Uma questão chamada desemprego: De quem será a responsabilidade?

OPINIÃO

Afonso Almeida Brandão

Neste Mundo de números, estatísticas, índices, indicadores, tabelas, gráficos e barómetros, que são úteis, importantes e mesmo indispensáveis, mas não devem esgotar a nossa percepção da realidade, muitas vezes não nos apercebemos com clareza o que esses números e indicadores significam para as pessoas que neles são “contadas”. Assim, por exemplo, quando lemos nos jornais que o índice de desemprego em Moçambique não pára de subir, sabemos que é uma coisa péssima, sem, contudo, realizarmos sempre o que isso representa de gravíssimo para cada vez maior número de pessoas e famílias, pondo em causa a própria coesão social.

De facto, num tempo em que as formas tradicionais de Solidariedade existem cada vez em menor grau, ficar desempregado, além do profundíssimo trauma psicológico que provoca, significa, quase sempre, ser expulso do Mundo da Dignidade mínima a que qualquer cidadão tem direito. Significa deixar de poder suportar os muitos encargos a que, na Vida de hoje, toda a Gente tem de fazer face: a prestação da casa e do carro (quando existem), as despesas com a educação dos filhos e o pagamento de serviços e bens, a gasolina, o telefone, a água, a luz e o gás ou a conta do hipermercado (ou da mercearia). Acresce que, em muitos casos, o desemprego atinge, numa família, o Marido e a Mulher. Se juntarmos ainda a este quadro negro o facto inaceitável de que há atrasos de vários meses nos pagamentos de vencimento de algumas Empresas ou em Estabelecimentos Comerciais, e nos pagamentos do Subísidio de Desemprego — o que no caso concreto do nosso Pais não se coloca, porque não temos (ainda!) o «subsídio de desemprego» entre nós —, realizamos, enfim, a tragédia, tantas vezes ocultas, que muitos dos nossos concidadãos nacionais estão a viver.

Sobretudo quando essa tragédia ocorre numa altura em que o custo de vida aumentou disparadamente entre a população e o dinheiro é cada vez mais “uma miragem no horizonte”, adiada e sofrida por todos…

Dir-me-ão que é um pouco assim em todo o lado e que o aumento do desemprego é um efeito inevitável da crise e das medidas para lhe fazer frente. Não é verdade que seja tal e qual assim. Em primeiro lugar, porque ainda é possível ter prioridades e controlos na definição das políticas financeiras e económicas. A verdade é que a actual política económico-financeira decretadas pelo nosso Governo — como oportunamente salienta, “nas entrelinhas”, o nosso Prezado Colaborador, Prof. Dr. Teodósio Camilo, nas suas regulares crónicas de opinião, no Jornal EVIDÊNCIAS — é que esta(s) política(s) “dita(s)” económico-financeira(s) esteve e “está-se nas tintas” para os danos colaterais que provoca.

Em segundo lugar, é nos momentos de crise, os quais, repito, se tornam momentos de desgraça para muitas pessoas em concreto, que os serviços públicos devem dar resposta eficaz às situações. Pois entre nós é tudo precisamente ao contrário que se passa, em abono da sinceridade, doa a quem doer. É nestes momentos que começa tudo a “rebentar pelas costuras” e que os piores vícios da nossa Administração vêm ao de cima, escandalosamente: a burocracia cega, estúpida, cabotina e inútil, a incompetência dos sucessivos Ministros das Finanças que temos tido (e não só!), tantas vezes agravada pela insensibilidade, total falta de respeito pelas pessoas e pelos seus Direitos, a ausência de uma noção activa de serviço à Comunidade. É nestes momentos em que, por força das circunstâncias, a ROTINA é quebrada, que aparece o pior rosto do nosso Estado (aqui representado pela FRELIMO, que é o Partido Político que nos governa há 47 anos) e de todos aqueles que o representam: um rosto maldisposto e malcriado, desnorteado e incapaz, arrogante e burocrata, mesmo quando a Burocracia se disfarça com “a Máscara da Tecnocracia de Aviário”, para não acrescentar o facto de existirem nas “suas fileiras” uns tantos responsáveis que mais não têm feito outra coisa do que desviar/roubar os cofres do Estado e as ajudas financeiras que nos chegam dos Doadores Internacionais. Por essas e por outras temos aí à vista a vergonhosa Dívida Oculta

Já sabemos que situações, como as que vivemos — agora agravadas Mundialmente pela Guerra da Rússia contra a Ucrânia —, não são fáceis para ninguém. Mas temos o Direito de Exigir que os Governantes e os Ministérios e Direcções que dirigem respondam muito melhor aos problemas. Não são promessas vagas, ou os “slogans”  vazios, como aquele que diz que o pior já passou, que contribuem para facilitar a Vida àqueles que perderam a única fonte que tinham de rendimento.

Vivemos numa Sociedade Dualista, que cada vez mais se aproxima dos Modelos do Terceiro Mundo — e Moçambique não quer (continuar) a fazer parte deste “terceiro mundo”, não é verdade…?! De um lado, estão aqueles para quem NUNCA HÁ CRISE. Esses têm sempre dinheiro para comprar tudo o que querem (o consumo de todos os produtos e serviços de luxo é o que menos cai). Do outro lado, estão aqueles para quem a crise representa não apenas o fim do sonho de uma vida minimamente decente, mas representa a Miséria, a Humilhação, o Desespero. Nascem, então, entre nós, por toda a cidade e um pouco por todo o País, os denominados “dumbanengues” e as actividades paralelas menos legítimas ligadas a ela…

É esta a Sociedade que queremos em Moçambique?

De quem é, efectivamente, a responsabilidade de tudo isto?!

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