É este o exemplo que queremos dar ao mundo?

OPINIÃO

Afonso Almeida Brandão

Esta semana trago um desabafo sincero e sentido sobre tudo aquilo que vemos e ouvimos por aí no tocante aos processos Judiciais e outras “embrulhadas” cheias de interrogações que surgem por parte da maioria dos Cidadões moçambicanos.

Não é uma análise às consequências e aos efeitos que são visíveis por todos nós, mas sim às causas, tentando assim fazer lógica e entender tudo aquilo que tenho visto cada vez mais a degradar-se, com muita preocupação.

Antes de mais quero confessar que a minha estranheza advêm do facto de não saber se sempre assim foi, se fui eu que acordei só agora literalmente para a Vida, ou se a Política e a Justiça, e mais concretamente a acção Governativa, tem vindo paulatinamente a corromper-se, ao ponto de hoje já só ser «um logro de mentiras e falsidades», ou, como alguém diz, de inverdades e pessoas desonestas ou de má índole, que apenas pretendem aproveitar-se dos mais incautos para assim retirarem os seus dividendos políticos e pessoais, num teatro degradante a que todos chamamos de Democracia, do qual o processo das «Dívidas Ocultas» é um dos seus “mais gritantes” exemplos, agora que chegou a hora (finalmente!) da revelação de culpa de uns tantos Arguidos que acaba de ser anunciada. E ainda «a Procissão vai no Adro»…

Talvez, como disse, tenha sido sempre essa a regra e não a excepção e agora esteja a haver mais abertura e coragem na necessidade de se encontrar os verdadeiros culpados, ou as pessoas tenham uma análise crítica mais acutilante que não permita mais que os vícios e estratagemas do Passado perdurem, e que, inclusive no Presente, no que toca à Justiça propriamente dita, já não os toleram (assim o espero), ou talvez tenha sido eu que fui ficando mais velho e desiludido à medida que vi que toda a cartilha frelimista de raíz socialista — que conheci e conheço bem de perto —, ou qualquer outra mais ideológica ou programática arvorada numa tecnocracia, ser cada vez mais esquecida e remetida para segundo plano por parte de quem “a esgrima” e exprime em julgamento um tanto ou quanto estéreis e, o que é pior, histéricos e fantasiosos, fazendo com que o julgamento dos culpados seja teórico, superficial e filosófico.

E somos forçados a entender que deveria preceder antes a uma acção que fose mais esclarecedora e contundente, em termos de resultado final, independentemente dos métodos que foram ou não  usados, ao longo de quase quatro anos de um dos Processos mais Mediáticos ocorrido em Território de Moçambique. Talvez a definição de Política de uma Jistiça mais perspectiva da Verdade ou ainda Sociológica seja isso mesmo, e talvez seja eu que sou idealista demais e que o facto é que sempre considerei e considero que não vale tudo, na Vida e muito menos na Política, e que muito daquilo que este grande instrumento da acção humana deveria ser, o serviço ao outro e ao bem comum, está hoje esquecido.

Ao invés disso penso que este Julgamento não passa/passou de «um lodo de várias mentiras», falsidades, “empatas propositados”, hedonismo e culto de personalidades, que foram tão fracas e frágeis que precisaram constantemente de um “séquito de bajuladores” bem pagos para lhes massajarem o frágil ego, pois os CULPADOS em causa sem esses Advogados de Defesa e Juízes que “desfilaram” pelo B.O. os ditos Arguidos não teriam aguentado resistir até hoje a sua própria existência, dada a falta de coragem e seriedade de que os seus “salvadores” não tiveram coragem de desmascarar os Arguidos que representavam… Complicada, esta profissão de Advogado!

Salvo claras e raríssimas excepções, hoje a Justiça e Política Moçambicana estão pejadas “destes espécimes”, os quais nem vale a pena particularizar. Todos sabemos quem são — generalizando um pouco — e que entram-nos pela casa adentro todos os dias sem nos pedirem por vezes permissão, a alarvar disparates uns atrás de outros e dão continuidade à sua ostensiva presença no espaço público, convencidos que são omnipresentes e amparados por um mediatismo proveniente alguns Órgãos de Comunicação Social da nossa praça, com um espírito crítico e questionador abaixo de zero, bem como uma subserviência à «Voz do Dono» que, embora compreensível (dado os parcos recursos e a excessiva dependência que têm dos primeiros), dá dó para quem está a observar.

A quem serviu o chapéu que se acuse, pois eu não estou para lhes dar mais palco ou importância para além daquela que infelizmente já granjearam, para desgraça de todos os cidadãos que tiveram e continuam a ter que depender destes. Os exemplos são demasiados e nem 10 edições de um jornal como o nosso poderiam porventura referir todos os casos que parecem surgir numa cadência vertiginosa, encurtando a periodicidade com que escandalosamente são noticiados de ano para ano e envergonhando aqueles que pretendiam outra escolha alternativa à FRELIMO, há tempo demais “no poleiro”….

Ainda assim há que perguntar se queremos pautar e alicerçar o construto teórico da nossa Política e da nossa Justiça nestes exemplos ou se, por outro lado, desejamos censurar estas práticas existentes e reprimi-las ao máximo, para que definhem até desaparecerem por completo!

E a Justiça seria uma das áreas a considerar urgentemente, em termos de remudolação, bem como das áreas da Saúde, do Ensino e do Desemprego, para que Moçambique e os Moçambicanos deixassem de viver abaixo do Limiar da Pobreza e de mão estendida à Caridade.

Por isso mesmo, urge criar um novo entendimento da Política, que tenha em linha de conta não mais o que é dito e as bonitas palavras, mas sim o que é feito e que a acção ou inacção tenham as suas necessárias consequências, sendo igualmente as pessoas consequentes consigo mesmo e com as suas decisões. Sem isto damos por nós sempre a desculpar o indesculpável, a defender o indefensável, sem que façamos um verdadeiro exame colectivo enquanto Sociedade que merecemos ser e perguntemos de uma vez por todas se é este o exemplo que queremos de pessoas a representar-nos, quer aqui, quer lá fora.

É esta a imagem que temos de nós próprios e aquilo que queremos mostrar ao Mundo e sobretudo aos nossos Duadores?! Ficam as perguntas.

Facebook Comments