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A empresa francesa de energia TotalEnergies foi formalmente acusada esta segunda-feira, 18 de Novembro de 2025, de cumplicidade em crimes de guerra e tortura numa denúncia criminal apresentada em Paris. A acusação centra-se no chamado “massacre do contentor”, um episódio de brutalidade ocorrido numa concessão de gás da empresa em Moçambique, e foi apresentada pelo Centro Europeu para os Direitos Constitucionais e Humanos (ECCHR), uma organização não-governamental alemã.
O ECCHR alega que a TotalEnergies se tornou cúmplice do massacre por ter “financiado directamente e apoiado materialmente” soldados das Forças Armadas moçambicanas (FAM) que protegiam as suas instalações contra uma revolta ligada ao Daesh (Estado Islâmico). Segundo a informação avançada inicialmente pelo Politico, o ataque terá ocorrido entre Junho e Setembro de 2021 na concessão da empresa, resultando na brutalização e morte por fome de cerca de 200 homens por parte dos soldados financiados pela TotalEnergies.
“A TotalEnergies sabia que as forças armadas moçambicanas eram acusadas de violações sistemáticas dos direitos humanos, mas continuou a apoiá-las com o único objectivo de proteger as suas próprias instalações”, afirmou Clara Gonzales, co-directora do programa de empresas e direitos humanos do ECCHR, citada pelo Politico, que acrescenta que apenas 26 homens terão sobrevivido, salvos por uma força de intervenção ruandesa.
Esta denúncia, apresentada ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), marca a segunda acção judicial movida contra a operação moçambicana da TotalEnergies só este ano. Em Março de 2025, o Ministério Público francês anunciou uma investigação criminal formal contra a empresa por alegações de homicídio e omissão de socorro relacionadas com a morte de 55 dos seus contratados num ataque do Daesh ocorrido nesse mesmo mês, em 2021, na cidade de Palma.
Na altura, sobreviventes e familiares das vítimas acusaram a multinacional francesa de negligência durante o ataque jiadista. Enquanto Maputo divulgou um número oficial de cerca de 30 vítimas no incidente de Palma, o jornalista independente Alexander Perry reportou um número muito superior: 1402 civis mortos ou desaparecidos, incluindo os 55 contratados.
Na sequência dos ataques de 2021, a TotalEnergies suspendeu o seu projecto de exploração de gás em Moçambique, invocando força maior. A empresa, a sexta maior petrolífera do mundo, é accionista do projecto Mozambique LNG, que está actualmente suspenso devido à situação de segurança.
A agência Reuters adianta que o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, ainda não aprovou o novo orçamento e cronograma da TotalEnergies, que prevê o início da produção em 2029. A empresa afirma que os custos aumentaram em $4,5 bilhões durante a paralisação e exige que o período de desenvolvimento e produção seja prolongado por dez anos como compensação parcial.
O contexto de segurança continua tenso, com a Reuters a registar 137 incidentes de violência islâmica contra civis em Moçambique em 2025, um número já superior ao total de ataques de 2021, ano em que a TotalEnergies suspendeu as suas actividades na região.



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