Médicos residentes do Hospital Central da Beira declaram greve após dois anos de promessas incumpridas

DESTAQUE SAÚDE
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Dois anos depois de sucessivas promessas e adiamentos, os médicos residentes do Hospital Central da Beira (HCB) acabam de anunciar uma greve parcial a partir deste sábado. O motivo: o não pagamento das horas extraordinárias desde 2023, apesar de o Ministério das Finanças já ter autorizado a liquidação das dívidas e a regularização dos pagamentos mensais.

Jossias Sixpence – Beira

O grupo, composto por profissionais em formação de especialização provenientes de várias províncias do país, acusa a direcção do Hospital de incumprir reiteradamente os compromissos assumidos, mesmo após orientações expressas do Ministério das Finanças para a regularização dos pagamentos.

A decisão surge após várias tentativas frustradas de negociação com a direcção do hospital. “Se até ao dia 20 não houver o pagamento prometido, entraremos em greve — e assim será. Não é justo continuar a trabalhar sem receber há tanto tempo”, disse Atanásio Manuel (nome fictício), médico residente do HCB. Segundo ele, a paralisação abrange a maioria dos profissionais em especialização — muitos vindos de diferentes províncias — e poderá comprometer seriamente o funcionamento do maior hospital da região centro.

A situação arrasta-se desde a introdução da nova Tabela Salarial Única (TSU), em 2023, quando o pagamento de horas-extras foi temporariamente suspenso em todo o sector da saúde. Após vários ajustes, o Ministério das Finanças retomou, em 2025, o pagamento regular destas horas, autorizando, que fossem processadas mensalmente junto com os salários. No entanto, o HCB apenas procedeu ao pagamento dos médicos efectivos, deixando de fora os residentes em formação, que constituem a maioria do corpo clínico do hospital.

A direcção submeteu posteriormente os valores às “orgânicas de proveniência” destes profissionais, instruindo-os a enviar as suas folhas de horas para os respectivos distritos de origem — um procedimento que, segundo os residentes, carece de base legal, visto que todo o trabalho é realizado no próprio hospital. Após a intervenção do Ministério, foi decidido criar uma folha paralela no HCB para o pagamento desses valores, mas, até hoje, a medida não foi implementada.

“Essa nossa paralisação foi de consenso, se não houver pagamentos de horas-extras até ao dia 20 como foi prometido pela direcção do hospital junto com Ministério das Finanças, os médicos residentes vão entrar em greve como forma de pressão, até que a situação seja resolvida. A maior parte dos médicos residentes do HCB são ‘vientes’ de varias províncias e cobrem a maioria do grupo de médicos e esta paralisação pode criar um desfalque. Estamos cientes disso, mas, para nós, acaba por ser penoso termos que trabalhar por muito tempo sem os nossos ordenados”, disse um dos médicos.

Em Setembro passado, o grupo chegou a suspender uma paralisação após nova promessa da direcção do HCB, que voltou a não ser cumprida.

“O mais frustrante é que os médicos efectivos receberam, mas os residentes — que asseguram grande parte do serviço hospitalar — continuam excluídos”, lamentou outro profissional. Após intervenção do Ministério da Saúde, foi decidido criar uma folha paralela de pagamento no HCB para resolver o impasse, mas, até agora, a medida não saiu do papel.

Enquanto a burocracia se arrasta, cresce o descontentamento entre os jovens médicos que sustentam as urgências e os serviços hospitalares. O que começou como uma promessa de “normalização” virou um símbolo de negligência institucional — e a paciência, tal como o salário, parece ter chegado ao fim.

O Evidências efectuou várias ligações para a direcção do Hospital Central da Beira com o objectivo de recolher sensibilidades em torno do assunto, mas sem sucesso. Até ao fecho desta edição, a redacção ainda aguardava o retorno da instituição para confirmar a veracidade dos factos apresentados.

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