Share this
- Já não há martelanço possível e nenhum milagre salva a RENAMO
- Daniel Chapo em vias de ser confirmado Presidente, com base em dados da CNE/STAE
- José Manteigas, G. Carvalho e companhia entre os acólitos da desgraça
- Levaram direcção da Renamo a cometer erros que resultaram no pior desaire da história
- Resultados mostram derrota vergonhosa da Renamo e seu candidato, até na sua terra natal.
Já foram processados 100 %, pelo menos a nível provincial, dos resultados das sétimas eleições gerais, decorridas no último dia 09 do mês em curso, inaugurando uma nova configuração na arena política. Até ao cair da noite desta segunda-feira, a derrota vergonhosa de Ossufo Momade era uma certeza, mas havia uma réstia de esperança de que, por algum milagre, a Renamo pudesse se tornar a segunda força mais votada. Até o PODEMOS chegou a denunciar um alegado martelanço nesse sentido, contudo, os resultados da centralização provincial, tornados públicos, confirmam uma derrota histórica e humilhante da Renamo, lançada para um inédito terceiro lugar, em risco de “meter” menos de 20 deputados na Assembleia da República. O maior adversário da Renamo, como já previa Ossufo Momade, que chegou a namorar a Frelimo para uma estratégia conjunta de abate, foi Venâncio Mondlane, que puxou o PODEMOS da cauda para um assento prestigioso no xadrez político nacional. A Renamo de Ossufo Momade, que se mantem mudo e desaparecido, viu o voto de rejeição, confirmar um percurso de contestação, intolerância a nível de direção e uma concordância e simpatia suspeita com Frelimo, como se viu na aprovação da nova lei eleitoral. Se no passado houve supostos acordos com a Frelimo, a recente divulgação de resultados parciais, deixa claro que não há espaço para milagres que salvem uma Renamo, que conseguiu muito menos do que o PODEMOS.
Evidências
A rejeição de Ossufo Momade está associada a vários factores, desde a sua falta de carisma à punição pela forma como geriu o dossier que culminou com a saída de Venâncio Mondlane, que acabou se projectando como candidato independente.
Em Nampula, o maior círculo eleitoral do país, dados de apuramento parcial indicam que o MDM, na cauda, teve 3,40%; a Frelimo, 46,23%; a Renamo, 9,80% e PODEMOS 32,28%; Para as presidenciais, Daniel Chapo vai na dianteira com 50,46%, seguido por Venâncio Mondlane com 40,95%, enquanto Ossufo Momade esteve em terceiro lugar, com 6,29% dos votos.
São dados da terra natal de Ossufo Momade, onde supostamente, se esperava que o líder da Renamo encontrasse uma espécie de compensação da derrota como aquela sofrida em Gaza, onde não conseguiu nem 2% de votos.
Para além de Nampula, em todas as restantes províncias do país Ossufo Momade e a Renamo estão abaixo de Venâncio Mondlane e o PODEMOS. Nalguns casos como Sofala, chega a estar abaixo do MDM, sendo que na maior parte dos casos sequer chegou a 10 porcento de votos.
É preciso rever o percurso da presidência de Ossufo Momade para entender como a Renamo foi conduzida à tamanha decadência, num contexto caracterizado pela má governação do partido-Governo, a Frelimo, o que em outras democracias coopera para ascensão da oposição.
Ossufo Momade, cujo legado resume-se na assinatura de Acordo de Paz Definitiva e implementação de um problemático DDR, é o terceiro a seguir na lista da Presidência da Renamo. Tem mais experiência militar do que um capital político capaz de influenciar sua ascensão, que pode ser explicada pelo facto de a Renamo ser um partido que nasce de um movimento militar.
Um dos momentos marcantes do percurso de Ossufo Momade é, certamente, a sua eleição para presidente da Renamo, apesar do debate que houve na altura da suecessão, em que algumas pessoas diziam que ele não tinha um capital político muito forte para suceder a Afonso Dhlakama. Os resultados recentes confirmam que não houve qualquer engano e nem má fé nessa constatação.
