“Contem com o Clube do Chibuto já no Moçambola de 2023”

DESPORTO
  • Yunusso Valente Gopalgy, presidente dos guerreiros de Gaza, é categórico

Tem 56 anos de idade. É natural e residente em Chibuto. Está ligado ao clube desde a tenra idade, mas é nos últimos 12 anos que vamos nos focar. Yunusso Valente Gopalgy, ou simplesmente Ninito, que já foi porteiro e logístico do clube, é presidente do Clube de Chibuto desde 2020, quando substituiu Betuel Sanveca, numa eleição de candidato único, na qual foi eleito em unanimidade pela assembleia-geral ordinária, um ano depois de ver o clube de Chibuto relegado à segunda divisão. É filho da casa que muito bem conhece os cantos. Se inspira em Junaide Lalgy, como dirigente desportivo, e promete tudo fazer para que os guerreiros de Gaza possam voltar rapidamente ao convívio dos grandes e dá a garantia de que os moçambicanos devem contar com os azuis e brancos no Moçambola 2023. Nas entrelinhas da entrevista que se segue, Ninito diz que o seu jogador moçambicano de preferência é Domingues e tem no Johane o melhor jogador estrangeiro que uma vez jogou no Moçambola. Num outro desenvolvimento, critica o que chama clube-empresa, numa referência a clubes suportados por empresas públicas, e defende que o dinheiro devia ser canalizado para a FMF e LMF, que por sua vez iriam repartir com todos os clubes participantes da prova, para garantir maior competição.

Hassane Ibrahimo*

Para perceber melhor o projecto desportivo do Clube de Chibuto, conversamos, primeiro, com Yunusso Valente Gopalgy, ou simplesmente Ninito, para a tribo do futebol, como é carinhosamente tratado, que destaca nesta entrevista, no modelo clássico de pergunta e resposta, a sua maior ambição enquanto presidente desta colectividade, pouco reservado, mas fala do que poderá ter motivado a queda do Chibuto em 2019, e destaca a Formação como trunfo para o sucesso.

Qual foi o maior motivo para se candidatar à presidente do Clube? O que é que lhe veio à alma no momento em que assumiu as pastas?

Concorri para ser presidente desta colectividade para dar uma nova dinâmica, uma vez que, relegado do Moçambola, era preciso ter um presidente presente no distrito para que pudesse acompanhar o dia-a-dia do clube. Sucede, porém, que antes o clube era dirigido por pessoas nativas de Chibuto, mas que não residiam em Chibuto, a quem desde já vai o meu reconhecimento pelo trabalho feito e são pessoas que continuam ligadas ao clube. Contudo, tendo em conta que o clube iria participar do provincial, era necessário ter um presidente a residir em Chibuto.

Acredita que, de alguma forma, esta modalidade de gestão do clube à distância poderá ter contribuído negativamente para os resultados desportivos verificados no passado?

– Não quero falar do passado. Aliás, tenho até boas recordações. Há muita coisa que aconteceu e para já cabe a mim focar-se no presente e no futuro do clube – a nossa luta. A minha, em particular, é devolver o clube ao Moçambola, naturalmente, e com condições para se manter por muitos anos. Eu me lembro que no último elenco eu só fazia parte da Assembleia, não estava na Direcção, então, não posso falar de coisas que não tenho certeza… mas, no campo desportivo, o clube tinha capacidades de se manter, sucede que começou a faltar dinheiro e houve alguns atrasos de vencimentos.

Mas enfim, do passado, prefiro não falar, a verdade é que o Chibuto desceu de divisão, isso porque naquele ano foram cinco clubes a descer, e nós ficamos na 13ª posição, se não fosse essa nova regra, outra história se poderia escrever. Mas, hoje, o novo elenco está a trabalhar no clube e vamos resgatar a mística e recolocar o Chibuto no Moçambola para se manter por muitos anos.

“Vamos resgatar a mística e recolocar o Chibuto no Moçambola”

Tem condições para alcançar este objectivo?

Equipa nós temos, o clube de Chibuto não deixou de existir no panorama desportivo, como muitos aventavam, para o objectivo primário, que é vencer sem muitos sobressaltos o campeonato provincial nós temos, porém temos no horizonte que o nosso maior objectivo é o Moçambola, por isso vamos arregaçar as mangas e ir atrás de tudo que for necessário para disputar todas as provas.

Nós aprendemos muito com o Moçambola, tivemos uma grande lição e uma delas é que é preciso viver o dia-a-dia do clube e é crucial se fazer presente em todos os momentos, mas destacamos com toda sinceridade que trabalhar com a camada de formação tem sido uma mais-valia – graças a Deus, temos um Director Desportivo que já há anos trabalha nesta área – por isso, hoje, com a crise financeira que se abateu no clube, e agravada com a pandemia da COVID-19, é com estes jovens formados aqui que é feito o plantel.

