Alexandre Chiure
No dia 23 de Agosto, o povo dormiu, como noutros dias, com incertezas sobre o que seria de si ao amanhecer e acordou acarinhado por políticos tentando influenciá-lo, cada um à sua maneira, da importante decisão, prestes a tomar, sobre quem deverá governar o país nos próximos cinco anos.
Alguns, andam vestidos de vermelho. Outros, de amarelo. Outros ainda, de azul. Há os que estão trajados de branco. Todos a espalharem promessas atrás de promessas de um Moçambique melhor. Políticos que fazem o povo sonhar acordado com uma educação de qualidade e um sistema de saúde à altura das necessidades dos moçambicanos.
Nos comícios e nos contactos interpessoais, alguns desses caçadores de voto vendem falsas esperanças. Fazem crer que uma vez eles no poder, o povo terá uma boa qualidade de vida que nunca experimentou nos últimos 49 anos da independência nacional.
Prometem emprego ante um batalhão de jovens, alguns dos quais com a décima primeira classe feita e outros, nem por isso, que não sabe fazer nada porque as políticas da educação privilegiaram o ensino geral ao invés de técnico-profissional para o saber fazer.
Os políticos, carinhos, tolerantes, pacientes e a distribuírem sorrisos por tudo que é canto, transmitem ao povo, nesta campanha eleitoral, uma mensagem de muita fartura e de uma sociedade pós-eleitoral sem raptos, terrorismo em Cabo Delgado e corrupção, hoje uma forma de ser e estar no país. Isso é bom demais para ser verdade.
Numa jornada em que, para eles, não importam os meios a usar, mas os fins a alcançar, os políticos jogam todos os trunfos para ganhar a confiança e a credibilidade do povo. Alguns, investem em audiências, transportando populações de distritos circunvizinhas para um ponto de concentração e emprestar ao comício uma enchente já mais vista. Enchentes para alegrar a vista e impressionar os observadores. Investem para que sejam opção de escolha do povo. Um povo cuja propriedade é reivindicado por todos os partidos, mas há um que se acha com legitimidade de ser o único dono do povo.
Os políticos, alguns dos quais já mais vistos a desenvolverem actividades políticas, a lutarem pelos interesses do povo. A denunciar a violação dos direitos dos cidadãos, a ajudá-los a encarar a vida com esperança ou a propor ao governo soluções para alguns problemas, dizia que os políticos fazem o povo sonhar com mudanças pós-9 de Outubro.
Incutem na cabeça do povo que a agricultura, que nos últimos 49 anos não conseguiu alimentar os já pouco mais de 30 milhões de moçambicanos, vai produzir o suficiente para o país deixar de importar comida.
Nos seus discursos, alguns vendem utopias de um Moçambique melhor, reconciliado e em paz. Um Moçambique verdadeiramente dos moçambicanos. Um Moçambique sem guerra e focado no desenvolvimento. Um Moçambique em que os recursos minerais são explorados em benefício de todos os moçambicanos.
Um Moçambique em que as multinacionais pagam impostos justos e à medida das suas actividades. Os políticos levam-nos a acreditar num país organizado. Num país que é país e não um projecto de país.
Em suma, prometem oferecer coisas que alguns dos políticos, hoje nas ruas do país a caçarem o voto, não têm. São partidos cuja maioria não possui sequer sede. Não há eleições internas para a escolha de membros para os diferentes órgãos. O mesmo que dizer que não há democracia interna, muito menos uma base de apoio.
Depois do dia 9 de Outubro, tudo voltará a ser como era dantes. Os sonhos, todos, serão para esquecer. Os políticos distanciar-se-ão do povo que lhes colocou no poder. Navegarão num mar de regalias com o povo a passar por necessidades básicas.
Iremos ver políticos a abocanharem oportunidades depois de prometer dividi-las por todos e a buscarem negócios no Estado para alimentar as suas empresas. Políticos a preocuparem-se mais com o seu bolso do que em resolver os problemas do povo. Algumas promessas ficarão por cumprir e a culpa não será do seu governo, mas da natureza, dos ciclones ou depressões tropicais, cheias, etc.
Os políticos continuarão a enviar seus filhos a estudarem em melhores liceus e universidades fora do país, com uma boa qualidade de ensino e os de operários e camponeses, dos varredores de rua, vendedores ambulantes e da mamã da esquina, nas nossas escolas sem as mínimas condições para o seu funcionamento.
Essas crianças distribuir-se-ão pelas salas sem carteiras. Algumas, a estudarem debaixo das árvores em pleno século XXI e como se isso não bastasse com sérios e crónicos problemas de distribuição do livro escolar. Este ano, o livro da primeira classe chegou no fim do primeiro semestre e o da segunda, ainda não foi recebido e ainda assim, o sector da educação mereceu elogios do Chefe de Estado, no seu último informe sobre o Estado da Nação, pelos progressos registados.
A aristocracia continuará a procurar assistência médica especializada no estrangeiro, em particular em clínicas sul-africanos, indianas ou chinesas porque, como é de esperar, nada irá mudar. Os hospitais públicos serão os mesmos de sempre: pobres e com necessidades básicas, nomeadamente bens de equipamento para o diagnóstico e tratamento dos doentes e falta de medicamentos.
O que os políticos não sabem é que o povo a que faço parte, esse, é diferente do de ontem. Este povo é mais exigente. Entende muita coisa. Sabe fazer contas e distinguir mentiras da verdade. Sabe tirar a prova dos nove. Que os caçadores de voto se cuidem para não cair no ridículo.
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