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Mancharam a vitória com o vício de exibir força em tudo

Na semana em que celebramos a vitória (07 de Setembro), data que lembra que somos produtos de luta, na semana de festejos, em que a selecção nacional de futebol, Mambas, qualificou-se para o Campeonato Africano das Nações (CAN-2024), a decorrer na Costa do Marfim, dias depois de se assistir a uma aparente pontualidade no processamento de salários na função pública e, nas bandas do Norte, a morte de líderes terroristas, não faltaram eventos que nos distraiam dessa felicidade. Nossas vitórias têm sido assim, relâmpagos e com uma dosagem de amargura.

 

A arrogância e a violência musculam-se nos centros do poder, desviando-nos do momento festivo proporcionado pelo futebol e pelos próximos eventos políticos, próprios do período eleitoral. A arrogância e a violência que se manifestaram em momento de festejos não foram para combater o inimigo da pátria no Norte, mas para impor separação entre o povo dos patrões do povo.

 

É o que se assistiu minutos depois de Clésio ter marcado o golo da vitória, o terceiro, aos 94 minutos, averbando assim o 3-2, quando os seguranças do Presidente da República se insurgiram contra os jornalistas. Revestidos de arrogância e ávidos de mostrar a força, violentaram um jornalista simplesmente porque filmava para o seu órgão usando um celular, uma prática comum e cada vez normal noutras polaridades mais sérias. Até ali na Presidência, jornalistas que acompanhavam delegações presidenciais de outros países, a exemplo da Turquia, que até entraram de calções, usaram celulares para filmar e transmitir para os seus canais.

 

Tentar inventar a negação do determinismo do Smartphone como uma ferramenta imprescindível do jornalismo moderno é tentar tapar o sol com a peneira ou tentar parar o vento com as mãos. O mais incrível é que a mesma guarda presidencial não violenta os jornalistas estrangeiros “que colocam o PR em risco” só por o filmarem com celulares.

 

O mundo não está parado e Moçambique não deve ser uma exceção, o uso do celular é uma prática normal no mundo e nas maiores e mais prestigiadas redações do mundo. No final conseguiram manchar um momento que era de festejos e chamar para si os holofotes, ofuscando inclusive ao PR a quem servem. Não é comum que os seguranças sejam notícia e os mais profissionais quase sempre procuram passar despercebidos.

 

Pelo mundo, a preocupação da segurança dos Presidentes foca-se no perímetro de segurança e na neutralização de possíveis ameaças à integridade do Chefe de Estado, e não com o tipo de câmera com que a imagem do Presidente é captada. Não cabe, senhores, na mente de qualquer pessoa de diligência mediana que um celular possa constituir um perigo à segurança do Presidente.

 

O que aconteceu na zona mista do Estádio Nacional do Zimpeto, que pela natureza é de acesso livre a jornalistas, é grave. Grave ainda se tivermos em conta que o jornalista Alfredo Júnior, a quem endereçamos os nossos sentimentos perante este atentado à sua moral e dignidade, estava devidamente identificado, com um colete que ostenta os logotipos do seu órgão e estava totalmente credenciado, e com a credencial pendurada e visível sobre o seu pescoço.

 

Dito isto, só num exercício de qualquerização de toda uma classe é que se pode situar os acontecimentos de sábado. Há de haver aqui, talvez, uma tentativa de enviar uma mensagem clara aos profissionais de comunicação social para que estejam cientes que apesar de ainda estarmos na lista dos 10 países mais pobres do mundo, conseguimos como legado dos últimos 10 anos embrutecer ainda mais os nossos irmãos da casa militar. Mas, também podem ter achado que ao não terem aparecido fardados, como tem sido apanágio nos últimos anos, precisavam dizer que nós estamos aqui.

 

Se é possível atentar contra a integridade e vida de um jornalista a frente do mais alto magistrado da nação, o que esperar dos Vahanles e Araújos desta vida que sofreram atentados publicamente. Duas semanas depois de Paulo Vahanle, Edil de Nampula, ter denunciado uma tentativa frustrada de o assassinarem, agora foi a vez do Presidente do Município de Quelimane, Manuel De Araújo, denunciar a frustração de uma tentativa de assassinato, também alegadamente protagonizada por agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM).

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