de Moçambique, considerada como a terceira mais linda do mundo, será palco, no próximo dia 26 de Fevereiro corrente, da primeira competição oficial das Artes Marciais Mistas no país. Nuno Rodrigues garante que o projecto veio para ficar, com vista a impulsionar a prática desta modalidade no país.
O projecto Txaya Fighting Championship foi lançado em Novembro de 2021 por um grupo de amigos fanáticos por modalidades de combate. Segundo Nuno Rodrigues, no processo da elaboração da iniciativa estiveram envolvidas muitas pessoas de diferentes áreas, desde médicos, fisioterapeutas e nutricionistas, ou seja, pessoas que lidam directamente com a saúde, em particular a do corpo.
“Lançámos o projecto em Novembro de 2021. E o processo de inscrição foi prontamente recebido pelos atletas, começamos a receber candidaturas a nível nacional e não só a nível internacional pelas nossas parcerias como a Federação Angolana de MMA e a Academia de MMA da República Democrática do Congo. Fizemos convites para que atletas destas academias possam participar deste evento. Recebemos candidaturas de atletas que praticam outras modalidades desde judô, karatê e boxe”, disse o presidente do Txaya Moçambique, para depois acrescentar que mais de 700 atletas se candidataram para fazer parte do certame, mas apenas foram seleccionados 74, uma vez que percebeu-se que alguns atletas ainda não estão preparados.
Na maioria das vezes não são bem vistos pela sociedade, até pela família, pois encaram esta actividade como ilícita ou de fomentar a violência, no entanto, segundo Rodrigues, é um desporto que existe rigor disciplinar, exige que o atleta esteja fora do álcool e das Drogas.
“Nos fizemos um registo na MMA Internacional, fora a do registo do Txaya, temos 78 atletas moçambicanos na maior Plataforma de busca de atletas do mundo, que é a Profighters, que funciona com o facebook e instagram dos lutadores. Os atletas fazem os seus cadastros e os maiores campeonatos, as maiores ligas fazem a busca e apuramento de atletas nesta Plataforma. Fizemos a gestão dos atletas, a captação de imagens, fizemos o cadastro dos atletas nesta Plataforma. Com isto, dá para perceber que é um projecto a longo prazo porque pretendemos desta forma criar em Moçambique uma incubadora do MMA.
“O maior Campeonato do mundo desta modalidade é o UFC e neste exacto momento das suas seis categorias eles têm quatro campeões que nasceram no continente africano, então significa que em África há potencial, há força de vontade. Estes campeões são bem pagos. Tem nigerianos e camaroneses que estão a trazer esta força para África e dar esta motivação que é possível, precisamos de rigor, treinamento e disciplina”, revelou.
“Pedimos apoio para os atletas e não necessariamente para o Campeonato”
O facto de atletas de origem Africana estarem no pódio em quatro das seis categorias do UFC prova o potencial que o continente tem nesta modalidade. Rodrigues considera que Moçambique tem muitos atletas talentosos e quer aproveitar este potencial para colocar o país na rota do UFC.
“Colocar moçambicanos na mais importante competição de lutas é o nosso maior objectivo. Tivemos Eusébio, que nasceu em Moçambique e ganhou a bola de ouro. Tivemos igualmente a Lurdes Mutola, que ganhou vários títulos no atletismo, temos a nossa selecção de hóquei, a de basquete entre outros. Isso dá-nos certezas claras que é possível, não importam quais sejam as dificuldades, é preciso ter garra, disciplina e ambição, tendo parceiros certos do lado. Queremos igualmente difundir a imagem da modalidade na sociedade. Queremos que os lutadores não possam ser olhados como violentos, mas sim como atletas”, projecta.
Apesar de ser a primeira prova que terá lugar no país, a organização recebeu inscrição de atletas estrangeiros que estavam dispostos a custear suas despesas de alimentação e hospedagem para fazer parte da competição. A fonte adiantou que numa primeira fase a prova será disputada por moçambicanos, mas não fechou a porta à possível participação dos estrangeiros futuramente.
“Temos que estar preparados em todos os sentidos para receber este tipo de evento. Teremos países como a Rússia, Malásia, Indonésia e Tailândia que são referências em lutas. Recebemos inscrições de atletas que querem custear os seus bilhetes de passagem, hospedagem e alimentação para fazer parte do torneio porque não há oportunidade nos seus respectivos países”, destaca.
Em Moçambique, muitos são os clubes que investem avultadas somas de dinheiro em algumas modalidades, mas não tem tido retorno. Nuno Rodrigues reitera que neste momento a maior preocupação da organização passa por investir na imagem dos atletas.
De acordo com Nuno Rodrigues, já está em marcha a criação da Federação Moçambicana de Artes Marciais Mistas e está em curso uma iniciativa que pretende despertar, nas províncias, o “bichinho” por essa modalidade de luta para que possam formar grupos, clubes e associações.

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