Governo num dilema entre as imposições dos donos do dinheiro e o bem-estar do seu povo

DESTAQUE ECONOMIA
  • Moçambique, a Rússia é ali
  • Russos entregam uma proposta para o alívio ao custo de vida
  • Embaixador da Rússia mostra janelas de trigo e combustível baratoÚnica condição é pagar em rublos, mas o dilema é a dependência do FMI e companhia

As sanções impostas pelo ocidente à Rússia, na sequência da invasão à Ucrânia, geraram impactos negativos na economia mundial e contribuíram para o agravamento do custo de produtos como combustíveis e cereais. Com vista a aliviar o sofrimento dos moçambicanos que já vivem a corda no pescoço, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) pretende estabelecer uma ligação directa com o mercado russo. Contudo, o acordo assinado entre o sector privado e a Rússia está refém do aval do Banco de Moçambique, uma vez que o país presidido por Vladimir Putin está banida das transações internacionais no sistema Swift e as transacções serão feitas em rublo/metical. Mas há um outro entrave: o país está na bancarrota e acaba de receber um pacote de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), que tem políticas restritivas em relação a negócios com países sob sanções.

Duarte Sitoe

Na última semana, o embaixador da Rússia, Alexander Surikov, manteve um encontro com o Conselho Directivo da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), onde foram discutidos vários temas, com destaque para abertura dos investidores russos para o sector de cereais em Moçambique e como as empresas moçambicanas podem ter acesso directo aos fornecedores russos de trigo.

Falando à margem da reunião que teve com a CTA, Alexander Surikov avançou que para se aliviar o sofrimento nos mercados internacionais deve se aliviar as sanções contra a Rússia, tendo garantido que foi assinado um acordo para que os empresários nacionais possam fintar as sanções dos países ocidentais e aceder a cereais, fertilizantes e combustíveis baratos, ou seja, a metade do preço actual, de forma a aliviar o sofrimento dos moçambicanos.

“A Rússia está aberta para aumentar o comércio de cereais e fertilizantes para Moçambique e outras máquinas que necessitam para industrialização. A Rússia é uma potência na produção de energia e todos tipos, estamos abertos a estes projectos. Dentro de um mês planeamos realizar, na Rússia, uma comissão mista governamental de cooperação económica entre Rússia e Moçambique, mas ainda estamos à espera da resposta do governo de Moçambique para a aprovação das datas para discutir em detalhes o que Moçambique necessita para o seu desenvolvimento e aquilo que pode oferecer a Rússia em concreto para a realização do projectos de mútuo interesse, uma vez que o negócio só pode ser interessante quando é frutífero paras as duas partes”, disse Surikov.

“Mercado russo pode contribuir para a redução do custo de vida” – CTA

Em representação da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, Eduardo Sengo declarou que espera que o memorando com a Rússia abra uma janela para mais intercâmbio com o sector privado para que possa reduzir o custo de insumos não agrícolas.

Sengo garantiu, por outro lado, que a abertura com o mercado russo pode contribuir para a redução do custo de vida em Moçambique, tendo assegurado que para o acordo entrar em vigor depende sobremaneira do Banco Central.

“Os fertilizantes são comprados no mercado internacional e por causa disso têm intermediários no meio. Um dos aspectos com a MEREC, que é um dos líderes do mercado no processamento do trigo, é que possam fazer uma ligação directa com os fornecedores russos, e aqui vem a questão da moeda, e como sabem, estando a Rússia banida das transações internacionais no sistema Swift, isso complica os pagamentos. Uma das condições que se colocam é a possibilidade do Banco Central poder permitir que se pague em rublos e haver essa ligação directa junto dos fornecedores russos”, disse Sengo, atirando a batata quente para o “Xerife”, Rogério Zandamela, um quadro do FMI, fiel às políticas das instituições de Bretton Woods, que com certeza procurarão contrariar as janelas de oportunidades de preços baratos que a Rússia oferece.

Isso acontece numa altura em que o preço dos combustíveis continuam a disparar no mercado internacional e no país os preços tornaram o custo de vida mais caro. Com o memorando de entendimento rubricado com a Rússia, os revendedores terão a oportunidade de comprar o combustível mais barato e reduzir o preço de alguns produtos.

“Os revendedores dos combustíveis nesta primeira parte do ano estão a acumular prejuízos e as vendas estão a cair, cada vez que os preços sobem afecta as suas vendas. Há possibilidade de aceder ao combustível russo que está mais barato, está quase a metade do preço do que está no mercado internacional. Se houver esta ligação poderá contribuir para diminuir o custo de vida a nível do mercado do combustível porque neste momento o grande canal para o aumento do custo de vida é o combustível”, declarou Sengo, que é também um dos reputados economistas do país.

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