Eleição de secretário-geral foi com candidato único, números quase coreanos e à moda Nyusi e Roque Silva

DESTAQUE POLÍTICA
  • Não bastou querer para ser SG da Frelimo
  • Daniel Chapo assume poder de facto e já não tem margem para justificar qualquer fracasso
  • Shakil Aboobakar diz que a Frelimo é um dos melhores partidos da Africa Austral
  • Nyusi diz que fez de tudo para manter a Frelimo no poder, mas não revela como

Apesar do debate em torno de o Presidente da República ser ao mesmo tempo presidente de um partido político porque inconstitucional, já era um dado adquirido que Daniel Chapo sairia da III Sessão Extraordinário do Comité Central do partido como o número um da Frelimo. Confirmado pelos seus pares, Chapo tem agora pouca margem para justificar falta de poder para implementar a sua ideia de governação. A dúvida pairava sobre quem seria o secretário-geral do partido que governa o país desde 1975.  À entrada daquela sessão, cintilavam nomes de vários pretensos candidatos e voluntários, com destaque para figuras como Edson Macuácua, Samora Machel Júnior, Cidália Chaúque, Verónica Macamo, só para citar alguns exemplos, mas a escolha acabou recaindo em Shakil Aboobakar que foi eleito à moda Filipe Nyusi e Roque Silva, ou seja, foi candidato único, tendo sido eleito com 221 votos, sendo que em jeito de desaprovação, 18 camaradas votaram em branco. Evidências apurou, no entanto, que, de um tempo a esta parte, a indicação é feita a dedo pelo Presidente do partido e que a votação é somente para carimbar. Visivelmente emocionado, Aboobakar, empresário natural da província da Zambézia, referiu que não esperava ser o escolhido e prometeu trabalhar para elevar a imagem do partido

Duarte Sitoe & Elísio Nuvunga

Apoiando-se no artigo 148 da Constituição da República, segundo a qual “o Presidente da República não pode, salvo nos casos expressamente previstos na Constituição da República, exercer qualquer outra função pública e, em caso algum, desempenhar quaisquer funções privadas”, o Centro de Integridade Pública (CIP) submeteu, no dia 13 de Fevereiro, uma providência cautelar para impedir que Chapo seja o sucessor de Filipe Nyusi na liderança da Frelimo.

Relativamente ao debate da inconstitucionalidade de Chapo ser Chefe de Estado e presidente da Frelimo em simultâneo, Nyusi declarou que a Frelimo não pretende se fechar ao diálogo sobre a separação de poderes do Presidente do partido e as do Presidente da República. No entanto, referiu que se trata de uma matéria que requer o aprofundamento e a decisão será tomada em sede do Congresso.

“Enquanto esta decisão não for tomada, coerentes connosco mesmo e firmes na nossa posição de sempre, e sem pressão de ninguém, vamos eleger o Presidente do partido”, encerrou o debate Nyusi, naquele que foi o seu último discurso, antes de Chapo sentenciar, no seu discurso, que “sai da política activa”..

Sem nenhuma pressão, tal como referiu Filipe Nyusi, Daniel Chapo foi confirmado presidente da Frelimo com 243 votos, seguindo assim a lógica de sucessão no partido sexagenário, tal como aconteceu com Joaquim Chissano, Armando Emílio Guebuza e Filipe Nyusi que presidiram a Frelimo, enquanto inquilinos da Ponta Vermelha.

Após a eleição, no seu discurso, Daniel Chapo comprometeu-se, sem reservas, a defender interesses do partido bem como os do povo moçambicano.

“Juro, por minha honra, servir fielmente o partido FRELIMO e a pátria moçambicana e entregar todas as minhas energias na realização dos objectivos do partido, defender e preservar a coesão”, disse Chapo.

Muitos queriam, mas prevaleceu a ditadura das candidaturas únicas

No reinado de Filipe Nyusi e Roque Silva não bastava só “se querer” para ser candidato, mas era imprescindível “ser querido” para “se querer”. Entretanto, muitos foram os nomes que perfilavam na lista de prováveis candidatos para o cargo de secretario-geral da Frelimo.

Edson Macuácua, Samora Machel Júnior, Cidália Chaúque, Verónica Macamo, Raimundo Diomba, entre outros eram apontados como prováveis candidatos e, nalgum momento, até favoritos, mas, debalde, as suas aspirações foram transformadas em cinzas, uma vez que se resgatou o lema de candidatura única que, por sinal, foi trazido no seio daquela formação política por Filipe Nyusi e Roque Silva.

Sendo candidato único, só uma hecatombe podia travar a ascensão de Shakil Aboobakar na Frelimo. O empresário natural da província da Zambézia, que é aposta pessoal de Daniel Chapo, que não quis sequer abrir espaço para disputa ao não indicar mais de um nome, foi eleito com 221 votos. Só não chegou aos famosos números coreanos porque 18 camaradas descontentes votaram em branco.

Visivelmente emocionado pela confiança em si depositada, Aboobakar jurou que vai empregar todas as suas energias para continuar a elevar a imagem da Frelimo e do seu novo presidente, Daniel Chapo.

“Não esperava, foi uma proposta da direcção do partido. Todos os militantes normalmente devem estar à espera das funções, seja uma pequena ou grande. Irei empregar todas minhas energias para continuar a elevar a imagem do partido e do camarada presidente”, disse Aboobakar.

Nyusi reconhece dificuldades, mas diz que tudo fez para manter a Frelimo no poder

No continente africano, sobretudo na África Austral, os partidos libertadores têm sido colocado em prova nos ultimos pleitos eleitorais. Para  o novo secretário-geral, a Frelimo “tem sido um exemplo na região como um partido que respeita a coesão no seu seio como também está aberto para ouvir outras opiniões (…)”, disse.

Na hora do adeus como presidente da Frelimo, Filipe Nyusi referiu que, apesar das dificuldades, fez de tudo para manter o partido fundado em Junho de 1962 no poderaté deixar o cargo.

“Tudo fizemos para manter o partido ainda no poder, feito por vocês, nas vossas mãos, juntamente com todos camaradas e em todo o nosso país. Os desafios não podiam não existir, tinham que existir e é por isso mesmo que existem dirigentes para resolver problemas e eu tenho esperança e a fé que este processo vai continuar ”, sublinhou.

Chissano diz que eleição de Chapo vai relembrar que a Frelimo foi criada pelo povo

Para o antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano, Daniel Chapo carrega vários desafios que o país e o partido enfrentam, sendo assim, uma chave para a resolução dos mesmos para além de incutir nas massas que a FRELIMO foi criado para unidade nacional.

“Daniel Francisco Chapo vai fazer a síntese deste nosso glorioso partido, iniciado em 1962. Vai rever os sucessos assim como também as dificuldades. Vai fazer síntese das formas que fizeram que ano a ano, o nosso partido conhecesse crescimento. Vai relembrar que a FRELIMO foi criada por este povo que era a única força para lutar para o próprio bem-estar e sua própria dignidade”, destacou.

Enquanto isso, o deputado e chefe da bancada parlamentar da FRELIMO, Feliz Sílvia, apontou vários desafios à nova missão dos recém-empossados presidente e secretário-geral do partido FRELIMO que, é sobretudo, responder aos anseios das massas, manter o país estável como sempre esteve.

“O principal desafio é criar o bem-estar para todos os moçambicanos e responder aos anseios deste povo. E, depois disso, posicionar Moçambique como sempre esteve, como uma nação de estabilidade, uma nação de paz”, observou.

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