Graças ao esforço abnegado do Director Desportivo, o senhor Abdul Azize, hoje estamos a competir no campeonato provincial com a prata da casa. Eu abracei também este projecto, focado em dar continuidade à formação, porque como se sabe, hoje em dia, ter dinheiro é muito difícil, então, potenciar estes miúdos chega a ser uma lufada de ar fresco às contas de clube, numa altura em que, praticamente não temos nenhuma fonte de rendimento.

Há garantia de que, com o plantel que têm, com esta filosofia, os objectivos desportivos vão ser alcançados?

Estamos a formar jogadores disputando para resultados maiores, e não há melhor casamento que este em que o mesmo jogador formado tem a oportunidade de vestir a camisola e se mostrar ao mundo de futebol. Pelo que temos visto até então, neste campeonato onde estamos inseridos, nós já ganhamos tudo que havia para ganhar, nomeadamente a supertaça provincial, o torneio de abertura e no campeonato estamos bem posicionados. Portanto, não há dúvidas que com este plantel vamos longe, e com a formação, que é o principal pilar do meu mandato, vamos longe – É com estes jogadores que contamos ganhar tudo e dar-lhes de presente a oportunidade de jogar no Moçambola. Futuramente, podemos fazer contratações de um e outro jogador preponderante, claro, havendo condições – e acreditamos que vão aparecer outros apoios, porque os resultados serão mais do que evidentes e muitos vão se associar. A nossa maior vontade é voltar à ribalta do futebol nacional o quanto antes, que fique claro, mas nestas condições de formar jogadores, para que possam ser alternativas do clube, quer por meio desportivo ou financeiro, com a venda destes maiores activos do clube.

E como sobrevive financeiramente o clube de Chibuto?

– A Covid-19 veio e arrasou com tudo, perdemos muitos parceiros e patrocinadores, basta lembrar que só estamos a trabalhar a sensivelmente cinco meses desde que fomos eleitos. Sobrevivemos graças aos nossos sócios, alguns parceiros locais e a receita da bilheteira que não chega a ser muito. Temos um projecto ambicioso, e voltamos a bater às portas de muitos patrocinadores que acenaram, em primeira instância, positivamente, mas nada garantido. Colocamos para arrendamento alguns activos do clube, como é o caso do edifício principal do clube. O investidor tem serviço de restauração, para além de garantir alguma fonte de rendimento do clube, ajuda na manutenção do mesmo, porque, como sabemos, isto já estava a virar uma ruína, uma vez que o clube não tinha capacidade para fazer a manutenção de alguns espaços.

Os resultados contam muito. No princípio, muitos até duvidavam que nós fossemos competir, mesmo no campeonato provincial, mas hoje, até notamos com satisfação o regresso do público e amantes da bola. Hoje, (referência ao jogo com Chilembene para a taça) até esteve melhor, há jogos que já fizemos com menos pessoas, mas, actualmente, já notamos uma tendência de as pessoas voltarem aos campos de futebol, é bonito. As pessoas ainda têm aquela ideia de que é caro pagar 100 meticais para assistir a um jogo de futebol, mas mal imaginam eles qual é o custo para manter um clube que não tem nenhuma fonte de rendimento. Ora vejamos, para um jogo em casa, por exemplo, há custo com a arbitragem, o policiamento, pessoal logístico e de apoio, penso que não colocariam em causa 100 meticais para ver um jogo de futebol.

O director Desportivo do Clube trata daquela relva como se estivesse a cuidar da sua casa, dá e faz de tudo para poder manter aquele relvado que hoje é dito por muitos ser o melhor da província, e olha que há muitos clubes de Moçambola que não têm um campo igual ao nosso, Dentro em breve vamos iniciar com alguns trabalhos para recuperar a imagem do clube.

Devolver o Chibuto ao Moçambola e nunca mais sair de lá

Numa visão futurista, como é que antevê ou projecta o Clube do Chibuto, até ao fim do seu mandato? O que gostaria de deixar como legado enquanto presidente deste clube?

Devolver o Clube de Chibuto ao Moçambola – e que seja um clube assíduo e permanente desta liga.

Há algo que mais lhe motiva a ser presidente do clube de Chibuto? Ou há algo mais que lhe desafia ao abraçar esta causa desportiva?

– Quero que a minha marca – minha passagem por este clube seja lembrada com a Formação, porque vou, juntamente com o DD, envidar esforços para que este projecto não pare, e um dia venha a dar resultados financeiros ao clube. Acima de tudo, é ver estes jogadores formados no clube a representarem a selecção nacional ou vinculados a um grande clube nacional, ou mesmo exportado para o exterior, porque não – isto sim me desafia e me tira sono, por isso, enquanto houver forças, vamos formar novos talentos.

Sr. presidente, tem alguma figura na qual se inspira? Como vê o futebol nacional e qual é o seu clube de coração?

