“Estou satisfeito com o plantel que tenho e há condições para vencer” – diz mister Cachela

DESPORTO
  • Treinador do Chibuto diz que o único desafio que tem no campeonato são os campos
  •   “Vamos com tudo e mais alguma coisa para colocar o Chibuto no Moçambola”
  •     “Admiro e me inspiro em Artur Semedo”

Na sequência da entrevista aos gestores do Clube de Chibuto, cuja primeira parte publicamos na nossa última edição, descemos ao relvado e fomos conversar com o mister Cachela. Franzino e de corpo pequeno, Nunes Chaúque, de 47 anos de idade, entra para história do clube de Chibuto em 1995 como jogador, tendo feito toda a sua carreira feita ao serviço dos Guerreiros de Gaza. Hoje, é um homem realizado e sente que está a retribuir por todo investimento feito. É um dos principais obreiros do grande feito alcançado em 2012 por este clube, quando pela primeira vez ascendeu a prova máxima do futebol moçambicano. É treinador de futebol desde 2008 e a sua paixão sempre foi trabalhar na camada de formação. Na entrevista que se segue, conta que sonha em treinar um clube grande e histórico de Moçambique, a exemplo do Ferroviário de Maputo, da Beira, o Costa do Sol ou a UDS.

Hassane Ibraimo*

Está a treinar uma equipa praticamente composta por jovens vindos da formação. É possível fazer omelete sem ovos? Por outras, o sonho de regressar ao Moçambola é realístico? O que lhe foi pedido?

– Formar para competir e desde o início ficou claro que é com a prata de casa que devia trabalhar. O plantel é composto maioritariamente por jogadores locais, recrutados localmente nos diversos campeonatos recreativos, e outros, vem do escalão júnior, formados no clube e que durante os anos passados estiveram a disputar o campeonato desta categoria. Do Moçambola, restaram apenas dois. Para esta temporada, inicialmente, trabalhei com 45 miúdos, tecnicamente muito bons, e foi complicado seleccionar os 23 que hoje compõem o plantel. É com estes jogadores que fizemos o torneio de abertura e vencemos; disputamos a supertaça provincial e vencemos: no Campeonato Provincial já fizemos duas jornadas e vencemos todos jogos. Começamos as eliminatórias da Taça de Moçambique e, igualmente, vencemos os jogos disputados e estamos à porta de uma semifinal provincial. Portanto, claramente que a avaliação feita por agora é de satisfação e de confiança. Muitos dos jogadores com quem trabalhamos foram por mim indicados, porque já os conhecia de outras paragens, mas em grande medida tem o dedo do Director Desportivo, que muito bem os conhece e os aproximou ao clube. Sinceramente, estou satisfeito com o plantel que tenho e com o trabalho dia-a-dia, sinto que temos talento para o objectivo pretendido. Vencer o Provincial e ir a Poule – Chegados aqui, não tenham dúvidas, vamos com tudo e mais alguma coisa para colocar o Chibuto no Moçambola.

Sentem que têm a estrutura necessária para alcançar estes objectivos?

– As condições técnicas e materiais existem, embora não seja ao nível do Moçambola, mas existem todas as condições para fazer um campeonato provincial tranquilamente e desenhar o regresso do clube ao Moçambola. O mais importante é que há um ambiente favorável no seio da Direcção do Clube, quer moralmente, uma vez que participam activamente na vida do clube, e em cada jogo sempre se fazem presentes. Aliás, a ideia de ter um presidente a viver na cidade nos aproxima cada vez mais. Não posso me queixar de nada. Todas as condições estão criadas. Não é o ideal, mas é o possível face à crise, e estamos na nova era do clube – nova Direcção, novo campeonato e os resultados vão provar isso. Trabalhamos satisfeitos com o que temos, mas sabemos que os nossos resultados desportivos podem atrair mais e melhores condições para ambos, quer para o jogador, quer para o clube. Há muitos jogadores que saíram do anonimato para os grandes clubes, jogando no provincial, vestindo a camisola, por vezes, sem ganhar quase nada, por isso a ambição deve estar lá sempre.

