Alexandre Chiure
Moçambique está a tornar-se cada vez mais perigoso. Não é preciso muita coisa para ser caçado, sequestrado e morto. Basta ser apoiante de Venâncio Mondlane. Para ser violentado, a sua casa incendiada e os seus bens vandalizados, basta usar camiseta, capulana ou chapéu com as cores da Frelimo e Podemos. A violência está à solta.
O advogado Elvino Dias foi barbaramente assassinado. Morreu crivado de balas. Não há certeza de nada sobre as motivações da sua morte, se são políticas ou não. A certeza que existe é que ele era braço direito de Venâncio Mondlane e a sua morte fragilizou-o.
Um pouco por todo o país, há relatos de casos de jovens que se destacam no movimento reivindicativo em curso no país ou que trabalham com o VM7, que andam desaparecidos porque alguém se encarregou de os raptar e matar na tentativa de intimidar os jovens e enfraquecer a base de apoio de Venâncio.
O caso mais recente foi de Dinis Tivane, braço direito de Venâncio Mondlane. Um grupo de desconhecidos metralhou a sua residência sita no bairro do Aeroporto, em Maputo.
Ele e a família estavam ausentes do país, o que me leva a acreditar que os assassinos estavam informados da sua viagem para a África do Sul e que os tiros eram apenas um aviso do risco de assassinato que ele corre ao trabalhar lado a lado com o dito presidente do povo.
O jornalista da TV Sucesso contabilizou 24 furos provocados por balas. O próprio dono da casa fala de cerca de 50. Seja como for, não faz sentido que alguém passe por aquela situação pura e simplesmente porque trabalha com VM7. Por que é que ele tem que correr riscos de morte devido às suas opções políticas? Que democracia é essa? Onde é que vamos terminar com essas perseguições?
No cúmulo da intolerância política, um amigo meu que trabalha no governo de Gaza ligou-me a lamentar que a situação política naquela província tenha atingido um nível tal em que é quase proibido alguém usar, no dia-a-dia, uma camiseta da Frelimo ou do Podemos, sob risco de ser agredido.
A propósito, circulou, nestes dias, nas redes sociais, um episódio desses em que houve pancadaria nas ruas da cidade de Xai-Xai porque um dos envolvidos estava trajado de uma t-shirt com o logotipo do partido no poder. Em Maputo, uma senhora de meia idade foi obrigada a tirar a camiseta que trazia no corpo pelas mesmas razões.
Se Gaza deixou ou não de ser bastião da Frelimo, a mim não me interessa. Não acrescenta valores na minha vida. Aliás, os últimos acontecimentos naquela província, nomeadamente: manifestações violentas, vandalismo e saque de bens públicos e privados em Xai-Xai, Chókwè, Chibuto, Chongoene e Macia, algo jamais visto, são sinais de que há mudanças do paradigma no campo político naquela província.
O que é assunto para mim é alguém sofrer actos de violência por causa de uma simples camiseta que recebeu durante a campanha eleitoral e que decidiu vesti-la não necessariamente para identificar-se como membro ou simpatizante da Frelimo, mas como roupa normal. Isso é que me assusta muito.
Podemos, até, não gostar da Frelimo ou do partido Podemos, de Albino Forquilha, ou, ainda, de qualquer que seja o partido. Cada um de nós está livre de fazer as suas opções políticas. O certo é que, no fim do dia, todos somos moçambicanos. Não devemos, de modo algum, nos encarar como inimigos só porque militamos em formações políticas diferentes. É errado e antidemocrático.
Bem que Gaza, e o próprio país, depois das eleições de 9 de Outubro de 2024 e das manifestações pela justiça eleitoral que se seguiram, não voltaram a ser os mesmos. Isso é um facto. Aliás, pela primeira vez um partido político na oposição, o Podemos, elegeu dois deputados dos 18 possíveis. Mesmo assim, em nenhum momento tal facto deve servir de motivo para nos matarmos uns aos outros.
Afinal de contas há democracia ou não em Moçambique? É que se democracia significa queimar a casa do meu vizinho porque ele é de um ou de outro partido, não contem comigo. Se significa raptar, matar ou violentar o seu próximo porque é membro ou seguidor do meu adversário político, eu caio fora.
Estou deveras preocupado com o facto de todos olharmos para estas barbaridades da mesma maneira, como simples espectadores, incluindo aqueles a quem cabe a responsabilidade, como Estado, de impor ordem e disciplina no país e garantir a segurança dos cidadãos e de bens públicos e privados.
Estou a falar de pessoas investidas de poder que, por razões desconhecidas, com a arrogância à mistura, pouco fazem na busca de soluções para o fim da crise política em curso no país. Preferem deixar o país à deriva e a estragar-se cada vez mais.
Pessoas que, por falta de humildade, ignoram os caminhos à vista e que podem conduzir o país à normalidade. Preferem entreter-se com o futuro em prejuízo do presente turbulento e assustador. Um presente que continua a cimentar a incerteza no país. Um presente que pode comprometer tudo. Os sonhos da Nação de um dia poder estar desenvolvido com os projectos de petróleo e gás e dos moçambicanos em geral de poderem desfrutar de uma vida melhor.
Os sinais chegam-nos todos os dias através de manifestações que ocorrem um pouco por todo o país e que não irão parar, nem com a estratégia de vencer pelo cansaço porque os motivos para a população se zangar são muitos. Basta olhar para erros de governação, promessas não cumpridas e outras motivações. O movimento reivindicativo chama-nos atenção para a necessidade de um diálogo entre o governo e o auto-intitulado presidente do povo. Essa é a única saída para que possamos viver em paz.
Venâncio Mondlane não tem nada a perder e nunca irá bater à porta, na Presidência da República, a pedir audiência, mas Daniel Chapo, esse, sim, tem muito a perder com a sabotagem da economia, promoção da desordem pública e desobediência civil..

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