Estudo confirma  panorama critico da Mídia em Moçambique

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Segundo o Estudo de Avaliação da Mídia em Moçambique, apresentado por Armando Nhantumbo durante a mesa redonda multissectorial sob o lema “Mídia em tempos de crise: uma reflexão a partir das eleições gerais de 2024, há uma sensação generalizada de insegurança entre os jornalistas, especialmente os de investigação. O levantamento conduzido por Nhantumbo, Luca Bussotti e Laura Inhauleque, revelou que as ameaças vêm tanto de forças políticas quanto de interesses económicos e que muitas vezes o medo se transforma em autocensura.

A pesquisa examinou seis áreas principais: segurança dos jornalistas, resiliência dos meios de comunicação, jornalismo investigativo, sustentabilidade financeira, transição digital e participação das mulheres no sector.

“Há uma sensação generalizada de insegurança, sobretudo entre jornalistas de investigação. As ameaças vêm tanto do poder político quanto do económico. Em muitos casos, a insegurança é usada como desculpa para impedir o trabalho da imprensa”, alertou Nhantumbo.

A situação em Cabo Delgado foi apontada como particularmente crítica. Segundo o investigador, a autocensura tornou-se um mecanismo de sobrevivência entre os profissionais da região.

“Há zonas onde os jornalistas são impedidos de entrar sob o argumento de segurança, mas que na verdade escondem um uso político dessas restrições. As fontes também têm medo de falar, o que dificulta profundamente o trabalho jornalístico.”

Além disso, a falta de protecção institucional empurra jornalistas para o isolamento. Poucos órgãos de comunicação oferecem suporte jurídico ou psicológico, e a maioria dos profissionais atua sem seguro, equipamentos de protecção ou preparação específica para coberturas de risco.

O estudo também evidenciou barreiras enfrentadas por mulheres jornalistas, especialmente na investigação, e defendeu políticas inclusivas e programas de capacitação contínua. . “É preciso haver políticas de inclusão e formação contínua para garantir que as mulheres tenham não só acesso ao sector, mas também protagonismo nas pautas mais sensíveis”, explicou Nhantumbo.

Jornalismo sob trincheiras

Para além da violência externa, o evento trouxe reflexões internas. Rogério Sitoe, presidente do Conselho Superior da Comunicação Social (CSCS), criticou o que chamou de “militância disfarçada” dentro das redacções.

“Muitos profissionais abandonaram a imparcialidade. Escolheram trincheiras políticas e editoriais. E, ao fazer isso, tornaram-se alvos”, afirmou Sitoe, defendendo que a ética jornalística precisa ser reforçada com formação e mecanismos de auto-regulação.

Para ele, a ausência de preparação específica para cobrir contextos eleitorais e de crise contribuiu para colocar os jornalistas em risco. “Estávamos no meio de manifestações, entre polícia e manifestantes, sem coletes adequados, sem plano de protecção. Isso é despreparo institucional e individual.”

O seminário terminou com um apelo conjunto de jornalistas, representantes da ONU e entidades moçambicanas para a criação de mecanismos formais de protecção à imprensa. A proposta inclui formação contínua, equipamentos de segurança, canais de denúncia, apoio jurídico e políticas de sustentabilidade económica dos meios de comunicação,  que, segundo o estudo, enfrentam sérias dificuldades para manter operações regulares.

“Não podemos esperar que o silêncio seja a única forma de segurança. Precisamos garantir que os jornalistas possam continuar a informar, mesmo em tempos difíceis. Isso é essencial para a democracia”, concluiu Nora Sarrat. (Luisa Muhambe)

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