Agentes da UIR novamente associados a esquadrões da morte e ao crime organizado

Depois de em 2019 a corporação ter estado envolvida no assassinato do activista social Anastácio Matavele, a Unidade de Intervenção Rápida (UIR), uma força de elite da Polícia da República de Moçambique, volta a estar no centro de um escândalo ligado a expedientes de execuções sumárias de pessoas. Na última semana, dois agentes daquela unidade e um da Polícia de Protecção (PP) foram indiciados de coordenação de um plano fracassado de assassinato de Mohamed Assif Satar, mais conhecido por Nini Satar, que se encontra a cumprir pena na cadeia de Máxima Segurança, vulgo BO. Nos áudios das conversas preparatórias com alguns reclusos que deviam executar o plano, os agentes chegam a insinuar que o Presidente da República, Filipe Nyusi;  o comandante-geral, Bernardino Rafael e a procuradora-geral da República, Biatriz Buchili estavam a par da operação.

Evidências

Nini Satar, a cumprir pena de 24 anos após violar a liberdade constitucional, em conexão com  o caso do assassinato do jornalista Carlos Cardoso e que pesam sobre si vários processos ligados a raptos e que já foi pronunciado em casos ligados ao tráfico de drogas, acaba de escapar a tentativa de assassinato na Cadeia de Maxima Segurança, vulgarmente conhecida por B.O, encomendado por supostos cabecilhas de gangues do crime organizado de Moçambique.

A operação, planeada de forma meticulosa, seria executada por três elementos da Polícia da República de Moçambique (PRM), sendo um da Polícia de Protecção (PP) e dois da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), uma força de elite dentro da corporação.

Esta não é a primeira vez que agentes da UIR surgem envolvidos em um caso de assassinato, ainda que desta vez tenha sido frustrado. Em 7 de Outubro de 2019, durante a campanha eleitoral, cinco agentes do Grupo de Operações Especiais (GOE), uma subunidade da UIR, assassinaram a queima-roupa, em Xai-xai, o activista social Anastácio Matavele, membro de uma das actuantes organizações da sociedade civil naquele ponto do país.

A operação seguiu o mesmo padrão dos famosos esquadrões da morte e o seu envolvimento só foi descoberto depois de consumarem o crime, a viatura em que seguiam capotou, acabando por serem neutralizados. Para a sua defesa em tribunal, o ministério do Interior despachou, na altura, um famoso jurista da praça.

No caso da tentativa de assassinato de Nini, os três contactaram igual número de reclusos dentro da cadeia que deviam se encarregar pela execução destes, com recurso a uma arma do tipo pistola, de marca Makarov, que foi estranhamente introduzida naquela que é conhecida como sendo a principal cadeia de máxima segurança no país.

Dos três agentes da polícia moçambicana, dois já estiveram detidos na mesma, em conexão com crimes de tráfico de cornos de rinocerontes. Foi lá onde conheceram os reclusos que tinham acesso à cela restrita de Nini e que iriam executá-lo. O mandante é identificado com um cidadão branco, de origem paquistanesa, que se supõe que esteja ligado ao tráfico de drogas, raptos e até esquadrões de execução sumária de pessoas previamente identificadas.

Da estranha citação ao Presidente Nyusi, comandante geral e procuradora-geral

Os agentes da PRM desenharam a estratégia e serviam de elo de ligação com os reclusos que deviam assassinar “o menino das quantias irrisórias”, como ficou conhecido após uma célebre expressão no julgamento do Caso Cardoso. 

Em troca, o grupo, iria receber dinheiro e os membros presos beneficiariam de solturas, como dão a entender áudios das conversas preparatórias em que os criminosos chegam a insinuar envolvimento do Presidente da República, Filipe Nyusi; comandante-geral da PRM, Bernardino Rafael e a Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, esta última cuja instituição que dirige teve rixas com Nini no período em que esteve foragido, em que divulgou documentos confidenciais.

Segundo fontes, o plano viria a ser interceptado pela inteligência do Serviço Nacional Penitenciário (SERNAP) e seguranças ao serviço do Nini Satar dentro e fora da cadeia, que conseguiram a colaboração dos reclusos, o que permitiu que a investigação seguisse até a neutralização dos três agentes, nomeadamente Zeca Ngulele (PP), Edson Muianga (UIR) e Lenine Macamo (UIR). Todos são oriundos do distritos da Manhiça, Província de Maputo, Sul de Moçambique.

Acredita-se que a tentativa de execução de Nini possa estar ligada a disputas de gangues       de crime organizados de Maputo, pelo domínio do tráfico de drogas e raptos, negócios fortemente controlados pelo clã Satar em conexão com cidadãos paquistaneses, o que coincide com a descrição feita do mandante.

Nini Satar, que voltou a cadeia em 2018, depois de ter sido detido na Tailândia pela Interpol, na sequência de um mandado de captura internacional, depois de ter fugido do país sem permissão, acaba de ser citado numa investigação sul-africana baseada em fontes policiais e dos meandros do crime organizado como sendo quem dirigia a rede que se dedicava aos raptos na África do Sul e em Moçambique, com envolvimento de cidadãos dos dois países e paquistaneses.

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