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SERNIC e PGR em acção contra Venâncio Mondlane em vésperas das eleições

 

Foram chamados, semana passada, pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), alguns membros da Renamo que trabalham directamente com Venâncio Mondlane, para prestar depoimentos sobre o seu nível de envolvimento na marcha de 18 de Março, onde são acusados de liderar a manifestação. Mais do que o envolvimento na marcha, relataram que a conversa foi centrada na figura de Venâncio Mondlane, cabeça-de-lista da Renamo nas eleições autárquicas de Outubro próximo. A margem daquilo que, de acordo com Venâncio Mondlane, indicia um novo plano de caça, o Evidências sabe que, embora esteja coberto de imunidade parlamentar, a Assembleia da República recomendou à Procuradoria-Geral da República a mover um processo-crime contra o relator da Renamo, em resposta a sua abordagem contundente sobre o caso de Macusse, naquilo que já é interpretado nalguns círculos como uma estratégia do partido no poder para o impedir de concorrer.

 

Nos últimos anos, o deputado Venâncio Mondlane, agora cabeça-de-lista do seu partido na cidade de Maputo, investiu em novos recursos de comunicação e aproximação com o eleitorado, tornando-se num dos políticos mais influentes, sobretudo entre os mais jovens, mas tamanha popularidade parece estar a incomodar o partido no poder, que, segundo alguns corredores, está a engendrar um plano para o tentar tirar de cena.

Depois de, em 2018, Venâncio Mondlane ter sido afastado da corrida eleitoral pela Comissão Nacional Eleições (CNE), na sequência da impugnação solicitada pelo antigo partido, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que considerou a candidatura ilegal, por Mondlane ter renunciado ao mandato na Assembleia Municipal de Maputo em 2015, a história repete-se.

Em vésperas das eleições e passados cinco meses desde a ocorrência da Marcha de 18 de Março, o SERNIC ouviu, na semana passada, alguns membros da Renamo que, curiosamente, trabalham directamente com Venâncio Mondlane na produção de suas transmissões online.

O interrogatório a pessoas próximas do cabeça-de-lista da Renamo sugere a reabertura da acusação feita pelo vice-comandante da PRM aquando das manifestações de 18 de março, em que considerava Venâncio Mondlane, a par de outras personalidades e instituições, um dos líderes de tentativa de golpe de Estado.

Evidências apurou que estão a ser feitos vários interrogatórios, ameaças e perseguições a alguns jovens que haviam sido detidos na 8ª esquadra da PRM no dia da marcha que fora autorizada pelo município, mas que, repentinamente, proibida pela PRM sem nenhum fundamento legal e sem nenhum documento escrito.

Para além desse assédio ao cabeça-de-lista da Renamo e pessoas próximos a si, Evidências teve acesso a um áudio em que Venâncio Mondlane é chamado a ser cauteloso nos seus próximos passos para não lhe acontecer o mesmo fim que teve Anastácio Matavele, assassinado em Gaza, a porta das eleições gerais de 2019.

“Eles têm medo e querem fazer tudo para que eu não possa ir a corrida eleitoral”

A abordagem de intimidação política não é nova, porém nunca envolveu ameaças de assassinato, mas o uso de instituições para inviabilizar sua candidatura. O político olha esses episódios com suspeita e encara a combinação dos eventos judiciais, com ameaças que tem estado a receber, como prova de que mais uma vez a Frelimo não esconde o seu medo de uma eleição transparente, vencida nas urnas e não nos escritórios.

“Significa que querem fazer tudo para que eu não possa ir à corrida eleitoral. Eles têm medo de me ver na corrida e querem voltar no que fizeram em 2018. Mas agora envolve também a minha eliminação física, pelo mesmo grupo que eliminou Anastácio em 2019”, denunciou o político.

E o seu receio não foi para menos, em 2018, quando foi indicado cabeça-de-lista pela Renamo, foi accionado um processo-crime contra Venâncio Mondlane, alegadamente porque na sua luta para a recuperação do Campo da Kodamo, o então vereador Lourenço Vilanculos, teria se sentido ofendido e teria exigido uma indemnização de seis milhões de dólares. Nesta ocasião, em frente à procuradoria da cidade de Maputo gerou-se um grande tumulto com milhares de membros da Renamo e centenas de simpatizantes exigindo a sua libertação.

No início do ano corrente, a Assembleia da República criou uma comissão parlamentar de inquérito para averiguar a denúncia feita pela imprensa sobre o tráfico de drogas usando o porto de Macuze, na província da Zambézia, mas a comissão de inquérito centrou a sua investigação em Venâncio Mondlane. No relatório entregue à PGR, esta comissão, fortemente dominada pela Frelimo, recomendou a abertura de um processo-crime, que na interpretação de Venâncio Mondlane resultaria na perda de mandato e aniquilação política.

A par do processo-crime acima indicado, o relatório da comissão parlamentar de inquérito recomendou também a abertura de um processo disciplinar contra o actual cabeça-de-lista da Renamo.

“Como é que um partido que tem 60 anos está a usar todos os métodos subversivos e ilegais a um jovem que não tem essa idade. Por que não fazer um jogo limpo e ir a campanha e deixar o povo votar”, questiona o deputado, quando abordado sobre as coincidências desses eventos com o período pré-eleitoral.

Refira-se que a história de perseguição desesperada a Venâncio Mondlane é bastante antiga. Em 2008, ainda como comentador residente na STV, foi alvo de intimidação sobre o lado oculto dos grandes programas de desenvolvimento que vigoravam na altura, como por exemplo o PARPA (Plano de Acção de Redução da Pobreza Absoluta ); PRO AGRE (Programa de Agricultura); PAPA (Plano de Acção de Produção de Alimentos); Revolução Verde; Biocombustíveis; JATROFA, …etc.

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