Empresa municipal só factura 17.500 meticais por dia contra os 250 mil previstos

DESTAQUE SOCIEDADE
  • Dos 12 silos prometidos apenas 1 está em construção, já atrasado

O Conselho Municipal de Maputo, através da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMME), introduziu, em Junho de 2019, o sistema electrónico de pagamento do estacionamento rotativo remunerado, denominado M-Estacionamento. Entretanto, passados quatro anos, a empresa que foi criada com o propósito de aumentar as receitas da edilidade da capital moçambicana depara-se com alguns problemas que condicionam, sobremaneira, as suas actividades e as receitas prometidas estão a chegar a conta-gotas. Numa entrevista concedida ao Evidências, o PCA da EMME, João Ruas, explicou que o sistema não está parado no tempo, mas reconheceu que, actualmente, não está a operar em pleno e culpa a insuficiência de reboques para retirar automóveis em situação irregular.

Texto: Milagrosa Manhique

Quando o sistema electrónico de pagamento do estacionamento rotativo remunerado foi anunciado, há cerca de quatro anos, o  Município de Maputo, através da EMME, projectava colectar por dia entre 175 mil a 250 mil meticais por dia em pagamentos de estacionamento e multas. A empresa esperava apreender e sancionar pelo menos 100 viaturas por dia.

Contudo, volvidos quatro anos desde o arranque do M-Estacionamento, a situação é simplesmente desoladora. A EMME só tem capacidade para rebocar entre cinco e 10 viaturas por dia e gerar uma receita que ronda entre 8.750 e 17.500 meticais, o que pode ser sinónimo do fracasso de mais uma iniciativa do município.

Mas, apesar deste quadro sombrio, João Ruas ainda acalenta expectativas, inclusive tem a justificação de ocasião. Diz que a empresa que dirige não dispõe de reboques suficientes para bloquear veículos por não terem efectuado o pagamento.

Quem celebra o fracasso de mais uma iniciativa que era vista como tendo único propósito extorquir os munícipes é António Pires, que não tem dúvidas de que o sistema de estacionamento rotativo pode ter parado no tempo, uma vez que tem estacionado a sua viatura durante longas horas na Avenida 24 de Julho, mas nunca a mesma foi bloqueada ou rebocada por falta de pagamento.

“Estacionei meu carro aqui na Av. 24 de Julho desde as 10h e agora são 12h, não paguei e ninguém me bloqueou. Acho que a empresa que foi criada para cobrar taxas de estacionamento faliu. Como automobilista fico feliz com isso, porque é menos uma taxa a pagar”, celebra.

Mas nem todos têm a mesma sorte. Há, entre os automobilistas, quem se queixe das altas multas cobradas pela edilidade em caso de irregularidade. Eliseu Armando já foi multado por não ter não efectuado o pagamento do estacionamento rotativo.

“Estacionei meu carro em frente ao campo do Ferroviário e, quando voltei, o carro não estava no local. Pensei que tivessem roubado o meu carro, mas fui informado que foram as pessoas do município que retiraram a viatura. Quando cheguei ao escritório da EMME disseram que tinha uma multa de 2700 meticais.  Tive que pagar para ter o meu carro de volta, mas o município não pode criar taxas desnecessários para extorquir o cidadão. Ainda bem que parece que a empresa faliu”, desabafou Mário, para depois criticar o actual estágio das estradas na Cidade de Maputo.

“As estradas estão uma lástima, mas todos os dias o município cobra taxas. É vergonhoso o que está a acontecer na nossa cidade. Ao invés de cobrar taxas, o Conselho Municipal deve melhorar as infra-estruturas, porque há dinheiro para o efeito”.

Os 12 silos prometidos ainda não saíram do papel

Enquanto os automobilistas e a opinião pública celebram o fracasso de mais uma iniciativa municipal que lesava o bolso dos munícipes, o PCA da Empresa de Mobilidade e Estacionamento, João Ruas diz que o projecto não faliu, apenas enfrenta escassez de reboques para sancionar automobilistas em situação irregular, o que, no seu entender, de certa forma, contribui para a redução das receitas.

“Umas das maiores preocupações da empresa é conseguir trazer mais reboques para sancionar os automobilistas que não efectuam o pagamento. Agora, isso torna-se impossível devido à falta de reboques. Num Município que não há munícipes contribuintes, não há receitas e, por consequência, nossas estradas continuam com buracos”, disse Ruas.

Ruas ainda explicou que, por dia, entram mais de 20 mil carros na Cidade de Maputo, mas a EMME só tem capacidade para estacionar apenas 12 mil. Para suprir o défice, a edilidade prometeu construir mais 12 silos.

Dos 12 silos prometidos em Junho de 2021, na zona da baixa da cidade de Maputo, com uma capacidade individual para acolher 600 viaturas, a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMME) apenas conseguiu construir um silo, que por sinal ainda está em obras.

Questionado sobre o destino das receitas cobradas no âmbito do estacionamento rotativo, João Ruas referiu que “a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento construiu um galpão do Mercado Grossista do Zimpeto, construiu um edifício para estacionamento de viaturas no mercado central da baixa, pintou pavimentos nas vias públicas e reabilitou a estrada da Av. da OUA”.

Mostrando-se optimista, o PCA da EMME diz não ter dúvidas de que o estacionamento rotativo veio resolver os problemas da insegurança na capital moçambicana.

“Os automobilistas que antes confiavam a segurança das suas viaturas nos estacionamentos aos jovens que lavam carros, agora depositam todo o trabalho de controlo e segurança no sistema rotativo, assim sendo a EMME deve responder as preocupações dos automobilistas. Em todas áreas de estacionamento rotativo remunerado está uma equipa que zela pela segurança das viaturas, bem como a dos automobilistas”, disse.

Facebook Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *