Save the Children forma provedores de ritos de iniciação em novos conceitos para erradicar uniões prematuras em Nampula

DESTAQUE SOCIEDADE

Sendo a Save the Children uma organização que trabalha em prol da defesa dos direitos das crianças nas áreas da saúde, educação, protecção e outros, emitiu com exclusividade um relatório ao Evidências elaborado pelo Gestor do projecto “Ela Pertence à Escola”, Beligio Cuco, em Nampula, indicando que no período de um ano até finais de Maio último “formou através deste mesmo projecto 239 provedores de ritos de iniciação nos distritos de Erati, Memba, Muecate e Nacaroa na província de Nampula, Cuamba, Mandimba e Mecanhelas na província do Niassa com objectivo de reduzir os índices de uniões prematuras e gravidezes precoces” naqueles pontos do país. Durante as capacitações estiveram envolvidos em discussões sobre vários conceitos e direitos a serem respeitados durante e depois dos ritos de iniciação, tendo ainda sido instruídos em matérias ligadas à protecção das crianças, Igualdade e equidade de género, e empoderamento das raparigas.

É pelos provedores dos ritos de iniciação assumirem na maior parte dos casos, que quando a criança começa a ter o período menstrual pode já ser submetida aos ritos de iniciação e ser ensinada (ou motivada a experimentar) tudo sobre sexualidade.

Em cenários como esses os rapazes não ficam de fora, pois ainda muito jovens caem na armadilha da paternidade precoce pois no seio das suas comunidades “já há um entendimento segundo o qual o crescimento é alcançado a partir do momento que este passa a ter a ter uma esposa”. Referencia um excerto do documento.

Esta crença abre espaço para a ocorrência de cada vez mais uniões prematuras pois os rapazes assim como as raparigas buscam a proeza de serem considerados adultos e poderem ter certos direitos e privilégios na comunidade por meio do casamento.

Conforme exposto no documento o “Ela Pertence a Escola” foi concebido “para alcançar mais de 72.440 beneficiários directos, entre os quais 32.506 meninas, 20.116 meninos, 11.380 mulheres, 8.438 homens em 140 comunidades, e mais 154.975 beneficiários indirectos (53.379 meninas, 43.592 meninos, 29.245 mulheres e 28.759 homens) nos distritos de intervenção já mencionados”, foi necessária e estratégica a formação dos provedores e apoiantes dos ritos de iniciação pois com base nos antigos conceitos da prática, no caso das raparigas basta o aparecimento da primeira menstruação que elas são comumente “empurradas” para casamentos prematuros pois já são tidas como mulheres crescidas.

A pobreza nas famílias faz com que os pais e ou cuidadores decidam aceitar ou promover um casamento prematuro da rapariga por entenderem que alimenta-la e cuida-la constitui uma despesa que deve passar às mãos e um outro homem numa outra família, que é na maioria dos casos, muito mais velho. Pior ainda pelo facto das raparigas e mulheres serem geralmente menos valorizadas em relação aos meninos no que toca ao acesso à educação e oportunidades de emprego.

Como tal, todos os formados passaram, desde a data da sua capacitação a colaborar com o projecto nas suas comunidades, escolas locais e famílias como promotores de melhorias de comportamentos e práticas sociais que visam promover os direitos da rapariga.

Uma vez que o sucesso do programa não depende exclusivamente de um único grupo alvo, foram igualmente identificados e capacitados um total de 247 membros de 132 comunidades como campeões de igualdade de género onde rapazes, raparigas, maridos, líderes religiosos de 132 comunidades foram formados como campeões em Igualdade de Género nos sete distritos (Erati, Memba, Muecate e Nacaroa na província de Nampula e Cuamba, Mandimba e Mecanhelas na província do Niassa) em matérias relativas à igualdade e equidade de género; direitos da rapariga e da mulher (focalizado na educação), uniões prematuras e forçadas, saúde sexual e reprodutiva de adolescentes, e Violência Baseada e Género (VBG).

Em suma, pelo transcrito no relatório o nosso país possui políticas que bem implementadas podem resultar na redução significativa dos casos de uniões prematuras, mas ainda se requer um grande investimento, comprometimento e envolvimento de várias instituições nesta causa que coloca Moçambique nos piores lugares quanto às uniões prematuras.

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