Pode existir um desastre maior que este?

EDITORIAL

“Se você construir um exército de 100 leões e seu líder for um cão, em qualquer luta, os leões morrerão como um cão. Mas se você construir um exército de 100 cães e seu líder for um leão, todos os cães vão lutar como um leão”, dizia Napoleon Bonaparte.

Temos o hábito de centralizar as decisões e depois quando corre tudo por água baixo, descentralizamos as culpas, porque não queremos assumir que o problema é liderança, uma receita perfeita para perpetuarmos o desnorte, e ignorar a causa. Não é possível achar a cura de uma doença que não reconhecemos a causa.

Mas o tempo não mente. É cada vez mais cristalino que onde a nossa liderança toca, se transforma num caos, como se vê agora na educação, e é oportuno fazer uma retrospectiva e ver o país que nos tornamos nos últimos sete anos. Afinal, os lunáticos que defendem continuidade também recorrem ao percurso dos últimos sete anos para argumentar que existiu algo de bom neste caos, que agora escangalha sem piedade a Educação, depois de esvaziar a Saúde até deixar os hospitais em pleno centro da capital moçambicana sem analgésicos ou um simples paracetamol.

Nunca foi tão evidente o quão o problema do nosso país tem a ver com liderança como agora e isso se torna mais preocupante quando aquilo que nos indigna como sociedade não importuna aos nossos dirigentes, nem ao Presidente da República, nem à ministra de Educação e Desenvolvimento Humano. Não resta dúvidas que a agenda desta gente é outra e não diz respeito a este Moçambique.

O silêncio mostra cumplicidade. Não é concebível um governante não se sentir violentado quando os nossos livros são produzidos por autores, editores e revisores portugueses, cinquenta anos depois de Moçambique ter supostamente assumido as rédeas do seu país. Vai daí que logo no berço os dirigentes de amanhã são ensinados (no livro de História da 10 classe) que o colonialismo veio trazer “uma relativa paz e estabilidade” e que “as guerras étnicas deixaram de ocorrer” porque todos passaram a ser portugueses. Trata-se de uma visão eurocêntrica que ignora que nunca houve igualdade entre os colonizados e colonizadores; ignora o sistema de indigenato, que haviam indígenas, régulos e assimilados que são grupos que não estavam em paz uns com os outros porque o proprio regime colonial mandava uns subjugarem os outros. Um texto que se refira a consequências políticas do colonialismo que não fala de exploração e exclusão, não deixa de ser um manifesto político pro-colonização.

Um líder que se quer sério, não devia apanhar sono quando a nossa Matemática ensina que 5 x 3 = 10; quando a nossa geografia retira o país da África Austral e desloca mares, golfos e territórios para fixar uma nova localização para o Grande Zimbabwe. Podemos perdoar a má indicação de páginas, as ilustrações erradas, erro na indicação de cores, números por extenso mal escritos, entre outros absurdos dos nossos manuais do Sistema Nacional de Ensino (SNE), mas não deixa de ser escândalo quando um manual aparece com um páginas viradas de cabeça para baixo.

Mudou-se o Sistema Nacional de Ensino (SNE) pensando-se no negócio, e o resultado veio denunciar o que realmente importa para a nossa elite, que nem humildade de mostrar a cara e assumir os erros tem, preferindo delegar. E surge aqui a necessidade de perguntar: Não seria esta uma forma de sabotar o país, minando a educação para que nem na próxima geração se consiga líderes capazes de gerir este país, perpetuando a crise de gestão de um país rico, mas empobrecido?

É que no princípio normalizou-se dois dias de aula por semana com argumentos da Covid-19, depois desdramatizaram o atraso de entrega de manuais alegando atrasos nos transportes, um absurdo inadmissível que acarinha os culpados por não ter seguido o cronograma, para depois dar esse golpe, cujo argumento foi vazio, sobretudo quando surgem relatos de pessoas ligadas a Comissão de Avalização e Revisão dos manuais que só se recordam de ter ido tomar chá e aquecer os bancos do Ministério. Já agora, o que foi feito da nossa DINAME e qual é o papel do INDE? Por que temos que rever o curriculum escolar de mandato em mandato para o deixar pior do que estava?

Relegarmos a segurança aos ruandeses, a educação e bancos aos portugueses, as estradas aos chineses, quase sempre com requintes de alguma corrupção a mistura. Por que colocamos os moçambicanos como eternos pedintes do ocidente? A resposta pode ser a falta de capacidade de produzir líderes, por andarmos a brincar de educar.

No lugar de minar os dirigentes de amanhã, um ridículo esforço de perpetuar a crise de gestão deste belo Moçambique, é hora de a sociedade ensaiar um impeachment, quando os representantes são os primeiros a relegar a nossa soberania.

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