Para mim, é o presidente e patrono da Associação Black Bulls. Me surpreendo com o que ele tem feito e nos inspira. Estou a aprender com ele, é um filho da casa, que daqui, igualmente, bebeu muito sobre o dirigismo desportivo, e hoje é vice-versa. Também está a apostar na formação, então é um casamento perfeito. Eu elejo, sem pestanejar, o Sr. Junaid Lalgy como o melhor dirigente desportivo, não pelas relações de amizade que mantemos, não por ser um filho nativo de Chibuto, mas pelo que ele vem fazendo no desporto moçambicano, e isso é visível.

Hoje, em todo país não temos um estádio nacional com relvado em condições, e ele consegue ter quatro. O desporto nacional conheceu um momento muito bom, está a mudar, há crescimento, mas, lá está… há muitas diferenças entre clubes nacionais – isto por conta daquilo que se chama de clube-empresa – por exemplo. É difícil você competir com um UDS que tem quase tudo, muito por conta do erário público que é drenado.

Na minha opinião, esse dinheiro que patrocina certos clubes, vindo de empresas públicas, devia se canalizar a FMF ou LMF, que por sua vez iria repartir com todos os clubes participantes da prova. Isto seria justiça e garantia maior competição. Por mais vontade que tu tenhas, não é possível competir com um clube com orçamentos astronómicos e outros na miséria. Isso mina o futebol moçambicano, por que as grandes equipas são essas que estão atreladas a grandes empresas públicas. Por exemplo, veja o que está a acontecer com o Desportivo Maputo e o Maxaquene – não porque os dirigentes não tinham capacidade para manter, é que sem dinheiro você não faz nada – quando a LAM abandonou o Maxaquene, viu-se no que deu, idem ao Desportivo.

“Nesta eliminatória ao CAN estamos bem embalados e vamos quebrar o jejum”

P: Tem um clube de preferência, tirando o seu clube de Chibuto?

– Eu sou do Maxaquene, desde tenra idade. Lamento que esteja na posição em que está. Maxaquene é um clube histórico deste país, sinto pena.

Há algum jogador que admira – Moçambicano ou que tenha actuado em Moçambique?

Estrangeiro é Johane – marcou-nos muito, e é uma referência neste clube de Chibuto. Deixou história aqui, na verdade, sempre que se lembrar do Chibuto no Moçambola, o seu nome vai estar sempre associado. Ele agora está de regresso ao Burundi, onde está a jogar numa equipa local. Quanto ao jogador moçambicano – mesmo não estando a actuar no Moçambola, para mim, é o Domingues, sempre foi o puto maravilha.

Na sua perspectiva, e pelo conhecimento que tem do futebol, como é que olha para a nossa selecção nacional?

Melhorou muito, temos visto que há muitos jogadores moçambicanos a actuarem fora do país, e nas principais ligas do mundo, e estes quando regressam ao país emprestam outra dinâmica e qualidade. A quantos anos é que Moçambique ficou sem um jogador a jogar, por exemplo, na Espanha, hoje temos e é uma referência. Isto é fruto de melhorias no nosso futebol nacional. Nesta eliminatória ao CAN estamos bem embalados, e sinto que pode ser desta que quebramos o jejum de 12 anos sem marcar presença numa fase final.

Contra todas as expectativas, optaram por manter a equipa técnica…

A ideia de manter o treinador Nunes Chaúque é, sem dúvidas, por ser alguém comprometido com a causa, e conhece muito bem os cantos da casa e boa parte dos jogadores que estão no clube. Portanto, ele é a pessoa certa para conduzir os destinos do clube neste momento, até porque já tem larga experiência, basta lembrar que trabalhou com quase todos os técnicos que passaram pelo clube nos sete anos de Moçambola, além de ter sido um dos melhores jogadores do clube, naquele tempo. Confio nele, estamos aqui para apoiá-lo, dentro das nossas possibilidades, em tudo que for necessário. A ele, pedimos que massificasse a formação, ao mesmo tempo em que cria uma equipa capaz de competir com qualidade, nas diversas provas em que estivermos inseridos.

A passagem dos treinadores de renome pelo clube mostra que somos grandes e apetecíveis. Que há projectos desportivos sérios, e neste momento sentimos que o nosso treinador actualmente pode ter sido o maior beneficiário deste intercâmbio, uma vez que teve a oportunidade de aprender com os melhores, fazendo. Há uma particularidade muito interessante: Toda a equipa técnica actualmente foi jogador do clube.

Recorde-se, o clube de Chibuto, que ascendeu ao Moçambola em 2012, pela mão do então presidente Cossa, esteve presente na roda do futebol nacional durante 7 épocas consecutivas. Veio a descer em 2019, já na era do Betuel Saveca e na mão do treinador Abdul Omar, o primeiro treinador desta coletividade. Realizou 224 jogos, onde venceu 84, empatou 67 e perdeu 73 jogos. Já foi finalista vencendo a Taça de Moçambique, no dramático jogo frente ao Ferroviário da Beira, no Zimpeto, onde perdeu por duas bolas a zero.

Em 2020, o clube não esteve inserido em nenhuma próxima, devido a pandemia, e já em 2022 se escreve uma nova página, na história deste histórico clube da província de Gaza, fundado em 29/09/1949.

Facebook Comments