Comunicação à Nação: há balanço positivo da entrada “solidária” de Ruanda no terreno

DESTAQUE POLÍTICA
  • Nyusi garante que Moçambique não paga nada pela ajuda militar estrangeira
  • SADC continua lenta para uma agenda pontual

É a primeira vez que o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, partilha com os moçambicanos os desenvolvimentos em torno dos ataques terroristas que se verificam em mais de seis distritos de Cabo Delgado, num momento em que se questiona a factura que deverá custear as despesas da intervenção estrangeira que já começa a somar avanços. Na sua comunicação à nação, no pretérito domingo, Nyusi aclarou que “ninguém pediu uma recompensa a Moçambique por estar a apoiar a salvação de vidas dos moçambicanos” e que o apoio da força ruandesa está no país ao abrigo do acordo bilateral entre os dois países, enquanto a força da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que chega tarde no terreno, tem enquadramento jurídico no Tratado Pacto da Defesa Mútua da região e no protocolo de cooperação nas áreas de política, defesa e segurança.

“A participação de Ruanda enquadra-se no princípio de solidariedade para uma causa nobre e comum, por isso não tem preço, pois trata-se de salvar vidas humanas, evitar decapitação de pessoas em Cabo Delgado e destruição de bens e infra-estruturas públicas e privadas”, explicou Nyusi, numa comunicação de pouco mais de uma hora, centrada em torno dos ataques em Cabo Delgado, desde finais de 2017.

No terreno, Moçambique conta com militares de Ruanda, os novos amigos de Moçambique, e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), numa acção coordenada pelas forças nacionais, enquanto que outros parceiros com destaque para a União Europeia e os Estados Unidos irão limitar-se a apoiar na capacitação das Forças de Defesa e Segurança.

“Não devemos temer este apoio, não devemos recear a presença de tropas de outros países. Nenhum país do mundo é capaz de ser auto-suficiente na luta contra o terrorismo”, afirmou o também Comandante-Chefe das FDS, Filipe Nyusi.

O Chefe do Estado explica que o mandato das forças estrangeiras é de ajudar as FDS a restaurar a segurança, tranquilidade e permitir a retoma da normalidade, pelo que a sua actuação no terreno obedecerá a preceitos preconizados em instrumentos próprios, no âmbito de uma estrutura de combate, previamente aprovada, para além de que Moçambique estará na vanguarda e direcção estratégica das operações.

“Está absolutamente claro que os moçambicanos estarão na vanguarda e direcção estratégica das operações por conhecerem melhor o terreno, contexto e serem os mais interessados na restauração da estabilidade em Moçambique”, disse, num momento em que se questiona a proveniência da factura que irá custear a intervenção ruandesa, um país próximo de Emmanuel Macron, cujo país tem um investimento bilionário em Palma, um distrito que vive sob o fogo cruzado do terrorismo.

Mas o discurso presidencial assegura que “ninguém pediu uma recompensa a Moçambique por estar a apoiar a salvação de vidas dos moçambicanos. Pelo menos eu e o meu governo não temos nenhum conhecimento”, atirou Nyusi, também acusado nalguns círculos como estando a colaborar na perseguição de exilados ruandeses no país.

 SADC continua lenta para uma agenda pontual

Um conjunto de mil homens ruandeses, entre militares e agentes da Polícia, estão em Cabo Delgado, desde 09 de Julho passado, com o objectivo de combater os ataques terroristas. Já a força da SADC, que desde o primeiro minuto assumiu que a intervenção em Cabo Delgado era um assunto pontual, é aguardada a qualquer momento, sendo que a equipa de avanço já se encontra desde semana passada em Nacala.

Nesta segunda-feira, as forças de Botswana chegaram no País, no âmbito do Tratado Pacto da Defesa Mútua da região e do protocolo de cooperação nas áreas de política, defesa e segurança, que regula o apoio da SADC. É o primeiro país da região a chegar no terreno depois que na semana passada foi reportada a chegada da equipa do avanço, um contingente sul-africano que deverá chefiar a Força Conjunta da SADC, que falhou a chegada no terreno do dia 15 passado.

Antes do gesto solidário dos “amigos” de Moçambique no combate à insurgência, Nyusi fez uma espécie da avaliação da nova abordagem do combate ao terrorismo em Cabo Delgado, assegurando que a “correlação de forças está a nosso favor”.

“A situação melhorou substancialmente em relação a alguns meses”, afirmou, assumindo, contudo, haver focos de instabilidade em alguns pontos que inclusive ainda estão nas mãos dos insurgentes.

Um dos pontos é a localidade de Awasse que até neste domingo estava a registar combates intensos com os terroristas a tentar recuperar a zona, que estava sob seu controlo, até há bem pouco tempo. Aliás, enquanto o Comandante-Chefe das forças de Defesa e Segurança falava à Nação, imagens não confirmadas inundavam as redes sociais denunciando matanças dos insurgentes surpreendidos pelas FDS, agora moralizados com os novos amigos da trincheira, os ruandeses.  

Quatro anos depois do início das incursões dos insurgentes, Nyusi disse que ainda não há clareza sobre as intenções do grupo. Contudo, já foram identificados cidadãos moçambicanos e de outras partes de África e Ásia que estão envolvidos.

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