Hama Thai diz que os ideais da Frelimo são os mesmos, o que pode falhar é o “executor”

DESTAQUE POLÍTICA
  • 60 anos da Frente de Libertação de Moçambique
  • General na reserva afasta qualquer possibilidade do partido ter perdido foco
  •  “Os propósitos mantém-se… mas o executor pode não executar tal como imaginávamos”
  •   Não deixa claro a quem se refere, mas coincide com uma liderança questionada

Numa altura em que alguns segmentos da sociedade moçambicana entendem que a Frelimo está em rompimento com o povo, sendo dominado por grupos de interesses e lobistas, o general na reserva, António Hama Thai, descarta a possibilidade do partido ter se desvirtuado. No seu entender, até hoje, a Frelimo segue os mesmos ideais que nortearam a sua fundação há 60 anos, contudo reconhece que o “executor” é que pode estar a falhar. Meticuloso, o veterano da Luta de Libertação de Moçambique e académico não avança nenhum nome de um provável “executor”, mas os pronunciamentos coincidem com um momento em que a liderança do país tem estado a ser questionada.

 

Reginaldo Tchambule

 

Falando, semana finda, em Maputo, à margem de uma palestra à estudantes universitários sob o lema “Frelimo Seis décadas: Libertação, Governação e Sociedade’’, o general na reserva destacou que, desde a sua fundação, a Frelimo sempre defendeu a integridade territorial, o princípio de paz e a reconciliação e que, apesar da mudança dos tempos e dos actores, o partido continua o mesmo.

 

Reconhecendo que haja uma corrente de opinião que não se revê na Frelimo actual, que está mergulhada numa sucessão de escândalos, alguns ligados a corrupção, que mergulhou o país e seu povo numa crise sem precedentes, Hama Thai destaca que quem está a falhar são as pessoas, mas os propósitos do partido governamental, renovados a cada congresso, mantém-se.

 

“Tens de ver as ideias políticas da Frelimo que constam de cada uma das resoluções dos congressos e aí podemos ver os aspectos fundamentais, em relação ao desenvolvimento económico, educação e saúde. O propósito mantém-se, provavelmente pode um ou outro executor não executar tal como nós imaginávamos que o fizesse. Então, o que pode acontecer são as pessoas, mas o ideal, os propósitos, estão muito claros nos congressos da Frelimo”, sublinhou.

 

Na ocasião, lembrou que os congressos são os marcos mais importantes do partido, a começar pelo primeiro, em que aconteceu na sequência da criação da Frente de Libertação de Moçambique, tendo sido nele onde se traçou a estratégia de como é que se iria combater o colonialismo português.

 

E o segundo marco – no entender de Hama Thai – foi a realização do segundo congresso, onde pela primeira vez há uma resolução com relação à juventude e se estabelece que depois da independência deverá ser criado o Ministério da Juventude e Desporto, o que viria a ser materializado.

“Outro marco nesse período é sem dúvidas a assinatura dos acordos de Lusaka, portanto, que marcam o fim da guerra de libertação nacional e em seguida temos a transição e temos então a proclamação da independência”, lembra.

 

“É preciso rever medidas em curso no combate ao terrorismo em Cabo Delgado”

 

Militar de primeira craveira e com experiência na área securitária que era um dos pilares de Samora Machel, com quem privou longamente, Hama Thai descreve a situação em Cabo Delgado como grave e defende uma mudança de paradigmas nas medidas de combate à insurgência que tem estado a ser implementadas.

 

“O que está a acontecer em Cabo Delgado penso que é grave e é preciso se rever as medidas em curso porque não estão a surtir efeito desejados e a nossa esperança é que nos próximos tempos a população retorne para ocupar as suas regiões e assim prosseguir a actividade social e económica”, desabafou.

 

Em relação à reflexão lançada recentemente pelo Presidente da República em torno da eleição dos administradores distritais a partir de 2024, tal como consta na Constituição da República, na sequência do acordo com a Renamo, Hama Thai considera que é preciso notificar a outra parte – neste caso a Renamo – para a questão ser analisada conjuntamente.

 

“O que aconteceu é que houve um acordo que foi negociado. Agora, na minha opinião, se o acordo foi negociado e há algum impedimento na implementação, era necessário voltar a discutir a questão, o que me parece racional. Assumir um compromisso, tenho dificuldade em implementar o compromisso, é preciso notificar a outra parte para ver como é que fazemos para implementar o compromisso assumido. Para mim, essa seria a forma mais racional e aquilo que a ciência iria recomendar”, defendeu o General.

 

Erros no livro da 6ª classe: Hama Thay diz que nem era preciso criar comissão de inquérito

 

Dias depois da descoberta de erros básicos nos livros do sistema nacional de ensino, com destaque para o manual de ciências naturais da 6ª classe, o Governo constituiu uma comissão de inquérito para apurar os responsáveis. No entanto, recorrendo à sua experiência militar, o general na reserva, António Hama Thai, defende que é totalmente desnecessária.

 

No seu entender, havendo uma estrutura clara que permite perceber o que cada interveniente fez durante a cadeia de produção, revisão e avaliação do livro escolar, é possível identificar os “culpados”, sem necessariamente depender de uma comissão de inquérito.

 

“Eu tenho uma formação militar muito forte. Nós estamos acostumados que a organização tem estrutura e na estrutura sabe-se quem exactamente fez o quê. Então, se alguma coisa não correu bem, nós sabemos quem deixou de fazer, não é preciso criar uma comissão”, defende aquele que é um dos generais mais respeitados do país.

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