E como está o nível anímico?

– Estes jogadores têm uma motivação super-extraordinária, que até a mim como treinador me surpreende, portanto, tenho sempre transmitido a eles que estão na montra, esta é uma oportunidade que se tem para mostrar ao mundo do futebol e daqui pensar em dar altos voos na carreira de futebol. Os resultados são promissores, e não tenham dúvidas que vamos ainda alcançar voos maiores ao longo da presente época desportiva, de certeza, vai despertar a curiosidade de muitos e relançar o Chibuto na rota do futebol. Há clubes e empresários que estarão atentos e de olho nestas boas exibições.

“O campeonato provincial de Gaza está a um nível abaixo do Clube do Chibuto”

Então, sente-se realizado ou há algo mais que podemos esperar?

– Tenho um plano desportivo pessoal e a direcção vai me apoiar. Quero testar e dar outra dinâmica e oportunidades a estes miúdos. Jogar com Chilembene, por exemplo, com todo o fair play, não é a mesma coisa que defrontar um Costa do Sol ou ABB. Por isso, quero dar mais rodagem e testar esta equipa com os grandes de Moçambola quando houver alguma paragem, isto vai nos ajudar a limar as arestas e percebermos, de facto, em que nível estamos, o que precisamos fazer mais para tornar estes jogadores mais entrosados. No início da época fizemos alguns jogos, é verdade, com a equipa B do ABB, e deu-nos outro alento e sentimos que é uma boa prática, quer em termos desportivos quanto em termos motivacionais. Todo jogador quer e gosta de se testar com outro, aparentemente superior a si, não que com isso queira dizer que os do campeonato provincial não estejam ao nível.

Está a querer dizer que o Chibuto não está, neste momento, a disputar com “equipas do seu campeonato”, como se costuma dizer?

–  Olha, sinto um grau de dificuldade acrescido quando jogo com um Ferroviário de Gaza ou Clube de Gaza, mas é nos clubes de Moçambola que queremos nos testar. Sem tirar o mérito, o campeonato provincial de Gaza está a um nível abaixo do Clube do Chibuto, muito por conta do desnível das equipas que lá estão, as condições desportivas e infra-estruturais que os clubes têm. Veja só, por exemplo, eu treino a equipa no campo relvado, de segunda à sexta, para no final de semana ir jogar num campo pelado, arenoso e, por vezes, sem as dimensões adequadas e com todos os riscos que daí podem advir para a lesão e desenvolvimento do próprio atleta, mas o que fazer, é esta a realidade do futebol moçambicano, e o problema de infra-estruturas desportivas não é só de Gaza, é o que se assiste um pouco por todo o país. O maior desafio do clube de Chibuto, neste campeonato, são os campos de futebol onde jogamos. Com toda a humildade e respeito aos nossos adversários, mas em muitos destes campos onde jogamos, apenas ficamos felizes por ganhar o jogo, embora sinto que a minha equipa não produz absolutamente nada, nada mesmo, e depois temos que lutar para recuperar estes jogadores.

P: Para um treinador que já esteve no Moçambola, será um retrocesso voltar a treinar no provincial?

Eu saí do provincial, subi ao Moçambola e voltei ao provincial com o clube que me lançou à ribalta do futebol, basta lembrar que fui também jogador deste clube por muitos anos, portanto, para mim, é um processo super natural de crescimento. Embora não tenha recebido nenhum convite para algum clube, sinto que aqui estou bem, até porque tem sido uma escola para mim. Como treinador, claro, profissionalmente sou muito ambicioso. Quero crescer, ir mais além, treinar grandes equipas de Moçambique, mas há que respeitar processos. Os frutos irão chegar.

“Admiro e inspiro-me no Artur Semedo”

Em quem, no mundo do futebol, o mister Cachela se inspira, busca forças para pensar no futebol?

