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A exigência de experiência profissional a recém-formados e jovens universitários foi alvo de uma reflexão contundente durante o VII Fórum dos Dirigentes das Instituições do Ensino Superior (IES) sobre a Governação Orientada para a Qualidade, realizado na cidade de Nampula nos dias 15 e 16 de Outubro. Vitória Langa de Jesus, académica e antiga directora do Fundo Nacional de Investigação, dentre vários outros cargos que assumiu durante a sua carreira, qualificou a prática como um erro grave que precisa de ser corrigido.
Evidências
Vitória Langa, que também foi júri em processos de selecção, denunciou a incoerência e a falta de empatia demonstrada nos actuais processos de recrutamento. A oradora criticou veementemente o pedido de longos anos de experiência a indivíduos que mal atingiram a maioridade, apontando o absurdo de se exigir, por exemplo, “cinco anos de experiência” a um jovem de apenas 20 anos.
Para Langa, o factor mais determinante para uma boa selecção não reside na experiência prévia, mas sim na capacidade do recrutador em discernir o potencial e a competência do candidato. A sua experiência, revelada durante o fórum, demonstra a viabilidade de admitir jovens sem historial profissional, detalhando o seu próprio percurso, que ilustra o sucesso que pode advir da aposta em talentos brutos, sem experiência
“Eu, quando procurei emprego, não sabia nada, mas uma instituição abriu-me as portas. Eu estagiei por três meses na altura, submetida a uma avaliação e depois a provas psicotécnicas. Fiz as provas psicotécnicas, passei. Submeteram-nos a um concurso de seis meses. Eu fui aprovada e imediatamente admitida”, recordou a académica que nasceu numa pacata aldeia de Xizavane, no distrito de Chidenguele, mas, mesmo assim, conseguiu se destacar profissionalmente.
A académica inverteu a lógica prevalecente no mercado de trabalho ao questionar o sistema que inviabiliza a inserção dos jovens.
“Agora, se nós continuarmos a dizer aos jovens que queremos pessoas com experiência de dois, de três anos, onde é que eles vão buscar?, questionou.
Vitória Langa confessou, com base na sua experiência em processos de recrutamento, que assume o risco conscientemente: “Eu tenho sido, em um momento qualquer, júri de selecção dos trabalhadores e, propositadamente, admito jovens sem experiência”
A premissa central de Vitória Langa é que a experiência não deve ser o critério de exclusão. A académica advoga que a chave para a contratação reside na qualificação do recrutador e não no histórico do candidato:
“Eu digo: o que tem que contar é termos um bom seleccionador para aquela profissão, aquelas especificações que estão lá descritas. Não é questão de experiência ou então os jovens nunca vão ser admitidos,” defendeu.
Concluiu a sua intervenção com um apelo de mudança de paradigma à classe empresarial e associativa, como a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA):
“Eu deixo também esse apelo que, por favor, tentem, cada um, não só, aliás, temos a CTA que arrasta mais de 200 ou 300 mil empresas. Tentem experimentar que isso vai dar certo,” apelou, lançando o desafio de olhar para além da experiência e reconhecer o potencial dos recém-formados.



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