Centro Educacional de Laulane aposta em bons exemplos para reter seus educandos nas aulas de alfabetização

SOCIEDADE

O Centro Alfabetização e Educação Laulane (CEL) tem apostado em referenciar exemplos de sucesso de antigos formandos para incentivar e reter novos alunos no centro de alfabetização. A informação foi avançada pelo director do centro, Lourenço Mavundela durante uma entrevista com cedida ao Evidências.

O director do CEL diz que o centro tem feito muito esforço para massificar a alfabetização mas é no seu entender tem havido pouca afluência dos rapazes e hoemens às aulas em relação às mulheres, tanto é que no ano passado a turma do primeiro ano tinha quatro homens e 17 mulheres e a turma do segundo tinha 6 homens e 19 mulheres.

“No ano passado tivemos uma turma que nós dizíamos que é turma de senhoras porque lá havia apenas quatro rapazes e o resto eram mulheres, e chegaram ao fim do ano dois rapazes. Para nós, isso já não é surpresa. Todos os anos nós trabalhamos mais com senhoras” refere o director Mavundela.

Lourenço Mavundela relata alguns casos de desistências às aulas embora não sejam tão recorrentes, em especial por parte das mulheres. “As poucas que desistem invocam vários motivos; um deles é que as senhoras dizem que têm que tomam conta das casas. Tem que acordar de manhã ir ao mercado ou machamba, e aliás, boa parte das senhoras com as quais trabalhamos são donas de machambas naquela zona de Mapulene e Albazine, e há uma altura do ano em que as senhoras sentem pressão por causa do trabalho nas suas machambas e elas preferem não vir à escola”.

“As mulheres têm dum modo geral uma maior expectativa, quando elas se matriculam querem saber ler, escrever e calcular, então se não encontram isso logo a primeira elas acham que estão a perder tempo, mas tudo é um processo de aprendizagem”. Ademais, conta que as aulas leccionadas no centro seguem um programa fornecido pelo ministério da Educação, e não podem aulas de forma aleatória”.

E na parte dos homens refere que alguns homens com os quais trabalham não trabalham em empresas, são pessoas que fazem trabalho informal, por isso “quando o negócio está a render mais prefere não vir à escola e prefere ficar vendendo para ter um pouco mais de dinheiro”.

Mas recorda-se com muita tristeza do caso de uma ex-estudante do 2º ano de alfabetização que teve que estudar às escondidas do seu marido porque este não aprovava a ideia de vê-la estudar. “Ela só vinha às aulas quando o marido não estivesse em casa ou estivesse de viagem”.

Mas o que mais lhe alegra é como o centro lida com os alunos de modo a retê-los até que concluam o ano lectivo. Em algum momento as mulheres ficando grávidas podem frequentar as aulas sem restrições, aliás, “em 2019 uma senhora depois de ter tido o bebé foi autorizada a frequentar as aulas com o bebé no colo. Ela passou a vir uma menina que ficava de fora da sala com o bebé enquanto ela estudava” relatou o director.

Para melhor enquadramento aconselha que os professores do centro são treinados a nunca tratarem mal os seus alunos ou desvalorizar por não serem letrados. “É necessário que tiremos aquele preconceito que existe nelas de que eu não sei ler, não sei escrever, eu sou inútil. Para lhes motivar ainda mais usamos exemplos de sucesso que tivemos de pessoas que passaram pelo centro, fizeram o primeiro, segundo e terceiro ano, fizéramos exames e hoje estão na 7ª e outros na 10ª classe”.

Por estas e outras estratégias, o CEL ganhou do ministério da Educação em 2015 um diploma de honra por causa da retenção e isso ainda se reflecte até os dias de hoje nas aptidões dos seus formandos.

Lamenta os casos em que alguns alunos desistem simplesmente porque esperavam aprender a ler, escrever e contar em pouquíssimo tempo, aliás, saber ler, escrever o nome e contar tem sido o objectivo de muitos alunos que se fazem aos centros de alfabetização.

O centro entrou em funcionamento em 1991 num contexto de instabilidade educacional e política que estava instalado naquele período. A falta de escolas e centros de formação estavam tão evidentes que as pessoas não letradas não tinham onde ter a instrução básica, e tal cenário fez surgir o CEL que desde então opera.

Facebook Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *