- Escândalo sexual abala liderança da Igreja Velha Apostólica
- Apóstolo manteve relação de adultério por mais de 10 anos
- Nesse período excomungou vários crentes e superintendentes por adultério
- A esposa do queixoso sempre alegava cólicas e dores de útero para evitá-lo na cama
É um daqueles escândalos que deixa os membros de qualquer congregação religiosa de queixo caído e revoltados. Depois do recente episódio da troca de nomes e de estatutos para continuar a liderar a igreja até quando perder a vontade, o líder máximo da Igreja Velha Apostólica em Moçambique, Jaime César Matlhombe, que num passado recente excomungou alguns pastores por terem cometido adultério, é acusado de fornicar com a esposa de um membro superintendente da sua congregação, numa relação de amantes que durou mais de 10 anos. O denunciante é o próprio esposo, de nome Lhamine, que acusa Matlhombe de ter destruído a sua família. Tomando as dores do marido traído, os membros daquela igreja bastante projectada no país pedem a exoneração do Apóstolo da igreja e que seja excomungado, como fez com outros.
Texto: Evidências
Tudo começou há mais de 10 anos, quando a esposa do lesado, que mais tarde viria a ser promovida mãe superintende, decidiu procurar um emprego, com vista a ajudar o marido nas despesas da casa, uma vez que o custo de vida tende a subir. Lhamine autorizou a esposa, mas antes de avançar, sendo esposa de um membro com cargo de chefia na igreja, tinha que ter o aval do responsável da igreja.
“A minha esposa queria começar a trabalhar. Eu podia autorizar, mas antes de tudo tínhamos que informar o Apóstolo Matlhombe. Quando falamos com ele, disse que ela podia trabalhar na casa dele porque precisam de uma pessoa para ajudar nas tarefas de casa e por ser membro da igreja acabamos aceitando a ideia”, lembra.
A primeira desconfiança surge quando o líder da Igreja Velha Apostólica em Moçambique mandou a sua nova trabalhadora para fazer teste de HIV no Hospital Central de Maputo. Na altura, Lhamine ficou perplexo, uma vez que a sua esposa trabalhava como cozinheira.
“Quando a minha senhora veio me dizer que o pastor exigiu para que fosse no Hospital Central de Maputo fazer o teste de HIV fiquei boquiaberto. Na altura, consegui não descortinar os motivos dos testes, mas com o passar do tempo consegui entender a situação”, disse a fonte.
Pai Lhamine, como é conhecido na comunidade religiosa, contou ao Evidências que desde que a esposa começou a frequentar a casa do apóstolo Matlhombe a sua relação nunca mais foi a mesma. Amargurado por ver a família que construiu na base do sacrifício, o queixoso denunciou que a esposa mudou de dia para noite.
“Eu trabalhava na Moamba e só voltava a casa nos fins-de-semana. Com o passar do tempo, notava que a convivência já não era a mesma entre mim e a minha esposa. Sempre que a procurasse na cama, arranjava desculpas para me afastar. Ora era problema de útero, ora eram pontadas. Fiquei admirado porque na altura o nosso último filho tinha nove anos e ela nunca teve problemas do género. Para solucionar o problema, sugeri que fossemos ao hospital, mas ela sempre inventava desculpas para escapar”, revela.
Depois de alguns anos começaram a circular rumores de que a minha esposa tinha um caso com o Apóstolo Matlhombe. Na tentativa de abafar o caso, a família Matlhombe decidiu prescindir dos préstimos dela, apoiando-se na desculpa de querer mudar de residência.
“Quando surgiram rumores de que o pastor tinha um caso com a minha esposa decidiram que ela tinha que parar de trabalhar porque a casa estaria em obras porque quando chovia havia infiltração. Fui chamado e falaram sobre isso, mas a esposa do apóstolo disse que aquilo que andam a falar por aí não correspondia à verdade mesmo sem adiantar detalhes, mas não cheguei a comentar nada sobre o assunto”, sublinha a “vítima”.
A descoberta de uma relação que se vinha alastrando a 10 anos
A fonte conta que devido aos rumores sempre desconfiou, contudo conta que não teve como agir porque supostamente estava enfeitiçado. Ao Evidências, conta que por indicação do líder da Igreja Velha Apostólica em Moçambique, Jaime Matlombe, a esposa foi à casa de um curandeiro de onde trouxe uma garrafa cheia de remédios.
Segundo Lhamine, os remédios em alusão tinham o propósito de o prejudicar, visto que várias vezes sentiu-se mal e quando ia ao hospital os médicos não conseguiam diagnosticar nenhuma enfermidade. O tempo ia passando e a relação com a sua esposa era só de fachada, pois ela quase não aceitava que ele a tocasse na cama.
“Em Novembro do ano passado, a minha esposa ficou doente e em Janeiro do corrente ano a situação dela piorou. Ela ficou alguns dias em casa dos pais. Estando lá, pediu-me para que levasse rede mosquiteira. Quando estava à procura da rede deparei-me na bolsa com uma garrafa cheia de remédios tradicionais, percebi que aquilo é que me prejudicava. Aconteciam muitas coisas estranhas comigo, quando ia ao hospital fazer análises não conseguiam detectar nada, os médicos diziam que tinha que deixar de comer certas carnes, mas acabei descobrindo que o que me acontecia vinha daquelas drogas”, relatou.
Questionada sobre o suposto medicamento trazido dos curandeiros, uma coisa severamente abominado naquela igreja, segundo Lhamine, a sua esposa respondeu que o medicamento era para resolver os problemas de pontada que a castigavam nos últimos anos o que, de certa forma, não correspondia à verdade.
Mas foi só uma questão de tempo para a mentira cair, pois, segundo Lhamine, depois de 10 anos na defensiva, desconfiado, mas sem provas, a verdade acabou vindo de bandeja e com provas inequívocas.
Foi graças a um furto de telefone da mãe superintendente que a fonte descobriu que a esposa tinha mesmo uma relação com o líder da Igreja Velha Apostólica em Moçambique e que, não obstante a traição, ambos falavam mal dele.
“Em Agosto, ela foi roubada o telemóvel e como comprou na loja foi fazer uma participação na esquadra. Depois de alguns meses os agentes do SERNIC conseguiram recuperar o telefone e solicitaram a presença dela na esquadra. No princípio, ela não queria ir, mas insisti que fosse, quando chegou a esquadra lhe entregaram o telemóvel. Como ela já tinha um telefone novo disse que podia me dar o que foi recuperado e ela aceitou, mas antes tentou apagar algumas coisas. Quando meti meu cartão descobri mensagens que ela vinha trocando com o pastor”, revela Lhamine.
“Acabei descobrindo que nesses dez anos que estou a sofrer é por causa deste pastor. Quando tivesse um programa com o pastor não tinha problemas de pontadas e nem do útero, esses problemas só apareciam quando estivesse comigo”, disse a fonte, revelando que o casal dificilmente fazia sexo mais de uma vez por mês e era sempre depois de muita insistência.
Refugiado numa casa de amigos, após abandonar a sua própria para se encontrar consigo mesmo, Lhamine confessa que foi humilhado pelo responsável da Igreja em Moçambique em virtude de ter perdido o emprego. Nos áudios das conversas entre o Apóstolo Matlombe e a esposa de Lhamine, a que o Evidências teve acesso, o líder da igreja chega a chamá-lo de preguiçoso e insinua que este não tem vergonha de comer comida cuja proveniência desconhece.
“Quando está a pregar na igreja fala que um homem que não trabalha deve tentar fazer alguma coisa para sustentar a família. Por ter perdido o emprego, me ocupava com a banca, mas, segundo o que ouvi num dos áudios, o pastor zombou de mim quando a minha esposa disse que estava na banca, e adiantou que não queria me ver a vender. Isso me doeu porque ele me roubou a esposa e agora está a me insultar”, desabafou.
Uma tentativa de ocultar o caso e familiares furiosos
África do Sul era o ponto de encontro preferido para Matlhombe e a esposa do membro. A esposa saia de casa alegando que ia à África do Sul fazer compras para revender em Moçambique. A fonte conta que mesmo com todas as evidências, a esposa não aceita que tem um caso com o apóstolo.
“Quando reunimos em família ela negou tudo, enquanto já existem provas de que aquilo que vinha desconfiando era mesmo verdade. Dizia que ia à África do Sul comprar coisas para revender, enquanto na verdade ia se encontrar com o Matlhombe. Na África do Sul tinha um motorista que ia lhe buscar assim que descesse do Machimbombo. E o mais estranho é que sempre que voltasse de uma viagem alegava estar muito cansada, mas dizia que conheço muitas senhoras que vão à África do Sul, mas não reclamavam do cansaço. O cansaço dela é que se ia encontrar com o Matlombe”, desabafa.
A relação entre o líder máximo da igreja Velha Apostólica em Moçambique e a esposa Lhamine deixou um rasto de destruição nas duas famílias. Uma anciã que se identificou pelo nome de Anadircia era o rosto da desilusão em virtude do que aconteceu com o seu sobrinho e acusou a direcção da igreja de tentar ocultar o caso.
“Preocupa-nos o que está a acontecer. O meu filho vinha sempre reclamando do mau estar da esposa. E nós como família achávamos isso uma coisa anormal porque pessoas casadas não podem ficar muito tempo sem manter relações íntimas. Quando descobrimos entramos em contacto com o Pastor Bila que é o responsável pela igreja em Inhambane, mas ele disse que o meu sobrinho devia ir ter com o pastor, mas ele não tem como ir enfrentar uma pessoa que tem mais poderes em relação a ele”, relata.
A tia do queixoso declarou que a direcção máxima da Igreja Velha Apostólica em Moçambique deve pronunciar-se sobre este escândalo e, se possível, excomungar o Apóstolo, tal como ele fez com os outros membros.
“Preferimos denunciar o caso porque a direcção da igreja não tem vontade de o esclarecer. Não podemos calar porque isso vai virar moda. Queremos que a justiça seja feita, porque os responsáveis das igrejas devem ser pessoas idóneas e não aqueles que se aproveitam dos cargos de chefia para roubar as esposas dos membros”, disse a tia do queixoso.
Outro membro da família que preferiu falar em anonimato avançou que em caso da igreja não se pronunciar nos próximos dias vai enviar um ofício à sede da congregação na África do Sul.
“Quando descobrimos que o apóstolo mantinha relações com a esposa do nosso filho juntamos as duas famílias para resolver o assunto, mas a outra família negava tudo, alegando que queria provas. Agora que temos todas as provas estão envergonhados e se limitam a pedir desculpas. Foi um duro golpe para nós, olhávamos para o pastor como exemplo, mas é vergonhoso o que aconteceu, considerando que o meu filho trabalhava ao lado do pastor na igreja”, desabafa.
“A igreja ainda não se pronunciou, ele procurou o outro Apóstolo para expor o problema, mas este disse que era para procurar o Matlhombe e falar com ele. Quando nos informou sobre isso dissemos que não, ele não podia ir ter com a pessoa que andou com a sua mulher durante 10 anos. Os apóstolos não passam de uma cúpula, não querem resolver o problema. Queremos reação da justiça da igreja, queremos que haja justiça brevemente porque se eles não se pronunciarem vamos levar o assunto para a África do Sul”, ameaçou.
Para além da família do lesado, há um movimento de crentes em Maputo e Gaza, sua área de jurisdição efectiva, que pedem a destituição imediata do líder máximo da igreja em Moçambique, não só por acharem a sua atitude imoral, mas também porque a doutrina da igreja assim reza.
Aliás, é possível ouvir o sentimento dos crentes em vários áudios postos a circular em grupos de WhatsApp e há também vários textos partilhados no Facebook, apelando para a sua destituição. Há quem prefira ficar em casa e não ir à igreja, pois, regra geral, em quase todas as paróquias está estampada uma fotografia do Apóstolo acusado de adultério, num contexto em que há quem acredite que haja mais vítimas das aventuras libidinosas do apóstolo na congregação.
Um dos superintendentes que foi “mandado aos bancos” (excomungar na linguagem da igreja) por Matlombe, em 2003, por ter se envolvido com uma mulher jovem que mais tarde viria a se tornar sua esposa, pede que a mesma punição seja dada ao Apóstolo.
Apóstolo Matlhombe foragido e incomunicável
Antes do fecho desta edição, tentamos, por inúmeras vezes, contactar o apóstolo Jaime César Matlhombe para ouvir a sua versão dos factos sobre as acusações que lhe são imputadas, mas o mesmo não atendeu aos nossos telefonemas. Tentamos contactá-lo por via de uma pessoa próxima que prometeu intermediar, contudo não foi possível ouvi-lo.
Aliás, segundo apuramos, o Apóstolo Matlhombe, com forte ligações ao poder e que está envolvido num outro escândalo de uma tentativa de privatização da igreja, anda foragido desde que o escândalo despoletou e não só não se comunica com os crentes, como também não dá nenhuma satisfação a ninguém.
Inconformados com a falta de posicionamento do Apóstolo e da igreja em Moçambique, enviamos igualmente um E-mail para a sede da igreja na África do Sul a pedir a reacção da Igreja Velho Apostólica (OAC, na sigla em inglês) em relação a este escândalo que está a abalar a igreja em Moçambique, mas até ao fecho desta edição não foi possível ter a resposta. Continuamos aguardando os posicionamentos oficiais da igreja e do Apóstolo Jaime Matlhombe, os quais serão reproduzidos neste jornal.
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