Acerto, Erro e Correcção

OPINIÃO

(para o Jornalista Fernando Gil, com Amizade e um Abraço Fraternal e Moçambicano)

Afonso Almeida Brandão

Ao rever, nos últimos dias, crónicas de opinião para publicar em Livro — entretanto, dispersas por diversos Jornais e Revistas da Europa e da CPLP, a título de exemplo —,  embati em mim próprio algumas vezes nessas releituras. Tentando explicar-me um pouco melhor, transcrevo parte de um texto publicado em Maio de 1986. (…) “E fico, às vezes, um pouco espantado com isto: onde se situam as tabuletas de passagem, quando algo em mim se vai tornando mais claro e concorre, simultaneamente, para adensar o nevoeiro do quadro do Mundo que me retrata? E as correcções que faço, o que remedito e revejo, não me divide mais? Que distância me separava do que era importante antes? E que distância me separa do que é importante agora? Para que lado e em que sentido me corrijo? E os novos feixes de luz são mais reveladores que a luz de outrora, desapoiado, morreado?”

Foi assim, num certo dia de Maio de 1986. Mas, não é intenção dramatizar os espaços de dúvida que me vão acompanhando. Vivi sempre com eles e tentei defrontá-los. É o caso de hoje, olhando e tentando inventar o que deixei para trás e de como me fui refazendo.

“Em que sentido me corrijo?” — e que ajuda me posso dar para ficar mais próximo do que sou? Reconheço um incómodo no momento em que escrevo estas linhas, dedicadas a um Querido Colega da «Velha Guarda» e Amigo: não coincido com a ideia de um Mundo “onde bate”, acima de tudo, o “Coração Materialista”. Mas não fico por aqui, tento repetir a visão: é que, em relação a muitos milhões de pessoas, esse “coração materialista” é o da Sobrevivência.

Participo dessa multidão com as obrigações naturais de qualquer um que, escolhendo o seu caminho, faz o possível por continuar. São inúmeras  as “cartas do baralho” a que chamamos “sistema”, e não nos lembramos com a urgência necessária  que o sistema, ao fim e ao cabo, somos nós. O que com ele fazemos é o que ele nos devolve. E esta realidade, já se sabe, não é lisa, tem muitas zonas de sobressalto ou de preocupação.

Qualquer movimento de um ser humano deve começar “por dentro”. O que isto quer dizer? Não trago qualquer ideia nova, porque a Harmonia possível e a Justiça exteriores começam a partir de nós próprios, da nossa chamada à consciência. Se falharmos muito nessa questão crucial é porque, além de sermos naturalmente incompletos, levamos pouco em consideração o efeito do nosso comportamento nos outros. Qualquer nível de afirmação pessoal transporta consigo, mesmo sem intenção, factores de desafio ou de colisão. E não há que fugir disso. A afirmação pessoal é um direito. E também uma necessidade, testemunho de vida.

“Começarmos melhor” por nós próprios, além de nos ajudar no plano da auto-exigência, também ajudará um pouco os outros? Creio que sim. A confusão e a velocidade do Mundo de hoje precisa desse esclarecimento pessoal, uma espécie de reinvenção do convívio natural onde possa caber, a pouco e pouco, TODA GENTE.

Não é fácil. Sabemos por nós próprios, como jornalistas profissionais que somos, há mais de meio século, que é complicado.

“Corrijo-me”, insisto. É um programa para todos os momentos: o acerto, o erro, a correcção. Revisito palavras e comportamentos, vejo as consequências, volto a errar, depois acerto. E vou corrigindo. Com esta relativa vigilância talvez procure evitar, um pouco, uma certa irresponsabilidade que vai tocando a todos e onde cada um  procurará se esclarecer. Trata-se do “sistema humano” que encaixa, ou não encaixa, no “sistema estrutural”. Trata-se, enfim, de exercitar um desenvolvimento harmonioso.

Os espaços de dúvida que nos assola a todos começam a ser preenchidos, suponho, com uma exigência pessoal de humanismo, que é, simultaneamente, FARDO e LIBERTAÇÃO. Para não nos afastarmos tanto. Para continuarmos a fazer o melhor que podemos e sabemos, para que tudo conduza a uma relação menos frustrante.

Volto a dizer que não é fácil. Mas, não podemos perder de vista que é possível, embora complicado. É que, se não foi possível, se perde de vista uma noção de Vida mais Construtiva e Feliz, dependendo muito da área em que estejamos situados, profissionalmente falando. E a nossa profissão — que é a da Comunicação Social —, inquestionavelmente uma das áreas mais relevantes que existem, porque mexe com milhares, senão de milhões de Leitores em todo o Mundo, que nos ouvem, que nos vêem e nos lêem diariamente. Talvez por isso mesmo sejamos considerados, há muito, o 4º Poder a nível Político e Social, em termos de Estatuto Mundial.

Há que honrar, pois esse Estatuto Digno que é o do Jornalismo Profissional, exercido com Verdade, Isenção, Pluralidade, Frontalidade, Objectividade, não Aproveitador em Benefício próprio, mas antes desenvolvido com a Consciência do Dever cumprido, acima de tudo, sempre ao serviço do País, dos Povos Desfavorecidos, dos «Sem Abrigo» e de todos aqueles que se encontrem no Limiar da Pobreza Confrangedora…

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