Apesar de caminhar a passos largos do 50º aniversário da Independência Nacional, Moçambique ainda não alcançou a independência financeira o que, de certa forma, contribui para que o país seja economicamente dependente. Para o filosofo e reitor da Universidade Técnica de Moçambique (UDM), Severino Ngoenha, o desenvolvimento do país está subjugado às políticas do Fundo Monetário internacional e Banco Mundial que “limitam a nossa soberania económica e restringem as nossas opções de desenvolvimento”.
De acordo com Severino Ngoenha, ao celebrarmos os 49 anos da independência de Moçambique, é imperativo que recordemos não apenas o dia da libertação política, mas também os séculos de opressão que precederam esse momento histórico, uma vez que a independência não veio sem um custo enorme: foi conquistada com a coragem e o sacrifício daqueles que se ergueram contra a escravidão, o colonialismo e todas as formas de dominação externa que marcaram nossa história.
Olhando para os 49 anos da independência nacional, o filosofo defende que Moçambique não pode apenas reflectir sobre o caminho percorrido desde os tempos sombrios da dominação colonial, mas sim dos retrocessos e uma crescente dependência pela fragilidade econômica e, sobretudo, da coesão social.
Relativamente a dependência econômica, Severino Ngoenha teceu duras críticas as instituições da Bretton Woods, nomeadamente, Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, visto que, ao seu ver, limitam a soberania econômica nacional e restringem o desenvolvimento.
“Após quase cinco décadas de independência política, Moçambique enfrenta níveis alarmantes de dependência económica. O nosso país, como muitos outros em desenvolvimento, se encontra frequentemente subjugado às políticas ditadas por instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Essas entidades impõem condições que não priorizam os nossos interesses nacionais, pelo contrário, limitam a nossa soberania económica e restringem as nossas opções de desenvolvimento”, lê-se no artigo de opinião de Severino Ngoenha sobre os 49 anos da independência nacional, intitulado “Hurra! O 25 de Junho”.
No entender do Reitor da Universidade Técnica de Moçambique, a interferência estrangeira, muitas vezes disfarçada de assistência benevolente, frequentemente serve para perpetuar as desigualdades e perpetuar relações de poder desiguais que comprometem a capacidade de Moçambique desenvolver, daí que defende que urge a necessidade vigilância para que o país seja mestre de suas próprias escolhas.
“Perante o espectro do colonialismo que persiste, que exerce uma pressão económica e alimenta divisões internas que ameaçam a unidade nacional; diante de um mundo em constantes mudanças, onde as políticas neoliberais e as estratégias de dominação evoluem constantemente, a nossa resposta deve consistir em redobrar o nosso compromisso com a unidade, através de uma vigilância permanente e um esforço por sermos mestres das nossas próprias escolhas econômicas e do nosso destino colectivo”
Se por um lado, Ngoenha refere que chegou o momento dos moçambicanos promoverem uma democracia social e, sobretudo, fortalecer a unidade e resistir às pressões externas que buscam dividir o país em interesses conflitantes. Por outro, refere que o país não pode olhar para a celebração da independência nacional como um momento de festa, mas sim buscar auto-suficiência econômica e tecnológica.
“Devemos reafirmar o nosso compromisso com Moçambique e com a liberdade, garantindo que cada aniversário de nossa independência seja um lembrete solene de nossos ideais e um chamamento à ação para um futuro mais justo e próspero para todos. Precisamos renovar o nosso empenho na construção de uma democracia inclusiva e participativa, onde o diálogo aberto e o debate construtivo sejam valorizados como ferramentas essenciais para o progresso(….) Devemos buscar fervorosamente a auto-suficiência económica e tecnológica, reduzindo a nossa dependência de assistência externa e promovendo parcerias equitativas que beneficiem verdadeiramente o nosso povo. Isso requer um esforço coletivo para desenvolvermos capacidades locais em todos os setores, desde a agricultura até a indústria e além, aproveitando o nosso potencial humano e recursos naturais de maneira sustentável e responsável”, referiu.

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