– Primeiro, admiro e me inspiro em Artur Semedo. Almejo chegar a um patamar igual a do Semedo. Tive a oportunidade de trabalhar com ele e, na verdade, para mim, foi uma escola daquelas que tu pagas para aprender – “eu tive de graça”. É um sonho realizado trabalhar ao lado de um ídolo, que até hoje mantenho boas relações e é a minha fonte de consulta neste mundo do futebol, é mentor e uma referência para mim – não porque trabalhou comigo, claro, com devida palavra de apreço a tantos outros treinadores com quem trabalhei, mas foi no Semedo que aprendi mais, e me senti mais à vontade para dialogar e trabalhar. Abria espaço para que eu pudesse opinar, quer antes, durante e depois dos jogos. Para mim, Semedo é claramente o melhor treinador que Moçambique tem.

Em segundo, há a destacar que, na rotina do dia-a-dia, busco a motivação para trabalhar, sinceramente, na minha equipa técnica – é neles que busco forças, particularmente no meu treinador de guarda-redes, o Eustásio Chavane. É curioso, mas é nele que busco a força, quer para vida desportiva quanto para a vida social. A relação entre nós chega a transcender as quatro linhas de um jogo. É um irmão para mim, é mais novo que eu, é verdade, mas muito grande em pensamentos e ideias

Até onde vai o Sonho do Mister Cachela no futebol?                                                                 

Estar ligado ao futebol já é, por si, um sonho alcançado. Treinar o clube de Chibuto, clube que me formou enquanto jogador, outro, mas, é num clube grande e histórico de Moçambique que me vejo a treinar, por exemplo, o Ferroviário de Maputo, da Beira, o Costa do Sol ou a UDS. Admiro e aprecio bastante o excelente trabalho que é feito pela ABB, um clube com menos de cinco anos de existência e já venceu quase tudo, e mais, o investimento que fez para alavancar o desporto nacional, é algo extraordinário, jamais visto, mesmo nos ditos grandes clubes de Moçambique.

O Senhor Junaide Lalgy veio ao futebol e impôs uma nova ordem, mostrou que é possível tornar o futebol em Moçambique mais apetecível e um produto para vender, há que tirar chapéu a este grande senhor.

A história por detrás da alcunha Cachela

Qual é o seu Clube de coração?

É sem dúvidas o Maxaquene. Ainda miúdo, sempre apoiei o Maxaquene, conheci o futebol com o Maxaquene e é neste amor pelo clube que conheci grandes jogadores, um dos quais o Cachela, que tem as características iguais as minhas – que acabou sendo meu ídolo, vai daí que muitos hoje me conhecem como Cachela, o nome que carreguei durante toda a minha carreira enquanto jogador, e agora carrego o mesmo nome como treinador.

O que dizer aos adeptos, os aficionados pelo futebol, mister Cachela?

– O clube de Chibuto existe, não morreu com a descida de divisão, e estamos a trabalhar a sério, que o regresso ao Moçambola é só uma questão de tempo. Todos nós devemos estar envolvidos neste projecto de regresso ao Moçambola. Acreditem em nós, venham ao campo ver de perto o trabalho que é feito, apoiem, critiquem quando for necessário, mas não nos abandonem.

O clube é feito dos adeptos, e existe porque vocês existem. A massa associativa do Chibuto, quer os residentes na cidade ou fora, que são muitos, que acreditem no projecto do clube, que acreditem em nós, nos apoiem, que nós, deste lado vamos dar tudo, mais alguma coisa para no campo ganhar e devolver a alegria a este povo ferrenho, amante do desporto e hoje lembrado com saudades nos muitos campos do Moçambola.

A taça de Moçambique qualquer clube pode ganhar, é mais fácil, porque são jogos a eliminar, e é possível ter um clube da terceira divisão. Tenham certeza que vamos dar tudo, e, se dormirem, o Chibuto vai ganhar a taça de moçambique, porque estamos a trabalhar a sério,

*Colaboração

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