Daniel Chapo e a necessidade de ruptura discursiva

OPINIÃO

Arão Valoi

A campanha eleitoral rumo às eleições de 9 de Outubro próximo arrancou a todo o vapor um pouco por todo o País. Esta é uma fase interessante em que cada um dos quatro candidatos à presidência e os trinta e sete partidos ou coligações vendem os respectivos manifestos políticos, de modo a garantir a obtenção do chamado “buy-in” do eleitorado. No sentido inverso, o eleitorado tem também a oportunidade de analisar as propostas apresentadas pelos candidatos para a governação de um País que, nos últimos dez anos, ficou marcado por desafios significativos, como crise econômica, agravamento da pobreza, instabilidade política e gravíssimos problemas de corrupção. Com responsabilidade acrescida, o apelidado “candidato da malta”, Daniel Chapo, que concorre pela Frelimo, iniciou a sua campanha em Sofala. Com apoio de uma máquina eleitoral invejável, Chapo tem apostado em discursos mistos: por um lado, apela a continuidade e, por outro, apresenta um tímido discurso de ruptura. E é compreensível que isso aconteça. O excesso de controle e centralismo político por parte da Frelimo pode estar a contribuir para esta timidez inicial do candidato que, apesar de ter relevante experiência governativa, falta-lhe ainda tarimba para navegar em águas turbulentas e em contextos políticos minados e com teias de interesse muitas vezes inconfessáveis. A falta de incisividade e a ênfase na continuidade por parte de Daniel Chapo podem, igualmente, ser interpretadas como uma tentativa de não alienar os eleitores que ainda acreditam no potencial do partido para resolver os problemas existentes. A Frelimo, como partido dominante, pode temer que uma postura demasiado radical possa afastar eleitores que são resistentes a mudanças drásticas ou que têm uma visão positiva das conquistas anteriores, por mais problemáticas que possam parecer. Mas também pode resultar do medo do candidato em ferir sensibilidades. Por exemplo, ao falar da necessidade de integridade como factor crucial no combate à corrupção, Daniel Chapo pode ser interpretado como estando a insinuar que o actual Presidente do Partido não tenha sido suficientemente integro e cáustico nas suas incursões contra a corrupção. Habituada a seguir a sua famosa disciplina partidária, a Frelimo pode olhar a ruptura como afronta ao seu camarada presidente. Mas dada a insatisfação generalizada com a situação actual, uma abordagem mais incisiva em direção à ruptura poderia ser mais atraente para eleitores frustrados. E actualmente, quase todos os moçambicanos, incluindo alguns quadros do Partido Frelimo, estão insatisfeitos com o rumo do País, embora estes se manifestem em surdina ou em fóruns restritos. Desse modo, prometer mudanças significativas e reformistas poderia capturar o sentimento de urgência por transformação, oferecendo uma alternativa concreta e sustentável ao status quo. Adoptar uma postura de ruptura poderia ajudar a diferenciar Daniel Chapo de outros candidatos e da administração actual, marcando uma clara distinção entre o passado e o futuro. Isso pode ser especialmente importante porque vai ajudar a elevar a ideia de um líder íntegro, transparente, responsável e que, acima de tudo, partilha do sentimento do povo.

Por outro lado, Chapo precisa de vender o seu projecto político, trazer ideias e uma visão estruturante para um País órfão de esperança. Falar de corrupção na Polícia de Trânsito é bom, mas se calhar não seja algo tão estruturante como atacar questões sérias de desenvolvimento socioeconómico, criação de empregos, restauração da confiança para investidores, infraestruturas, combate à corrupção institucionalizada, terrorismo, raptos, entre outros. Uma postura tímida e focada na continuidade pode ser vista como uma falta de visão ou inovação, especialmente neste momento em que os eleitores buscam novas soluções e uma abordagem mais dinâmica para resolver os problemas enfrentados. De facto, ninguém está interessado na continuidade dos últimos dez anos. Por isso, Daniel Chapo precisa de se libertar e mostrar que ele está alinhado com os problemas da maioria dos moçambicanos. Isso vai, sim, ajudar a aumentar a visibilidade do candidato, enquanto gera aceitação e restauração de confiança por parte do Partido Frelimo. Neste momento, o maior adversário da Frelimo não é Venâncio Mondlane, é sim, o povo moçambicano.

No cenário actual, onde há uma demanda por mudança, uma falta de incisividade vai fazer com que o candidato perca a oportunidade de se destacar num campo eleitoral bastante competitivo. Outros candidatos, com destaque para Venâncio Mondlane, que apresentem propostas mais ousadas podem capturar a atenção e o apoio dos eleitores insatisfeitos.

Em suma, a abordagem inicial do candidato Daniel Chapo na campanha eleitoral reflete uma estratégia conservadora e cuidadosa, tentando balancear a necessidade de manter a base tradicional da Frelimo enquanto evita alienar os eleitores que podem estar frustrados com o estágio actual do País. No entanto, a eficácia dessa estratégia dependerá de como o restante curso da campanha se desenvolve e se Chapo conseguirá, eventualmente, adoptar uma posição mais assertiva e visionária que responda adequadamente às expectativas e necessidades dos eleitores moçambicanos.

Por seu turno, Venâncio Mondlane, o agora suportado pelo PODEMOS, adopta uma postura meio populista que se apega firmemente aos problemas enfrentados pelo povo, o que pode ser caracterizado como uma abordagem mais engajada e directamente conectada com as necessidades da população. Essa estratégia é evidenciada pela sua ênfase em destacar e abordar as dificuldades reais que o povo enfrenta, como crises econômicas, insegurança, corrupção, falta de transporte, entre outros. Venâncio Mondlane percebe que ele, como candidato, não é o maior adversário da Frelimo. Este é, sim, o povo e, sabendo disso, aproveita-se das frustrações do povo para buscar simpatia popular. Esperamos, ansiosamente, pela aparição de Ossufo Momade para apresentar-nos as suas linhas de governação do País.

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