Em 2017, Moçambique sagrou-se tricampeão mundial de salto a corda. Elvis, Ricardo, Edilson, Zefanias e José foram os responsáveis desta proeza que colocou Moçambique como o primeiro país a lograr tal feito. Entretanto, depois de surpreender o mundo, por falta de fundos e devido ao apoio por parte das autoridades que superintendem a área do desporto a nível nacional, o combinado nacional decidiu abandonar as provas internacionais. No presente, apesar de ser uma modalidade menos destacada na Pérola do Índico, Jeniffer sonha em um dia conquistar medalhas e troféus nas grandes fora de portas. Nesta edição, o Evidências traz uma parte da história de vida da Simon Biles do desporto moçambicano.
Em Moçambique, as modalidades como o hóquei em patins, ginástica artística, atletismo, karatê mesmo tendo elevado a bandeira nacional nas grandes competições internacionais continuam “no aguardo” de serem consideradas como prioritárias. Os recentes resultados provaram que o país tem tudo para, nos próximos anos, ser um gigante em algumas modalidades.
Apesar de ser uma modalidade desconhecida na Pérola do Índico, Jeniffer Matabel sonha em um dia representar as cores da bandeira nas grandes provas internacionais. A ginasta, natural da cidade de Maputo, veio de uma família humilde. Antes de completar um ano teve o primeiro revés na vida.
“Aos seis meses, perdi a minha mãe e quando ela partiu fiquei doente. Fiquei muitos dias internada no hospital de Xai-Xai, a minha família não acreditava que iria sobreviver. A família do meu pai abandonou-me porque não esperava que saísse do hospital com vida. A minha avó sempre teve fé que iria sobreviver, então depois um ano e meses Deus fez milagre e eu levantei da cama do hospital. Cresci chamando minha avó de mãe, porque não conheci minha mãe. Eu pensava que a minha avó fosse minha mãe”, narra a pequena, mas grande guerreira.
A ginasta declarou que teve uma infância dolorosa, uma vez a avó tinha problemas de saúde. “A minha avó sempre ficava doente também. Eu e o meu primo não sabíamos o que deveríamos fazer. Muitas vezes não tínhamos nada para comer, os anos passaram. Chegou um ano em que minha tia nos tirou de Xai-Xai para Maputo, onde a minha vida melhorou. Em casa da minha tia, desfrutei da minha infância”, relatou.
A paixão pela ginástica
A mulher elástica, assim como é carinhosamente tratada nos meandros desportivos, apaixonou-se pela ginástica ainda na tenra idade.
“O tempo foi capaz de me mostrar que tenho habilidades que desconhecia. Quando descobri que tenho esse talento, apaixonei-me pela ginástica. Comecei a praticar, mas infelizmente ainda não participei em alguma competição. Tenho feito exibições na escola com algumas colegas que tem as mesmas habilidades que as minhas”, disse Jennifer para depois acrescentar que em Moçambique não tem se apostado muito na modalidade.
“No nosso país a modalidade não é conhecida. Temos muitos atletas talentosos nas províncias que só precisam de apoio para continuarem a treinar e defender a bandeira de Moçambique nas grandes competições internacionais. Tenho planos dentro da modalidade. Queria que as entidades que chancelam o desporto em Moçambique olhassem para os atletas talentosos”.
Apesar de ser uma menina talentosa, Jennifer foi aconselhada por pessoas próximas a abandonar a ginástica e seguir outras modalidades, contudo, ela não deu ouvidos e continuou a praticar, na expectativa de ver as coisas melhoradas.
“No meu povoado, são poucas pessoas que conhecem a ginástica. Quando me iniciei na modalidade, muitas pessoas me aconselharam a desistir porque apesar do talento que tenho ninguém iria me apoiar. Decidi seguir os caminhos do meu coração, ou seja, mesmo sem o apoio deles continuei a praticar e tenho a certeza de que um dia surgirão pessoas certas para me apoiar”.
A atleta de 19 anos de idade sonha em algum dia participar duma competição a nível nacional e internacional. Desde que se iniciou apenas tem feito exibições na escola e na praia.
“Em Moçambique a ginástica não é valorizada. Tenho mais de 10 anos a praticar, mas ainda não fiz parte de nenhuma competição. Tentei investigar para me inteirar do real estágio da modalidade, mas infelizmente percebi que não se realizam competições de ginástica. Os dirigentes apenas olham para o futebol e se esquecem de outras modalidades que podiam trazer alegria aos moçambicanos. Como ginasta, é frustrante para mim saber que não tenho como competir”.
Simon Biles e Bruno Saraiva como fontes de inspiração
Como forma de apelo, a atleta natural da Cidade de Maputo, pede aos dirigentes desportivos nacionais para que dêem prioridade a todas as modalidades, dando exemplo daquelas que já lograram o feito de conquistar medalhas nas grandes competições internacionais.
“Num passado recente, fomos campeões mundiais de atletismo e salto acrobático com a corda, mas no presente, quase não se fala dessas modalidades. Temos de mudar de mentalidade para o bem do nosso desporto. Temos muitos atletas talentosos nas províncias, mas sem apoio não temos como aproveitar esses talentosos. Os nossos dirigentes devem deixar de olhar só para as mesmas modalidades”.
Como desportista, a menina elástica, apesar da falta de apoio na família, sonha em abraçar o profissionalismo e construir a sua própria academia. “A minha família ainda não entendeu a minha paixão pela ginástica, mas isso não me desmoraliza. Tenho o sonho de ser uma atleta profissional, mas o facto de estar numa província fechada não me tem ajudado muito. No presente, o meu sonho parece impossível, mas tenho a esperança de que no futuro o país vai organizar competições de ginástica”
Jennifer, que divide os ginásios com os estudos, tem como fontes de inspiração a campeã mundial e olímpica, Simon Biles, e o fisiculturista Bruno Saraiva. “Em Moçambique temos poucos ginastas, por isso, não há como apontar a minha fonte de inspiração, mas gosto muito do Bruno Saraiva. Ele é um dos melhores no que respeita à exibição. Fora de portas me inspiro na norte-americana Simon Biles. A Simon é muito talentosa, os títulos que ela já conquistou falam por si”.
Jennifer, que frequenta no ano corrente a 12ª classe na Escola Secundária de Manjacaze, nos tempos livres gosta de passear e conversar com os amigos.
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