A imprensa e a subalternização da Mulher Moçambicana

DESTAQUE OPINIÃO

A imprensa moçambicana deve parar de noticiar da forma como noticiam quando as mulheres passam a assumir postos de liderança. Das notícias que leio sobre a nova SG da RENAMO não vejo nenhuma referência ao seu vasto CV como pessoa, profissional, mãe… Apenas a ligação ao seu irmão.

“irmã do célebre Adriano Bomba é a nova SG da RENAMO”, escreve o Savana.

Isso aconteceu também com a senhora Ludimila Maguni aquando da sua nomeação para secretária do Comité Central da Frelimo para a área de Comunicação e Imagem. A única mensagem que destacada foi o facto de ser filha do histórico Rafael Maguni. O resto sobre ela, zero. Anulamos por completo o seu CV, as suas lutas, a sua visão do futuro… Apenas destacamos que o partido no poder já tem uma mulher a assumir um cargo como se ela fosse acéfala. Não consigo entender o racional desta forma de (dis)pensar a mulher numa sociedade moderna. Há anos que vendemos essa imagem da mulher subalterna que só existe enquanto parente de…

Primeiro fizemos crer que a histórica Josina foi quem foi porque tinha ao seu lado Samora Machel. A seguir, foi com a mamã Graça Machel, muito embora ela tenha sido disruptiva nessa luta. Ainda assim não deixamos de fazer esse exercício de colação mesmo sabendo que Graça Machel é um verdadeiro ícone mundial.

Agora é a vez da nova SG da RENAMO. A única mensagem que vendemos da senhora Clementina Bomba é a de ela é irmã de uma figura histórica da RENAMO.

Estamos a regressar a um passado que nem devia ter existido: uma sociedade machista e misógina.

E isso irrita-me.

Manuel Matola (Jornalista)

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