Os pecados
A aparente ambição pelo poder e a intolerância contra os que ousaram questionar sua autoridade, são marcas indisfarçáveis de Ossufo Momade. Nos setes anos que está em frente da Renamo, Momade foi contestado por tudo e por todos, mas não mostrou qualquer capacidade de resolução pacifica para imprimir coesão dentro do partido. Mostrou-se um militar incapaz de aprender, pelo menos dentro do próprio partido.
A primeira voz a se insurgir contra a presidência de Momade, foi Mariano Nhongo, mais generais aparecerem a mostrar o desencanto. Pessoas que privaram com Dhlakama foram relegados para papeis marginais dentro do partido, com Momade colocando “estreantes” políticos que não imprimiam qualquer capital político. Estava ali identificada a incapacidade de liderar o segundo maior partido da oposição.
A reação de Momade foi de combate, diabolizando os seus contestatários, e nalguns casos, segundo denúncias, perseguindo os seus críticos. Longe de acusação de que não tinha capital político, sua aproximação com ao Governo/ Frelimo, com que debatia de forma secreta acordos estruturantes e de interesse nacional, não foi bem vista pelos seus críticos.
Aliás, em vários momentos, Momade foi acusado de ter sido comprado pela Frelimo, acusação que foi ganhando eco com o fraco desempenho da Renamo que se vem mostrando incapaz de capitalizar o eleitorado num contexto em que a Frelimo não se mostra melhor opção. Mas, Ossufo Momade reagiu publicamente que não foi comprado pela Frelimo e que está a “engolir sapos (da Frelimo)” porque quer “a paz para os moçambicanos”.
É no decurso deste contexto que na sua primeira aparição, apoiando-se no histórico das eleições em Moçambique, o candidato da Renamo à Presidência da República, Ossufo Momade, veio ao terreno deixar um sério aviso à navegação, ou seja, referiu que desta vez será implacável a fraude.
“Quando vamos às eleições, eles (Frelimo) provocam fraudes, e desta vez, neste ano de 2024, se eles provocarem fraude não vão fazer acordo comigo. Terão que fazer acordo com a população moçambicana. Eu não vou aceitar fraude porque nós não nascemos para estar na oposição, também queremos governar”, declarou Momade. Passaram-se as eleições, perdeu, há indícios de fraude, mas mantem-se mudo.
Além da conotação de que é um líder interessado no tacho, por isso a aproximação o Governo, a forma como Momade pressionou a Frelimo para que devolvesse os municípios usurpados com recurso a fraude eleitoral nas eleições autárquicas de 2023, não protegeu o voto dos eleitores que viram na Renamo uma forma de penalizar a Frelimo pela má governação de Filipe Nyusi. Estes também se sentiram traídos. Foram mais notórias as acções individuais dos próprios candidatos, como Manuel de Araújo, em Quelimane, Venâncio Mondlane, em Maputo, que a pressão presidente do Partido.
A fragmentação da Renamo: Da divisão à fuga de quadros
Em meio à crise de liderança no seio da Renamo, começou a dissidência de quadros que diferentemente da Junta Militar e outros generais que lutavam internamente sem se desassociar, passa notar-se fuga de quadros do partido que vão formar o próprio Partido, como é o caso da Renam Democrático.
Mas o combate ao Venâncio Mondlane, foi a que mais o marterizou, e arrastou com ele toda juventude da Renamo. No lugar de uma assessoria política a altura da crise, os pronunciamentos Geraldo Carvalho, José Manteigas, e companhia, mostram-se mais incenderias como se refletissem a fragilidade de direcção de um partido.
O Congresso forçado para a sua eleição, com fortes indícios de ter sido manipulado, foi o passo mais determinante para conduzir a Renamo a decadência. Ali tombaram figuras com capital político inquestionável, no entanto, combatidos por ousarem se candidatar à presidência do partido.
São os casos de Ivone Suares, Alfredo Magumisse, Elias Dhlakama, Manuel de Araújo, que de candidatos ou conotados para presidência, não chegaram a membros do Conselho Nacional, numa clara estratégia de abate. Quem acabou se evidenciando foram os acólitos da actual desgraça da Renamo, que foram ocupando lugares mais aconchegantes ao lado de Ossufo Momade.

Facebook Comments