Conselho Nacional de Ossufo Momade

OPINIÃO
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Alexandre Chiure

Para o presidente da Renamo, Ossufo Momade, o seu partido goza de boa saúde. O culpado pela situação por que passa nestes dias na organização é um grupinho de membros. A outra fatia da responsabilidade pela agitação interna vai para a “mão externa”. Pelo menos é o que deu a entender, semana passada, em Nampula.

Logo, na sua óptica, o movimento de contestação da sua liderança, encabeçada por ex-guerrilheiros, que exigem a realização urgente de um congresso extraordinário para o destituir do cargo, não é o problema da Renamo no seu todo, mas de um pequeno grupo de membros, com a interferência de forças externas.

O encerramento das delegações políticas provinciais e da própria sede nacional, em Maputo, que tivemos a ocasião de acompanhar, como uma medida de pressão à direcção da Renamo para que tome a atitude perante a crise que abala o partido, com actos de violência à mistura, é obra da minoria, porque, para Ossufo, a maioria dos membros e simpatizantes está com ele.

À chegada a Nampula, a caminho do Conselho Nacional, uma das coisas que OM disse à imprensa, na tentativa de fugir do problema, foi que não se iria recandidatar à presidência do partido. Por outras palavras, afasta a possibilidade “extraordinária” do Congresso. Além disso, a declaração não resolve a inquietação dos antigos guerrilheiros que o querem, urgentemente, fora da liderança da “perdiz”.

Ainda que essa pretensão de abandonar o poder seja verdadeira, isso só poderá acontecer em 2029, no fim do seu mandato, à boca das oitavas eleições legislativas e presidenciais, sendo que foi reeleito no congresso de Alto Molocué, na Zambézia, em que foi acusado de manipular o processo. Daqui até lá faltam quatro anos, o suficiente para o líder da Renamo mudar de opinião.

Nada me surpreenderia se OM vier a público, nessa altura, e dizer que não queria se recandidatar, mas os membros e simpatizantes querem que ele continue à frente dos destinos da Renamo por mais cinco anos e pronto. Não custa nada fazer isso. Basta voltar a manipular tudo ou comprar a consciência dos delegados ao Congresso para o reconduzirem ao comando.

O líder da Renamo teve a coragem de realizar, a 16 de Outubro, um Conselho Nacional à sua medida e gosto. Uma sessão que durou apenas quatro horas quando, pelo volume dos problemas existentes, seriam necessários, no mínimo, dois ou três dias de intensos debates.

Há por discutir as causas do fracasso da “perdiz” nas eleições legislativas e do próprio Ossufo Momade nas presidenciais de 2024, a necessidade de prestação de contas dos pouco mais de 70 milhões de meticais que o seu gabinete vinha recebendo por ano do Estado na qualidade de líder da oposição, e outros fundos do erário público, a crise de liderança que se verifica e outras questões.

A reunião de Nampula passou ao lado destes assuntos. Não discutiu a necessidade de demissão de OM e a convocação, a seguir, de um Congresso extraordinário para a eleição do seu sucessor. Essa era a expectativa dos moçambicanos, depois que perdeu a legitimidade para dirigir a Renamo. Pelo contrário, o que se viu foi um exercício de musculatura para consolidar a sua liderança, como quem diz “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Não se mostrou preocupado com o estágio deplorável em que se encontra o seu partido. Ele está nas tintas.

Não se assusta com o facto de a Renamo concorrer para o seu desaparecimento da cena política do país. Em 1999, tinha 117 deputados e Afonso Dhlakama ficou em segundo lugar nas presidenciais com 48 por cento dos votos. A julgar pelos números, ombreava com a Frelimo na Assembleia da República. Na última legislatura, possuía 60 assentos e hoje são apenas 28. O que será da “perdiz” nas eleições gerais de 2029? Só Deus é que sabe.

Naquilo que pareceu mais uma comédia do que propriamente uma reunião séria para discutir assuntos sérios sobre a vida da organização, o Conselho Nacional Renamo foi, pura e simplesmente, para o boi dormir. Ficou claro que não havia nenhum interesse em resolver problemas internos que se levantam, mas, isso sim, enganar vozes protestantes e simular paz e concórdia dentro do partido.

Depois de terem sido barrados na porta onde ia decorrer a sessão do Conselho Nacional, Elias Dhlakama e Alfredo Magumisse, quadros seniores da Renamo, foram usados por Ossufo Momade como cobaia para transmitir ao público a mensagem de que saíram da reunião mais coesos do que nunca, o que não correspondia à verdade, pois os seus rostos diziam outra coisa. Ossufo chamou-lhes para junto dele. Sorriu para eles, abraçou-lhes e disse que estavam reconciliados.

Eles, que não têm sido bem vistos pelo seu chefe ao considerá-los responsáveis da onda de agitação que se faz sentir dentro do partido, só entraram na sala por exigência de alguns membros do Conselho Nacional. Não fazia sentido exclui-los. Primeiro, porque são membros de pleno direito. Segundo, porque foi o próprio partido que os convidou e pagou, inclusive, todas as despesas da viagem para Nampula.

Os ex-guerrilheiros perceberam que aquilo foi uma palhaçada. Com os punhos cerrados, prometem, eles próprios, convocar o Congresso extraordinário e destituir o seu líder, que não me parece disposto a abandonar o poder, nem que isso signifique prejudicar a Renamo. Ossufo Momade perdeu a oportunidade de resolver os problemas existentes com os outros membros do Conselho Nacional, unir a família Renamo, promover a verdadeira coesão, reconciliação e relançar o sonho do partido de, um dia, poder governar Moçambique.

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