- Quem assume os Namparamas?
Num passado recente, os Namparamas, guerreiros moçambicanos, que surgiram na década 80 no contexto da guerra civil e que aliam os conhecimentos tradicionais, elementos místicos e um sentimento de comunidade, combatendo o inimigo com arcos, flechas e lanças, posicionavam-se com um grupo que auxiliava as Forças de Defesa e Segurança a combater o terrorismo na província de Cabo Delgado. No entanto, nos últimos três meses, facções daquele grupo declararam guerra contra as Forças de Defesa e Segurança e dirigentes de nível local, no contexto das manifestações, o que tem resvalado em confrontações violentas, que resultam em mortes de ambos os lados. Interpelados recentemente para se pronunciarem a respeito, os ministros do Interior, Paulo Chachine; e da Defesa, Cristóvão Chume, mostraram não ter uma estratégia para lidar com o assunto, ao trocarem acusações sobre quem devia se responder sobre o assunto.
Duarte Sitoe
No contexto das manifestações e desobediência civil em curso, um novo fenómeno tem estado a ganhar contorno alarmante na sociedade. É a circulação nas províncias de Nampula e Zambézia, de homens armados com catanas, arco e flechas, azagaias e outros instrumentos perfurantes que desafiam as Forças de Defesa e Segurança, fazem justiça com as próprias mãos e, na semana passada, fixaram o ponto mais alto da sua actuação ao degolar um ex-militar e exibir a sua cabeça no lugar de destaque da principal via na vila de Murrumbala, na Zambézia.
Em Fevereiro em curso, concretamente no dia 05, dois membros dos Namparamas foram alvejados mortalmente pela Polícia da República de Moçambique depois de terem decapitado um secretário do bairro e, posteriormente, entrado em confrontos contra agentes da lei e ordem.
Recentemente, na província de Nampula, concretamente no distrito de Angoche, sete elementos dos Namparamas foram mortos na sequência dos confrontos com a Unidade de Intervenção Rápida quando se fizeram à rua para exigir melhoria do custo de vida.
Os modus operandi dos guerreiros que surgiram na década 80 no contexto da guerra civil e que aliam os conhecimentos tradicionais, elementos místicos e um sentimento de comunidade preocupa sobremaneira as autoridades.
Interpelado durante as cerimónias de celebração do dia dos heróis, o ministro do Interior, Paulo Chachine recusou-se a falar do assunto dos Namparamas e apontou o ministro da Defesa, Cristovão Chume como sendo a pessoa indicada para falar do fenómeno, por se tratar de um assunto de sua alçada. Na altura, Chume recusou-se a falar.
Entratanto, uma semana depois, questionado em Maputo, durante a tomada de posse do director do Centro de Análise Estratégica da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CAE/CPLP), sobre a estratégia de controlo do grupo, o ministro da Defesa, Cristóvão Chume, afirmou que a questão é da competência do Ministério do Interior, sublinhando que a intervenção militar será o último recurso, caso se justifique.
“A situação dos Namparamas é uma questão de segurança pública, que deve ser tratada pelo Ministério do Interior”, declarou.
A troca de acusações entre os ministros Chume e Chachine mostra uma possível falta de estratégia para lidar com os Namparamas, ou um desalinhamento das FDS. As declarações de Chume deixam dúvidas sobre o legítimo “responsável” pelos Namparamas, uma vez que a Polícia da República de Moçambique a nível da província de Nampula distanciou-se dos confrontos que culminaram com a morte de sete membros daquele grupo, que morreram com sinais de perfuração por balas.

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